Por Giseli Cabrini
Mais uma vez, a reportagem de SuperHiper traz histórias de mulheres que ocupam espaços antes exclusivos dos homens ou com maior presença masculina, como a seção de açougue e a área de Tecnologia da Informação (TI). Isadora Reiznaut é açougueira do grupo Asun, na unidade Pontal, em Porto Alegre (RS). Já Ana Paula Regis do Santos é head de TI da Coop. Confira, a seguir, as trajetórias dessas profissionais afiadas na busca por aperfeiçoamento constante e na otimização de resultados para as empresas nas quais trabalham.
A conexão de Isadora com o universo das carnes começou antes de sua estreia no varejo. “Eu já havia trabalhado no ramo alimentar num frigorífico, nas áreas de desossa e embalagem, e vi a vaga de auxiliar de açougue e me interessei. O que me atraiu foi a oportunidade de crescimento e fazer parte de uma atividade dinâmica, como é a varejista. Busco me aprimorar constantemente. Fiz vários cursos, fui me especializando e isso me levou para outros níveis na área.”
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E acrescenta. “Como o Asun tem um programa de trainee voltado a cargos, como encarregado e gerência, eu me inscrevi. Futuramente, quero ocupar a função de encarregada de açougue.” Outra meta é iniciar a faculdade ainda neste ano.

Açougueira do grupo Asun, Isadora Reiznaut. Foto: Grupo Asun
Única mulher do seu turno atual, que inclui quatro funcionários, a rotina de Isadora começa às 13:30 e vai até as 22:30. “A gente nunca fica parado. Faço muitas coisas: recebimento, desossa e atendimento ao público. E a parte de cortes e isso inclui tipos que não são brasileiros, como chorizo e prime rib. No começo, eu achava desafiador, mas atualmente já domino as técnicas. O que eu vejo como um ponto de aprimoramento é lidar com o público. Agradar a todos nem sempre é fácil, porém enxergo isso como uma oportunidade.”
Isadora destaca que a função de açougueira requer atenção e, principalmente, o uso de equipamentos de proteção individual (EPIs), especialmente por se tratar de um ambiente que envolve baixas temperaturas e uso de equipamentos de corte. Contudo, ela disse que nunca sentiu preconceito. Ao contrário, sempre teve o apoio dos colegas. Na avaliação dela, dentro do Asun, há um bom equilíbrio em relação à questão de gênero. Para quem deseja começar na área o recado dela é não se abater pelo preconceito, se concentrar no próprio desenvolvimento e buscar novas experiências e conhecimentos.
“Eu comecei na área por meio de um curso técnico em Processamento de Dados num momento em que a área de Ciências Exatas, com vários cursos novos em tecnologia, estava em plena expansão no mercado de trabalho e com muita possibilidade de começar a trabalhar já durante a faculdade”, relembra Ana Paula, da Coop. E complementa. “Não sou uma pessoa que costuma colocar o foco no preconceito ou dar atenção para isso porque trabalho minha autoconfiança e minha curiosidade para ir aonde eu quiser. Apesar de estar inserida, ainda, em um mercado majoritariamente masculino, sempre consegui buscar meus espaços com muita capacitação técnica e autoconhecimento.”

Head de TI da Coop, Ana Paula Regis do Santos. Foto: Divulgação/Arquivo Pessoal
Com passagens anteriores pelo Grupo Carrefour Brasil, incluindo a bandeira Atacadão, e com experiência em Tecnologias para o Varejo, Ana Paula começou na Coop em outubro do ano passado. E, assim, uniu sua experiência em diversas competências de tecnologia, digitalização de negócios físicos e on-line.
Sobre as principais conquistas ao longo da carreira, ela destaca conseguir formar equipes de alta performance, promover desenvolvimento de carreira, aprender e contribuir muito para os negócios utilizando novos produtos digitais, bem como para a construção de áreas de tecnologia mais participantes do negócio. Sobre sonhos que ainda deseja realizar, Ana Paula quer estar à frente de uma posição executiva que agregue duas áreas: tecnologia e negócios.
Em relação à presença feminina no varejo, ela pondera que a grande maioria dos cargos executivos, não só o do alimentar, é composta por homens. “Acredito que, para eles, enxergar e reconhecer uma mulher como par na área de tecnologia ainda é ‘estranho’. Com o tempo de convivência, eles acabam se acostumando e confiando no trabalho.”
A fim de driblar isso e ampliar a participação feminina, segundo Ana Paula, um dos caminhos está na formação de novos entrantes. “Eu já vi grandes redes trabalharem na capacitação dos cargos de entrada nas áreas (estagiários, trainees, júniores, etc.). Portanto, se houver programas estruturados para formação desses perfis nas áreas onde mulheres ainda são minoria, elas terão mais oportunidades e liberdade de atuação.”
Para quem deseja começar, aqui vai o recado dela: “coloque o foco na sua capacitação técnica, autoconhecimento, postura profissional e posicionamento executivo.”