Por Giseli Cabrini
O ano de 2024 foi marcado por muitas inaugurações no varejo brasileiro, especialmente em sua fase final. Grande parte das unidades, que abriram suas portas, têm um ponto em comum: uma seção dedicada a flores e plantas ornamentais. Dessa forma, esses itens, antes restritos a lojas especializadas, ganham cada vez mais espaço no autosserviço com potencial de atrair clientes, ativar a compra por impulso dessas mercadorias e ser uma opção na hora de presentear.
Mas, para isso, supermercadistas precisam estar atentos a alguns pontos, como opções de flores e plantas ornamentais, que venham em embalagens atrativas, e principalmente na gestão desses produtos no ponto de venda. Ou seja, na forma de expor e conservar essas mercadorias, que deve receber todo o cuidado e a atenção que a seção de frutas, legumes e verduras (FLV) recebe. Afinal, a aparência delas é decisiva para encantar ou afugentar a clientela.
Para ter uma ideia do potencial do varejo alimentar para essa cadeia, enquanto o Produto Interno Bruto (PIB) do segmento encolheu 3,2% entre 2022 e 2023, a participação de supermercados/hipermercados nesse total cresceu 8,9%. Foi o avanço mais expressivo entre todos os componentes do PIB da atividade.
Confira, a seguir, entrevista exclusiva feita pela reportagem de SuperHiper com o presidente do Instituto Brasileiro de Floricultura (Ibraflor), Jorge Possato Teixeira.
Fale sobre os grandes números do setor de flores e plantas ornamentais: produção, comercialização, empregos etc. e projeções para 2025.
A cadeia toda de flores e plantas – insumos, produção de flores e plantas ornamentais, canais de venda (comércio atacadista, supermercados, floriculturas, serviços funerários e de decoração, paisagismo e jardinagem) e demanda final (consumo das famílias e exportação) – representa em valores algo em torno de R$ 18 bilhões. Projetamos um crescimento de 5% a 8% para os próximos anos até 2028. Logo após o início da pandemia, tivemos um “boom”. Para 2025, a expectativa é chegar a R$ 19,6 bilhões, 9.151 produtores, 17.199 hectares de área cultivada e geração de 289.212 empregos diretos e 800.000 indiretos.
Você falou em estabilidade dos valores, mas houve um recuo de 3,2% entre 2022 (R$ 18,4 bilhões) e 2023 (R$ 17,8 bilhões). Por que isso ocorreu? Quais são os desafios da cadeia de flores e plantas ornamentais no Brasil?
Na verdade, nos últimos anos, a produção de flores e plantas ornamentais tem sofrido bastante com as mudanças climáticas que se refletem por conta de oscilações bruscas de temperaturas ora muito altas ora baixas. Por isso, praticamente não crescemos muito em volume. Mas o mercado está em expansão, assim como o PIB do segmento. Além disso, os produtores estão atentos a alinhar a oferta ao que o mercado quer. Por isso, algumas variedades deixam de ser produzidas. Outro desafio está na mão de obra. Porém, isso não é ruim. Ao contrário, porque excesso de oferta faz com que os preços caiam demais. Paralelamente a isso, o principal desafio para 2025 é dar sequência a ações de marketing promocional que façam com que nossos clientes entendam a importância desses itens no mix dentro do PDV. E, claro, manter a lucratividade.
Por falar em clientes, qual é a importância do varejo alimentar para a atividade?
Atualmente o varejo alimentar consome mais ou menos 40% do mercado total de flores e plantas. A floricultura brasileira ganhou espaço em muitos locais e regiões. No passado, há 20 anos, as pessoas só buscavam flores e plantas nas floriculturas. Atualmente, elas estão nos supermercados também. Então, ter esses produtos nesses estabelecimentos é mais uma oportunidade para atrair clientes, de ampliar vendas e aumentar a lucratividade.
De olho na atração de clientes e na lucratividade, quais as dicas para que o supermercadista explore essa seção?
Se compararmos a presença dos itens do nosso setor a outros presentes no varejo alimentar, ela ainda é nova. Daí a importância da gestão eficiente de flores e plantas ornamentais no autosserviço. É necessário oferecer uma experiência positiva para o shopper. Afinal de contas, temos muitos itens e variedade. Porém, flores e plantas são seres vivos e demandam cuidados similares aos atualmente dedicados à seção de FLV. As dicas principais são escolher o mix correto a ser ofertado no PDV, definir onde esses itens serão alocados a partir do fluxo de clientes e estar muito atento a aparência dessas mercadorias. É um erro grave deixar exposto um item que não tem condições de venda, por exemplo.
É possível inovar em flores e plantas? Dê exemplos.
Claro que sim. Além de novas espécies e variedades, é possível inovar em modelos expositores e, principalmente, em embalagens. Afinal de contas, o shopper de flores e plantas compra muito por impulso, mas também por oportunidade e para presentear.