Por Giseli Cabrini
O Natal deste ano promete ser “superespecial” para o varejo alimentar. Tudo isso devido a um cenário macroeconômico atual mais favorável em relação à redução da taxa de desemprego, ao aumento da população ocupada, aos programas de transferência de renda e ao crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). Até mesmo a inflação que, embora permaneça acima da meta de 3% para o ano, ainda se encontra dentro dos limites da chamada “margem de tolerância” de 4,5%.
A projeção foi feita na manhã desta terça-feira, 19, pelo consultor e ex-secretário de Política Agrícola, Ivan Wedekin, durante o “Café da Manhã”, promovido por International Fresh Produce Association (IFPA), em São Paulo. Durante a fala dele no painel: “do campo à mesa, fatos e mercados”, ele apresentou dados macroeconômicos sobre o Brasil e o cenário externo, bem como a respeito das exportações e do agronegócio. “O varejo alimentar está crescendo de forma expressiva e tudo indica que o Natal em 2024 será um superevento para o setor. A maior atividade da economia, o aumento da renda e do emprego e as políticas sociais impulsionam o varejo que ganha mais fôlego”, afirmou.
A previsão está em sintonia com os números da Associação Brasileira de Supermercados (ABRAS). Segundo dados da associação, o consumo dos brasileiros nos supermercados acumula alta de 2,52% nos nove primeiros meses de 2024 em comparação a igual período do ano passado. Em setembro de 2024, o consumo teve elevação de 0,95% frente a igual mês de 2023.
Se a estimativa de Wedekin se confirmar, será a grande virada para o varejo, que ainda não superou os números de 2019, quando o Natal teve faturamento de R$ 70,9 bilhões. Projeções feitas pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) eram de vendas na casa de R$ 68,97 bilhões em 2023, o maior crescimento em quatro anos, porém aquém dos níveis anteriores à pandemia.
Infelizmente, em longo prazo, esse panorama favorável não se sustentará. Mais à frente deverá haver desaceleração, de acordo com Wedekin, principalmente por causa do aumento dos gastos públicos e da elevação da dívida interna e externa, além do avanço do endividamento e da inadimplência no Brasil. A inflação e a Selic também prometem elevações no mercado interno em 2025. Além disso, o cenário internacional traz incertezas principalmente pela troca de governo nos Estados Unidos em relação às políticas envolvendo taxas de juros e de câmbio.
Portanto, segundo Wedekin, é fundamental que as empresas, de todos os segmentos, adotem ações gerenciais pautadas pelo que ele define como cinco “Fs”:
1. Foco: clientes, tecnologia e produtividade;
2. Fluxo: de caixa e gestão de riscos;
3. Funding: financiamento/ captação de recursos;
4. Fidelidade: suprimento e distribuição;
5. Família: pessoas, sucessão e inovação.
Insights para FFLVO
Wedekin foi o “speaker” do evento da IFPA, que reuniu diversos agentes da cadeia de abastecimento: produtores, varejistas, representantes de associações, consultores e especialistas em “FFLVO”: flores, frutas, legumes, verduras e ovos. A seguir, confira, os principais “insights” gerados pelo participante durante bate-papo conduzido por Wedekin:
Emílio César Fávero, diretor comercial da AlfaCitrus: desafios climáticos
“Todos temos lidado com eventos climáticos extremos. No entanto, para a cadeia citrícola o impacto tem sido maior. Desde 2019, o clima num ano tem sido completamente diferente do outro. Isso traz reflexos para a produtividade, a produção e o comportamento da árvore. Sem contar que a fragiliza muito mais diante de doenças, como o ‘greening’. Temos como mitigar os problemas por meio da dispersão da produção para outras áreas e do uso de sistemas de proteção e irrigação. Mas não há como se proteger 100%”, detalhou.
Amauri Vieira, presidente do Grupo Vegetais Saudáveis: relacionamento dentro e fora do negócio
“Temos mais de 12 marcas. Portanto, alinhar processos é um grande desafio. Temos investido muito em rodadas de conversa com diretores e compradores de redes varejistas. O objetivo é entender para onde nós estamos indo e a direção que eles estão tomando. Na maioria das vezes, há uma desconexão. Identificar e entender isso é fundamental para disseminar boas práticas entre nós, produtores. E, com isso, elevar a produtividade e reduzir os custos, os riscos e os pontos cegos.”
