Por Marcio Milan*
Este 29 de setembro – Dia Mundial de Combate ao Desperdício de Alimentos – coloca todos nós alertas e pede engajamento e mudanças de hábitos. Estamos atravessamos um período atípico em que os efeitos das mudanças climáticas atingem de forma mais intensa a produção de alimentos. Por esse motivo, é urgente refletirmos sobre consumo, preços, comportamento do consumidor, eficiência operacional da seção e medidas para o enfrentamento do desperdício de alimentos.
Nos últimos dias, tenho conversado com produtores rurais, acompanhado as previsões do setor produtivo e estimado como e quando a alta dos preços deve atingir o bolso do consumidor.
Nesse período, pude sentir a preocupação dos supermercadistas diante da tendência de redução da oferta dos produtos no campo – que leva a ruptura nas gôndolas – e, principalmente, sobre como elevar a eficiência operacional da categoria de vegetais frescos para reduzir o desperdício de alimentos.
Essa preocupação de todos os elos é pertinente. E um dos motivos é que as frutas, legumes e verduras (FLVs) se tornaram essenciais na mesa do consumidor nos últimos 30 anos com a entrada em vigor do Plano Real – moeda que trouxe a estabilidade econômica e permitiu o desenvolvimento de diversas categorias nos supermercados.
Voltando um pouco no tempo, durante as décadas anteriores os supermercados comercializam poucos itens de hortifruti, de modo que o consumidor complementava sua cesta nos sacolões e nas feiras livres, muitas vezes buscando preços baixos e variedades.
Com o passar dos anos, ele aliou a qualidade, a variedade e a conveniência e passou a compor sua cesta de vegetais frescos nos supermercados. Os resultados são visíveis. No ano passado, o consumo de FLV superou o perecíveis industrializados e representou 9,3% do faturamento das empresas supermercadistas. Esse aumento no consumo fortalece todos os elos da cadeia e leva renda e desenvolvimento ao campo.
Chegar a atual patamar foi um processo que uniu produtores e varejistas em busca de tecnologias, variedades mais tolerantes às secas e doenças, ampliação de culturas, de boas práticas de transporte, de armazenagem, de manuseio, maior durabilidade (vida útil de prateleira) para o consumidor encontrar nas gôndolas alimentos nutritivos e com segurança alimentar.
Ao mesmo tempo, o consumidor foi se tornando mais exigente na compra desses itens. Passou a buscar além de frescor outros aspectos como forma perfeita, tamanho, cor mais intensa. Esse comportamento levou a implantação de fichas técnicas – que são documentos e processos utilizados na operação da lojas e tratam da padronização dos hortifrutis, com critérios de tamanho, defeitos, coloração, por exemplo.
No entanto, diante das mudanças climáticas e da seca prolongada que o Brasil está passando nos fica uma alerta sobre como podemos envolver mais uma vez todos os elos para combater o desperdício de alimentos de ponta a ponta.
Há tempos viemos estabelecendo uma comunicação transparente com o consumidor nas lojas. Vejo que agora é o momento ideal para reforçar que a participação dele é essencial no combate ao desperdício de alimentos, pois sabemos que um produto com aparência fora de padrão, mantêm a sua qualidade nutricional e a segurança alimentar. Logo, só com o envolvimento de todos será possível combater o desperdício de alimentos e valorizar os esforços dos milhares de produtores de todo o país que estão enfrentando queimadas e condições climáticas adversas para levar alimentos à mesa dos consumidores todos os dias.
Por todas essas razões, este 29 de setembro é mais uma abertura de diálogo para engajar produtores, varejistas e consumidores no combate ao desperdício de alimentos.
Pense! Enquanto consumidor como você pode contribuir nesse processo!
* Marcio Milan é vice-presidente de Relações Institucionais e Administrativo da ABRAS