Por Renato Müller
Os consumidores nunca tiveram tantas opções de produtos, serviços, marcas e canais de compra. Por isso, os supermercados precisarão passar por mudanças importantes para acompanhar a evolução do consumidor e da tecnologia – e continuar a ser relevantes.
Na semana passada, Las Vegas recebeu a Groceryshop, um dos principais eventos do setor no mundo. Com foco no relacionamento entre empresas e consumidores, e uma abordagem prática, o evento procurou apresentar maneiras de reduzir os custos operacionais para oferecer preços mais baixos aos clientes – uma necessidade no atual cenário do varejo americano.
Uma série de tecnologias focou na personalização das ofertas, em atrair a atenção dos clientes e em aumentar a conversão e o tamanho das cestas de compras. Mas nada disso adianta se o custo/benefício não valer a pena.
O evento mostrou três tendências que deverão estar no radar de supermercadistas em todo o mundo nos próximos anos:
1. Um novo olhar para a visão computacional
Nos últimos anos, o uso de visão computacional para acelerar a jornada dos clientes saiu do radar dos supermercados, pelo alto custo e por preocupações com privacidade. A tecnologia, porém, vem ressurgindo, por causa da capacidade que dá ao varejo para monitorar o comportamento dos consumidores, rastrear os estoques na loja e minimizar perdas.
Da mesma forma como hoje é possível fazer online, existe o ideal de acompanhar a movimentação dos clientes dentro da loja física. A visão computacional permite fazer esse acompanhamento e gerar análises, mas também é uma forma de identificar furtos (especialmente no self checkout) e monitorar o estado dos produtos nas prateleiras da loja.
2. Etiquetas eletrônicas: será que agora vai?
A ideia de etiquetas eletrônicas de preço não é nova – ela vai e volta pelo menos há duas décadas, com uma adoção crescente nos países desenvolvidos, mas pouco espaço no Brasil. A novidade é que as etiquetas estão deixando de apresentar apenas preços.
A fabricante de equipamentos Aperion, por exemplo, tem uma etiqueta eletrônica com LEDs em 7 cores, o que permite customizar os displays e mostrar quando um produto está em oferta, é uma novidade ou está com o estoque baixo. Esse também é um auxílio para os times de reposição, uma vez que as cores diferentes facilitam encontrar o local exato onde colocar novos produtos.
Com criatividade, o uso de etiquetas eletrônicas pode gerar bons resultados. Na holandesa Ahold, por exemplo, os equipamentos têm sido usados para mostrar aos clientes os produtos que estão à beira do vencimento. Um sistema baseado em IA calcula os preços dinamicamente, com base no shelf life dos itens, e impulsiona a saída desses itens. Segundo a empresa, 450 toneladas de alimentos deixaram de ir para o lixo com o uso do sistema.
3. Marcas próprias + marcas líderes
O bolso apertado dos consumidores tem levado a um aumento nos investimentos em marcas próprias no varejo americano, o que cria ruídos no relacionamento com os fabricantes de marcas líderes. Ao mesmo tempo, é preciso reconhecer que cada tipo de produto atende a demandas específicas – e pode funcionar de maneiras diferentes para cada cliente.
“O papel das marcas próprias é garantir que os clientes não estão abandonando a categoria, enquanto as marcas líderes mantêm a categoria saudável e inovadora”, acredita o CEO da divisão de bebidas da PepsiCo North America, Ram Krishnan. ‘É uma relação simbiótica”, acrescenta.