Sheila Santos, consultora comercial da Trebeschi: oportunidades e barreiras ao inovar
“Ao longo desses 30 anos, a Trebeschi tem inovado muito na colheita. Atualmente, o foco está em desenvolver sementes que carreguem na genética ainda mais qualidade e sabor, além de shelf-life maior. E mais tolerantes a pragas e aos desafios climáticos. Outro ponto no qual ainda é possível avançar é na logística. Nós até inovamos ao colocar dentro dos caminhões equipamentos para a realização de um controle do transporte, mas falta mão de obra preparada para lidar com isso e gerar os resultados esperados.”
Ingrid Zahler Devisate, vice-presidente executiva do Instituto Foodservice Brasil (IFB): consumo de alimentos saudáveis em alta
“As pessoas em todo o mundo têm buscado um estilo de alimentação mais saudável. Os gastos com esses produtos estão em crescimento. Além disso, há dados que mostram que 35% dos brasileiros já incorporaram a prática de exercícios físicos ao seu dia a dia e querem manter isso.”
Jorge Possato Teixeira, presidente do Instituto Brasileiro de Floricultura (Ibraflor): novos consumidores
“Nós já iniciamos trabalhos voltados a traçar o perfil e a atrair o consumidor do futuro. Paralelamente, essas ações envolvem iniciativas em escolas voltadas a fazer com que os estudantes entendam o que as flores e as plantas geram para as pessoas, ao longo de toda a vida delas: bem-estar e emoção.”
IFPA
Durante o evento, a Country Manager da IFPA, Valeska Oliveira, apresentou um balanço das atividades da associação no Brasil e das atividades realizadas em 2024. “Começamos com seis associados no Brasil e já somos 147. Só em 2024 conquistamos 38 novas empresas. Nosso papel é promover uma ponte entre todos os agentes da cadeia de FFLVO no sentido de fomentar discussões que levem a soluções. Atuamos sob três pilares: advocacia, “guide” (diretrizes) e “connections” (conexões). Por isso, estamos aqui neste momento estreitando relacionamentos”, disse a executiva.
Entre as ações realizadas pela IFPA estão as chamadas campanhas de sazonalidade. Direcionadas ao varejo buscam promover o engajamento de seus colaboradores a fim de que se tornem uma espécie de “embaixadores” da cesta de FFLVO perante os consumidores. “Há duas formas de participar. Baixando gratuitamente nossos materiais gratuitos disponíveis nas nossas redes sociais, que trazem informações, kits, receitas e imagens, ou por meio de workshops, como associados e com direito a certificado”, explicou Valeska. Em 2024, os temas trabalhados foram: flores, banana, uva, tomates e saúde/ alegria. As campanhas de sazonalidade envolveram 22 workshops, 800 colaboradores capacitados, 29 horas de conteúdo compartilhado, 2.550 downloads de materiais gratuitos, 12 culturas, 14 líderes que compartilharam seus conhecimentos e mais de 500 lojas impactadas. A rede varejista com maior participação foi o Grupo Pão de Açúcar (GPA).
O “Café da Manhã” desta terça (19) foi o quinto realizado neste ano pela IFPA, o segundo na capital paulista. Outras edições aconteceram em Petrolina (PE), Florianópolis (SC) e Fortaleza (CE). Foram mais de mil participantes, entre eles 80 redes varejistas.
Valeska também aproveitou a ocasião para celebrar os resultados alcançados pelo The Brazil Conference & Expo, que compreende a 8ª Feira Internacional da Indústria de Frutas, Flores, Legumes e Verduras (FFLV), em 2024. Foram 4.300 visitantes, de 24 estados brasileiros e de 16 países e 150 expositores. “E já temos data e locais para 2025: 6 e 7 de agosto, no Expo Center Norte, em São Paulo. Aguardamos vocês.”