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Vem aí o plant-based em pó

De Administrador SH
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Grandes indústrias e foodtechs têm desenvolvido alimentos com a nova tecnologia para os veganos, flexitarianos e aos que querem reduzir o consumo de carne

 Os hambúrgueres veganos, que já são sucesso no mercado plant-based (à base de plantas) por meio de marcas como Fazenda Futuro, The New, NotCo, Wessel (Meta Foods), Veg & Tal (Sadia) e Incrível (Seara), ganharam agora novas versões em pó e em grãos. Essa é a proposta de empresas como Custom Culinary, WVegan e My Fast Bland, que lançaram misturas secas para o preparo de carnes à base de proteínas vegetais, como a ervilha.

Os produtos foram apresentados ao público na última semana durante a 1ª Feira de Alimentos Plant-Based do Brasil e a Naturaltech, ambos os eventos realizados na capital paulista. A novidade tem como objetivo atender a uma demanda dos flexitarianos, ou seja, aquele consumidor que não é vegetariano nem vegano (que também são público-alvo), mas busca diminuir o consumo de carne no dia a dia por questões como sustentabilidade, direito dos animais e saudabilidade.

Carne vegetal foi a maneira que o mercado encontrou para classificar produtos feitos com proteínas vegetais, mas com aparência, aroma e sabor análogos ao produto de origem animal. Um hambúrguer de frango, por exemplo, parece frango, mas não leva esse ingrediente de verdade.

Esse mercado expandiu cerca de 70% entre 2015 e 2020, movimentando em torno de US$ 83 milhões no ano passado, segundo a Euromonitor International. As perspectivas continuam sendo de crescimento daqui para a frente, com mais brasileiros buscando alternativas vegetais. Segundo pesquisa de 2020 do The Good Food Institute (GFI), 50% dos brasileiros disseram ter reduzido o consumo de carne animal – em 2018, eram 29%.

De acordo com o Alberto Gonçalves, sócio da AGN, consultoria especializada no mercado plant based, a carne em pó ou em grãos tem vantagens em relação aos alimentos já convencionalmente vendidos do setor. “O Brasil tem uma cadeia logística de congelados que ainda é ineficiente e isso faz com que uma das principais demandas do consumidor flexitariano, que é a conveniência, não seja atendida”, explica.

Na visão do especialista, o produto em pó é uma solução interessante que pode democratizar o acesso e o consumo. “Por não ser congelado, pode alcançar mais pontos de venda no País. Além disso, seu preparo é fácil.”

A receita do hambúrguer da Custom Culinary é simples: basta juntar à mistura que vem dentro da embalagem um pouco de água gelada e óleo para formar uma carne ou frango vegetal à base de ervilha. De acordo com Gerson Botelho, diretor de marketing da GL Foods, proprietária da marca no Brasil, a ideia é disponibilizar aos clientes um produto customizável, prático para fazer e transportar.

“Encontramos uma oportunidade nesse mundo de plant based. Desenvolvemos uma base seca, que pode ser moldada em formatos variados, como hambúrguer, almôndega e outros tipos de carne, oferece sabor e textura semelhantes aos produtos de origem animal e ainda conta com uma lista pequena de ingredientes”, afirma o executivo.

Custo de produção inferior

A empresa tem fábrica em Jundiaí, no interior de São Paulo, onde são produzidas as misturas em pó que, além de veganas, são GMO Free (livre de organismos geneticamente modificados) e não contam com aroma, corante, sal e ingredientes alergênicos nas fórmulas.

“Diferentemente da agropecuária, a produção requer menos água e emite quantidade inferior de gases do efeito estufa. Por não ser congelado, o custo de produção e logística também é menor e o alimento consegue ter uma validade estendida”, destaca Botelho.

Para a idealização dos produtos, mais do que tecnologia, foi necessária expertise da área de pesquisa e desenvolvimento da empresa para o balanceamento de matérias-primas. “A parte industrial é basicamente uma mistura de ingredientes secos que, na combinação e na quantidade que escolhemos, oferece esse tipo de formato em pó. Buscamos desenvolver um produto que tenha uma mordida que o consumidor brasileiro valoriza.”

O hambúrguer e o frango em pó da Custom Culinary atualmente são vendidos via e-commerce para todo o Brasil e em lojas de produtos naturais. Uma embalagem com 58 gramas, que rende duas porções de 100 gramas de proteínas, é vendida a R$ 28. A empresa está em fase de negociações com grandes hipermercados, além de restaurantes e lanchonetes.

