Por Renato Müller
A Amazon pretende, há bastante tempo, trazer uma disrupção para o setor de supermercados – e talvez esse momento esteja se aproximando. Depois de patinar com os formatos Amazon Go (lojas de conveniência autônomas) e Amazon Fresh (lojas de vizinhança), a empresa elevou Jason Buechel, ex CEO da While Foods, para o comando de todo o seu negócio de supermercados no mundo. O resultado já vem se desenhando na forma de um novo ecossistema de varejo.
Desde 2022, quando Buechel se tornou o CEO da Whole Foods, a varejista aumentou suas vendas e resultados de maneira consistente. Isso permitiu que a Amazon continuasse a modelar sua estratégia no varejo de supermercados para construir um formato de lojas omnichannel de amplo alcance, aliando uma boa experiência em perecíveis à oferta de valor, conveniência e alimentos saudáveis.
A ambição de dominar aspectos tão distantes quanto experiência, saudabilidade e valor fechou o ano de 2024 com 523 lojas Whole Foods, 62 unidades Amazon Fresh, 15 lojas Amazon Go e uma Amazon Grocery, além da venda no e-commerce e por meio de parceiros. Para o padrão americano, uma rede de cerca de 600 lojas é pouco, mas a divisão vem crescendo 12% ao ano desde 2022 e a integração omnichannel vem sendo reforçada.
Ao longo de 2024, a Amazon ampliou significativamente suas operações de supermercados, com novas iniciativas voltadas ao aumento da conveniência, da disponibilidade de produtos e da integração entre plataformas. Um exemplo é a Amazon Fresh, cujas lojas têm sido redesenhadas com um novo layout que ampliou a oferta de laticínios, lanches e alimentos internacionais em uma ambientação mais amistosa. Mais de 90% dos consumidores disseram estar “muito satisfeitos” com as novidades.
Outro caso é o uso de formatos híbridos, como a Amazon Grocery. Formato de conveniência que vem sendo pilotado em Chicago, o conceito oferece 3.500 SKUs em um espaço de 350 metros quadrados, focado em compras de conveniência que complementam o mix vendido na Whole Foods logo ao lado.
A conveniência é outro vetor importante e um bom exemplo é a Whole Foods Market Daily Shop, um conceito de minimercado inaugurado no Upper East Side de Nova York com cerca de 800 metros quadrados focados em alimentos “grab and go”, snacks e itens de necessidade básica. Outras duas unidades nesse conceito já forma anunciadas recentemente.
O foco omnicanal está presente em iniciativas como a expansão das ofertas Prime para mais de 3.000 produtos de supermercados, tanto nas lojas físicas quanto nos canais online. Um mix rotativo de produtos tem descontos de até 50%, o que gera mais valor para os membros Prime. No ano passado, a empresa lançou um novo modelo de assinatura para alimentos, com entregas ilimitadas por US$ 9,99 mensais disponíveis em mais de 3.500 cidades americanas.
Como explicou o CEO da Amazon, Andy Jassy, na carta anual aos acionistas apresentada em 2025, a empresa lida com os “por quês”. “Perguntamos por que e por que não, o tempo todo, para desconstruir problemas, chegar às causas raízes e destravar oportunidades de inovação”, escreveu. Um espírito embarcado na operação de supermercados da Amazon, que, em vez de simplesmente replicar o que já funciona no mercado, vem questionando cada aspecto da experiência do cliente – nem sempre com sucesso, mas sempre com inovação.
