Startups viabilizam o escoamento do estoque das fábricas e acesso do varejo de bairro a melhores preços e prazos
Com a tecnologia viabilizando relações comerciais com menos intermediários, as startups que apostam na ponte entre a indústria e o pequeno varejo estão nadando de braçada. As negociações começaram com produtos perto do vencimento, com o intuito de resolver um problema de escoamento dos fabricantes e de chegar ao comércio de bairro com preços mais acessíveis ao mesmo tempo.
A Souk, que hoje negocia também itens longe do prazo de validade de parceiros como Seara e Nestlé, já intermediou R$ 514 milhões em seus três anos de existência, transacionando mais de 50 mil toneladas de produtos. Por enquanto, a maior parte dos clientes fica no nordeste do país, responsável por 44% das vendas — fato que o CEO Roberto Angelino Filho atribui à complexidade e carências da logística na região.
Já são mais de 22 mil pequenos varejistas, como mercadinhos e pizzarias, cadastrados na plataforma da startup. A negociação ocorre em sistema de leilão holandês: a fábrica estabelece um preço base para os produtos e os comerciantes oferecem lances mais baixos. A oferta mais vantajosa, leva o carregamento.
“Somos um marketplace 24/7, que promove encontro entre oferta da indústria e demanda do varejo. O grande diferencial é a possibilidade de negociar o preço”, resume o CEO da Souk.
De forma semelhante, a Clubbi, uma investida do fundo Canary, ajuda esse mesmo público a descobrir e testar produtos não perecíveis de atacadistas e de fornecedores como Richester, Vitarella, Adria e M. Dias Branco, indicando os que têm mais saída em estabelecimentos similares e trabalhando com agendamento de entregas.
Como funcionam ininterruptamente, sete dias da semana por 24 horas, conseguem maior volume de negociações. Isso porque o pequeno empreendedor precisava esperar uma visita do vendedor autorizado, agora pode repor o estoque de forma mais reativa. Quase 30% dos negócios fechados na plataforma da Souk, por exemplo, ocorrem fora do horário comercial.
Quando lançaram o MVP da Clubbi no fim do ano passado, os fundadores, João Macedo, Marcos Adler e Alexandre Farber, a ideia era resolver o problema de isolamento e dependência do pequeno varejo.
“Para esse público, existe dificuldade de integração, de controlar o estoque. Como o pequeno varejista vai estar presente no mundo online, divulgando seus produtos em apps de entrega? Estamos resolvendo uma dificuldade anterior, ajudando a se conectarem com o mundo”, afirma Macedo.
O modelo de negócio difere um pouco, mas as duas cobram um fee das transações fechadas na plataforma. Enquanto a receita da Clubbi vem também da cobrança de serviço dos varejistas (há uma taxa de entrega de R$ 15), na Souk, a aposta é vender inteligência de dados para a indústria — com relatórios sobre o comportamento do varejo e insights sobre com o otimizar vendas.
Para divulgar o serviço, a Clubbi, que está nos estágios iniciais de vida, decidiu ir de porta em porta. “Entendemos que muitas funcionalidades ainda precisam ser desenvolvidas nessa experiência de compra digitalizada e estar próximo dos clientes nos permite saber o que funciona e o que não funciona”, afirma Macedo.
O desafio para as companhias agora é aumentar o relacionamento com fabricantes e diversificar o portfólio de produtos. A Souk, por exemplo, quer entrar no mercado de pets. Na Clubbi, a aposta é também oferecer outros serviços, como gestão de estoque e precificação para, assim, fazer parte do dia a dia do pequeno comerciante.
O aporte da Canary na Clubbi, em abril do ano passado, veio acompanhado de capital de investidores anjo, como os CEOs da Hashdex, Marcelo Sampaio, e da Lexter, Pedro Jahara. A Souk ainda opera com capital próprio, mas não deixa de ouvir propostas de M&A e investimentos. “Se fizer sentido e encaixar com o que a gente pensa em termos de expansão, ninguém é contra”, diz Angelino Filho.
Fonte: Por Luiza Ferraz e Manuela Tecchio, Pipeline/ Valor