Facilidade de armazenamento e transporte

Especializada em produtos plant based, a brasileira WVegan também aposta na novidade. A empresa, com sede em Indaiatuba, no interior de São Paulo, lançou na última semana o hambúrguer de carne à base de proteína de ervilha. Em breve, também chegará ao mercado o produto nos sabores frango e peixe.

“Eu e minha esposa não comemos carne, gostamos de fazer viagens de aventura e não encontrávamos opções para comer”, lembra Alan Navarro, fundador da companhia ao lado de Fernanda Baffa. “Entendemos que é uma necessidade de mercado, porque é um produto de transporte seco, que facilita muito também para os lojistas.”

Os hambúrgueres vêm para incrementar o portfólio do que a empresa chama de smart foods (comidas inteligentes), cujo preparo requer apenas água para se obter um alimento pronto para consumo. Nesse modelo, a WVegan ainda oferece queijo, gelatina, requeijão, manteiga, curau, leite em pó e pão de queijo. Em breve, ainda serão lançadas misturas em pó vegano para bolo, homus e iogurte.

Cada embalagem de hambúrguer rende duas porções e o custo varia de R$ 19 a R$ 22. É possível adquiri-la via e-commerce da marca e em mercados do nicho em São Paulo. Além da proteína de ervilha, a mistura em pó leva condimentos, como cebola em flocos, farinha de arroz, alho moído, beterraba e extrato de cacau.

“Investimos 11 meses na busca de fornecedores, matéria-prima e tecnologia diferenciada para deixar o produto bem granulado e misturado e facilitar moldar depois de pronto”, explica Navarro, que não revela cifras nem muitos detalhes da produção por questão de concorrência.

Praticidade no dia a dia

Mais do que mimetizar a carne, o foco da My Fast Blend está na saudabilidade do produto. A foodtech (startup de alimentação) plant based, com sede no Rio Grande do Sul e comandada por Eduardo Lovato, mesmo fundador da Lovato Alimentos SA, desenvolve alimentos saudáveis à base de grãos e sementes integrais, de rápido preparo. “A partir dessa base, desenvolvemos nossos produtos, como o hambúrguer e a almôndega vegetal”, diz.

Ambas as formulações contam com aveia, cevada, centeio, triticale, linhaça dourada, linhaça marrom, chia, amaranto e quinoa. Ao mix de cereais, foram acrescidas proteínas de ervilha e de soja, além de outros ingredientes naturais para dar sabor ao alimento. Para o preparo, basta adicionar água.

A foodtech investiu cerca de R$ 5 milhões para o desenvolvimento do produto, que utiliza tecnologia própria e não requer químicos ou aditivos. “Desenvolvemos uma máquina, que é basicamente um tratamento térmico mais completo, a vapor, como se fosse um duplo cozimento, que traz diversos benefícios, como agilidade na hora do preparo, extensão da validade e segurança do alimento, uma vez que inativa enzimas”, explica Lovato, que aproveitou a expertise da Lovato Alimentos SA.

A My Fast Blend também segue o conceito ‘farm to table’ (da fazenda à mesa) e monitora toda a cadeia de produção e distribuição dos produtos. Tanto o hambúrguer quanto a almôndega serão vendidos por cerca de R$ 21, via e-commerce, a partir de agosto. “Nossa ideia não é imitar 100% o gosto de carne e, sim, um alimento saudável e clean label (rótulo limpo), que possa ser usado de forma prática no dia a dia”, complementa o fundador.

Ovo vegano em pó

Uma das primeiras foodtechs a lançar um produto vegano em pó foi a N.Ovo. A empresa produziu, em 2019, o ovo à base de ervilha, que fornece as mesmas funções do alimento tradicional: dar liga, crescimento e ação emulsificante.

O portfolio também incluo N.Ovo Mexido, alimento também em pó destinado ao preparo de ovos mexidos e omeletes, feito de soja e ervilha. Em entrevista ao Estadão, Amanda Pinto, idealizadora e fundadora da empresa, conta que esse foi o produto mais desafiador. Foram estudados mais de 500 protótipos para chegar ao blend de plantas que entregasse o alimento final.

“Precisou de tecnologia muito específica que faz com que o produto, em pó, ao colocar água, vire líquido e, quando entra em contato com a panela quente, se pareça com ovo. Textura foi o maior desafio, depois coloração e cheiro”, explicou. O produto já está disponível para compra em grandes hipermercados.

Fonte: Juliana Pio, Estadão

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