Especialista reflete sobre a possibilidade de tropicalização dos conceitos apresentados na maior feira de varejo do mundo
O maior evento de varejo do mundo acabou, mas o que se viu em Nova York na última semana vai reverberar durante muito tempo no setor. A NRF 2023 trouxe alguns pontos importantes de análise – de um lado, os consumidores estão mais angustiados devido à inflação que vem ocorrendo no mundo inteiro, e que acaba por reduzir o poder de compra da população. Por outro lado, esse pode ser um ponto-chave para os varejistas: promoções, serviços para cada tipo de perfil e experiência do cliente na loja são determinantes em momentos como esse.
Ainda que estejamos cercados por tecnologia em um ambiente cada vez mais digital, o toque humanizado tem se mostrado imprescindível: atendimento feito por pessoas e não por robôs, produtos personalizados e “experiências digitais reais” – o metaverso por exemplo, é mais aceito quando há avatares e o consumidor entra no mundo digital ao visitar a própria loja, do que quando o cliente está sozinho em casa usando a internet.
Outro fator importante que estamos encarando no mundo inteiro são as mudanças cada vez mais rápidas – as preferências por determinados produtos e pelos locais de compra estão sendo afetadas pelas redes sociais e pelos influenciadores: a geração Z usa mais o TikTok do que o Google. “Isso pode ser um problema para a cadeia de suprimentos, pois fica mais difícil acertar na quantidade de estoque para cada produto. Para encarar esse desafio, é necessário agilidade na reposição e liquidar aquilo que não está girando”, afirma Ariane Carolina Bete, Head Comercial da DM.
Saúde e preocupação com o meio ambiente
Na feira, alguns painéis mostraram que o público quer ser mais saudável – um reflexo da própria pandemia, que trouxe uma necessidade de olhar com mais carinho para o próprio corpo. Assim, 75% querem ter mais saúde, estão cozinhando mais, usando produtos locais, veganos e sem glúten. Nesse mesmo sentido, outra tendência é a economia circular: algumas lojas já estão colocando em suas prateleiras produtos usados para serem reutilizados, por um preço mais em conta do que um novo.
Além de pesar menos no bolso do consumidor final, a ideia vai de encontro com as três siglas que estão ganhando o mundo: ESG, que propõe uma melhor governança ambiental, social e corporativa. “Aqui, a autenticidade e responsabilidade com o entorno da comunidade também ganha relevância: o relacionamento com as marcas que apoiam e atuam para melhorar a sociedade é maior”, pondera a executiva.
Cada negócio é único
Ela complementa dizendo: “Claro que, para aplicar o que está dando certo lá fora por aqui, temos que pensar nas particularidades de cada negócio – ainda mais em um país de dimensões continentais como é o caso do Brasil. Por isso, antes de fazer qualquer investimento em uma tecnologia ou tendência, fale muito com seus clientes, pergunte se o básico está bem-feito, quem são seus verdadeiros concorrentes, como sua loja pode melhorar”.
Existem, por exemplo, casos de lojas que investiram no self check-out na hora da compra e meses depois tiveram que voltar atrás, a pedido dos seus próprios clientes.
Conhecer seu público é fundamental antes de fazer qualquer tipo de mudança e o Big Data torna-se um grande aliado para conseguir insights importantes para o melhor desempenho do negócio e na tomada de decisões. Seja com uma pequena equipe formada pelos próprios colaboradores ou a partir da contratação de uma agência, ouvir o que o consumidor tem a dizer continua sendo a melhor estratégia.