Por Giseli Cabrini
A escassez de mão de obra é um tema que tem tirado o sono de muitos varejistas brasileiros. Segundo dados da Associação Brasileira de Supermercados (ABRAS), o setor possui atualmente mais de 357 mil vagas em aberto. Isso representa, 3,9% do total de pessoas atualmente empregadas pelo setor, ou seja, 9 milhões de colaboradores.
Para driblar essa situação, as redes têm apostado em tecnologia, mutirões, parcerias com entidades de classe, associações de bairro e órgãos governamentais, bem como a oferta de benefícios que vão além dos previstos em lei e que já se tornaram comuns. Entre eles estão: folgas no dia do aniversário, café da manhã e lanche da tarde. O treinamento constante é outra ferramenta usada para manter os quadros de pessoal sempre completos.
No caso da tecnologia, soluções de self-checkout surgem como alternativa. No entanto, as redes reconhecem que o atendimento humano é insubstituível e sempre “entrega mais” para o cliente.
“Atacamos em várias frentes. Entre elas estabelecer parcerias com entidades de classe, associações de bairro e órgãos governamentais. Há três meses, eu estive no Exército, no dia que os soldados dão baixa por excesso de contingente. Fui lá e palestrei na tentativa de atrair essas pessoas”, explica o diretor de recursos humanos do Asun Supermercados, Mauricio Echeverria.
Segundo o executivo, a rede possui cerca de 3.600 colaboradores em suas 40 lojas. “Temos muita dificuldade de manter esse quadro sem baixas sem contar que o turnover é um pouco alto. Antigamente era difícil recrutar mão de obra especializada. Mas, atualmente, o problema é atrair gente ainda que seja sem experiência.”
As razões para isso são muitas. No segundo trimestre, o Brasil registrou uma taxa de desemprego de 6,9%, o menor nível para o período em dez anos. Os dados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Além disso, os números mostram um novo recorde de pessoas trabalhando, além de aumento médio da renda do trabalhador. Em paralelo, a expansão de benefícios sociais, nos últimos anos, tem causado a perda de interesse de parte da população mais vulnerável por uma vaga fixa. Muitos também preferem atuar na informalidade ou como autônomos. Existe ainda uma maior concorrência com outras modalidades de trabalho diante do avanço digital. Sem contar a chamada geração “nem-nem”, composta por pessoas de 25 a 43 anos que não estudam muito menos trabalham.
Segundo Echeverria, do Asun, o self-checkout ajuda a amenizar, mas não soluciona o problema uma vez que o atendimento humano é imprescindível. “Buscamos entender o colaborador, o que ele deseja e oferecer condições que ele considere, de fato, vantajosas, como morar perto do local de trabalho e benefícios diferenciados, como folgas no dia do aniversário ou recompensas que vão além do que a lei determina e baseadas em valores monetários. E é, claro, ter um ambiente acolhedor, onde ele se sinta feliz e motivado.”
A rede também aposta em treinamento e capacitação. Para isso, criou a Universidade Corporativa Asun (UCA). Além de formar lideranças, gerentes, subgerentes e encarregados do setor, ela passou a oferecer capacitação e formação para quem está começando. “Temos por exemplo, um curso voltado a profissionais da área de panificação. Independentemente desses profissionais permanecerem conosco, eles recebem essa formação. Em setembro, vamos iniciar um curso para a seção de açougue.”
Outra frente está nos mutirões voltados a atrair profissionais para todas as posições em aberto nas lojas do grupo Asun.
No grupo Supermercados Máximo, a escassez de mão de obra não chega a ser um problema, mas a rede já adota ações a fim de que isso não se agrave. “Temos lojas em cidades turísticas que, às vezes, uma mesma vaga passa três meses sem ser preenchida por conta da temporada. Em outros casos, há unidades que não são bem-atendidas pelo transporte público, o que também dificulta a contratação. Analisamos caso a caso para compreender o motivo da dificuldade de atrair os profissionais”, explica o diretor da rede, Daniel Khouri.
Ainda segundo o executivo, o grupo oferece condições de contratação que vão além do estabelecido em convenção coletiva de trabalho (CCT), entregando diferenciais quando comparado a outras empresas, como café da manhã e lanche da tarde, convênio farmácia, facilidade em compras na rede, oportunidade real de desenvolvimento e crescimento de carreira, treinamentos, plano odontológico etc. “Adicionalmente nós somos reconhecidos pelo ambiente de trabalho harmônico e estrito cumprimento de regras, o que facilita a adaptação dos colaboradores e faz com que nossa empresa seja procurada por quem busca uma vaga.”
Protocolo
Durante a abertura oficial da ABRAS´24 food retail future, na última segunda-feira, 16 de setembro, foi assinado um protocolo de intenções para adesão ao programa Acredita no Primeiro Passo e Cooperação para Inclusão Socioeconômica entre o presidente da ABRAS, João Galassi, e o ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, Wellington Dias.
O objetivo é estabelecer mecanismos de cooperação e promover a inclusão socioeconômica e promover a redução da pobreza entre as pessoas inscritas no Cadastro único para Programas Sociais do Governo Federal – CadÚnico – por meio da oferta de ações de apoio à qualificação profissional e à inserção ao mundo do trabalho e o incentivo ao empreendedorismo.
Além do ganho social, uma vez que o CadÚnico reúne famílias de baixa renda existentes no país para fins de inclusão em programas de assistência social e redistribuição de renda (como o Bolsa Família), a iniciativa promete aliviar a escassez de mão de obra no varejo alimentar.
Galassi comemorou a iniciativa e destacou que, futuramente, a entidade fará todo fará todo acompanhamento do acesso ao CadÚnico, a fim de mapear todo o processo, os ganhos e os eventuais desafios na contratação dos cadastrados.