Com capital próprio, a BRF soma Mogiana e Hercosul com o plano de assumir uma fatia importante do setor de pets que cresce 20% ao ano
A BRF divulgou acordo para comprar a empresa de ração para pets Mogiana Alimentos, uma semana após divulgar a aquisição de outra companhia do setor, a Hercosul, e deverá usar caixa próprio para efetivar o negócio, disse o presidente-executivo, Lorival Luz.
A Mogiana Alimentos tem faturamento anual na casa de 450 milhões de reais, versus pouco mais de 300 milhões de reais da Hercosul, e ambas possuem capacidade para garantir crescimento orgânico da BRF, destacou o executivo.
Com as aquisições, a companhia de alimentos BRF passará de uma fatia no segmento de 0,2% para cerca de 10%, em um mercado de maior valor agregado que cresce mais de 20% ao ano no país.
O Brasil é o segundo maior país em vendas de pet food do mundo, atrás apenas dos EUA, e tem atraído investimentos como o da Nestlé Purina, que anunciou nesta semana cerca de 1 bilhão de reais para a construção de fábrica em Santa Catarina.
“É até mais do que empolgação, é uma confiança muito grande neste setor, que tem crescido a duplo dígito, ano a ano”, disse Luz à Reuters, ao comentar o plano da empresa de estar entre as duas maiores do setor até 2025.
A BRF não revelou os valores das duas aquisições, que terão algum impacto na dívida, mas também trarão geração de caixa para a companhia, comentou Luz.
“Para alavancagem, o impacto não é relevante, continuamos com a disciplina financeira, mantendo a companhia abaixo de 3 vezes mesmo com esses movimentos inorgânicos.”
Considerando a capacidade de expansão da produção com as transações recentes, a BRF não prevê no curto e médio prazos novas aquisições no setor, acrescentou.
“As duas empresas ainda têm capacidade disponível para sustentar um crescimento orgânico.”
Há 46 anos no mercado, a Mogiana Alimentos tem forte atuação na região Sudeste, e a operação é complementar à do grupo Hercosul, com expressiva participação na região Sul e em países do Mercosul.
A Mogiana Alimentos conta com duas unidades produtivas, sendo uma em Campinas e outra em Bastos, ambas no interior de São Paulo. Há 46 anos no mercado, com 500 funcionários, a empresa registrou receita líquida de aproximadamente R$ 450 milhões no período de março de 2020 a março de 2021.
Com o fechamento desta operação, a BRF expandirá ainda mais seu portfólio de marcas e produtos, oferecendo rações secas e úmidas para cães e gatos com capilaridade para todos os estados brasileiros e outros países no Caribe, Europa e América Latina.
O portfólio de marcas passa a contar com o reforço das linhas tradicionais da Mogiana como Guabi Natural (líder de mercado em alimentação natural no segmento Super Premium), Gran Plus (vice-líder no segmento High Premium), Faro (Premium), Herói e Cat Meal (ambas do segmento Standard).
APROVEITANDO PREÇOS DO MILHO
Ao comentar recentes aquisições de ações da companhia pela Marfrig, que abocanhou fatia na BRF de 31%, o CEO disse que isso confirma o potencial da empresa, maior exportadora global de carne de frango e uma das líderes em produtos alimentícios no Brasil.
“É uma companhia como a nossa, é sempre importante, (a BRF) não tinha um acionista de referência, é importante ter um acionista de referência e conhecedor do setor, é positivo”, disse o executivo.
Ao ser questionado sobre recente queda do preço do milho, importante matéria-prima da indústria de carnes, Luz disse que a BRF está aproveitando para reconstruir estoques.
Após máximas históricas de mais de 100 reais, a saca de 60 kg do cereal em maio, segundo o indicador Esalq, recuou para cerca de 86 reais, registrando baixa de quase 14% no acumulado de junho.
“A gente sempre aproveita os momentos de baixa para construir um pouco do estoque que a gente precisa para alimentar animais, para não correr o risco de ficar sem”, disse Luz.
Contudo, o executivo reafirmou que não vê os preços do milho recuando para patamares de 50 a 60 reais, como os registrados no mesmo período do ano passado, diante da forte demanda para ração animal e da indústria de etanol.
Fonte: Por Roberto Samora e Ana Mano, Reuters, 6 Minutos