O crescimento das apostas on-line no País impactou negativamente o varejo e toda a cadeia produtiva brasileira em 2024. Segundo levantamento realizado pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), o setor enfrentou perda de R$ 103 bilhões do faturamento anual potencial com o redirecionamento dos recursos das famílias para os jogos.
Além disso, o descontrole financeiro reduziu a compra de bens e a contratação de serviços, levando à queda do consumo essencial relativo aos itens de primeira necessidade para a sobrevivência. A pesquisa ainda revelou que 1,8 milhão de brasileiros entraram em situação de inadimplência por comprometer a renda com as “bets”.
Os números analisados pela CNC consideraram os impactos econômicos das apostas on-line sob dois cenários distintos, com gastos de R$ 24 bilhões e R$ 240 bilhões anuais pelas famílias brasileiras.
No primeiro cenário, a economia sofre perdas estimadas em R$ 39 bilhões no faturamento total, R$ 19,5 bilhões no Produto Interno Bruto (PIB) e R$ 2,1 bilhões na arrecadação tributária. Já no segundo cenário, os prejuízos sobem para R$ 364 bilhões no faturamento, R$ 219 bilhões no PIB e R$ 14,5 bilhões em impostos que deixam de ser recolhidos pelo Estado.
“Os dados deixam claro que o impacto das apostas vai além do aspecto financeiro, interferindo diretamente na capacidade do comércio varejista e de outros setores importantes para o desenvolvimento do País. A regulamentação, além de promover arrecadação formal, pode mitigar esses desvios prejudiciais”, explica o economista-chefe da CNC, Felipe Tavares.
Regulação
O material reforça a importância da regulamentação para mitigar os danos das apostas para a economia. Entre as medidas propostas, destacam-se a imposição de limites para os jogos on-line, campanhas de conscientização e programas de apoio a viciados. Outra sugestão é a regulamentação anterior de cassinos físicos, que, segundo o Projeto de Lei nº 2.234/22, pressupõe a criação de uma Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) específica para o setor, com potencial de arrecadação de até R$ 22 bilhões anuais em tributos, e esses recursos poderiam ser direcionados para áreas como saúde e educação e diversos programas sociais.
Confira outros dados da pesquisa:
– Famílias de menor renda foram as que mais sentiram a inadimplência por causa das “bets”, saindo de 26% de inadimplentes em janeiro de 2024 e chegando a aproximadamente 29% em dezembro do ano passado;
– Jovens estudantes também são suscetíveis ao problema: estima-se que mais de 70% dos universitários com idade média de 21 anos apostem regularmente no País. Entre aqueles que relataram participar de apostas como forma de entretenimento ou em busca de potencial ganho financeiro, 42% enfrentam dificuldades financeiras. O material também mostrou que 81% dos universitários entrevistados já participaram de alguma forma de aposta esportiva;
– Partindo do princípio de que o valor apostado nas “bets” poderia ter sido usado para consumo de outros bens e serviços pelas famílias, seguindo o padrão de demanda, ou alocado inteiramente no comércio nacional, os valores potenciais não materializados na economia brasileira em 2024 estimam uma perda potencial entre R$ 39 bilhões e R$ 364 bilhões. O impacto sobre o PIB varia entre R$ 19,5 bilhões e R$ 219 bilhões e a perda de arrecadação resultante está entre R$ 2 bilhões e R$ 14,5 bilhões.