Por Renato Müller
As palavras não são somente uma forma de explicar o que é alguma coisa. A escolha correta das frases faz uma enorme diferença na percepção que as pessoas têm sobre um produto, serviço ou marca. Um estudo realizado pela Washington State University dos EUA mostra que produtos indicados como “AI-powered” (impulsionados pela Inteligência Artificial) são menos atraentes para os consumidores.
Segundo o estudo, publicado em junho no Journal of Hospitality Marketing & Management da universidade, destacar o uso de IA em um produto diminui a intenção dos clientes em adquiri-lo. Consumidores de diferentes faixas etárias viram produtos de diversas categorias, de TVs e aspiradores de pó a serviços de saúde, com a diferença de que alguns eram descritos como “high tech” e outros (semelhantes aos primeiros) como “AI-powered”.
Em todos os casos, a intenção de comprar ou usar um produto era significativamente menor sempre que a Inteligência Artificial era citada na descrição. Embora produtos de alto valor agregado movidos a IA tivessem mais rejeição (como no caso de automóveis autônomos), em qualquer categoria mais da metade dos consumidores disse que não compraria um produto “IA-powered”.
“Uma das razões pela resistência ao uso de IA é o medo do desconhecido”, acredita Dogan Gursoy, um dos autores do estudo. “Antes do ChatGPT, a maioria das pessoas não tinha a menor ideia do que era IA, mesmo que ela já estivesse sendo usada há bastante tempo”, argumenta.
Outro ponto que diminui a confiança na IA é a forma como vem sendo retratada há décadas na cultura popular, especialmente em filmes: como uma ameaça à humanidade. Gursoy também aponta para as preocupações sobre privacidade. “O fato de que a forma de funcionamento dos algoritmos não é clara para a maioria das pessoas contribui para essa falta de confiança”, argumenta.
Para o pesquisador, marcas que querem posicionar seus produtos por meio da Inteligência Artificial precisam focar nos benefícios, e não na tecnologia usada. “É preciso mostrar como o uso da IA vai melhorar o dia a dia das pessoas, em vez de incluir a sigla na comunicação sem um foco específico”, recomenda Gursoy.