Clientes buscam alternativas e dão o famoso jeitinho brasileiro para se cuidar, sem comprometer a renda
A volta aos escritórios, a retomada de eventos e do convívio social pós-pandemia têm levado a uma busca por um up no visual. Com a maior demanda, crescem também os preços, exigindo criatividade das brasileiras na hora de usar o esmalte ou o batom.
No acumulado dos últimos 12 meses até maio, o preço do esmalte, por exemplo, subiu 10,59%, segundo dados da Fundação Getulio Vargas (FGV), acima da inflação no período. Além de mais gente comprando frascos para pintar as unhas, insumos químicos usados como matéria-prima para produtos de beleza ficaram mais caros com a alta do preço do petróleo.
— Algumas resinas são retiradas do petróleo e outros produtos químicos que subiram de preço no mercado internacional. O esmalte não é um bem tão essencial quanto os outros derivados (como gasolina), não vai subir tanto, mas vai acompanhar a inflação — explica André Braz, coordenador dos Índices de Preços do Ibre/FGV.
De acordo com a FGV, a gasolina, que sofre impacto mais direto da escalada da cotação da commodity, subiu 29,2% em 12 meses. O GNV ficou 46,8% mais caro. O preço do petróleo tem sido impacto pela guerra na Ucrânia, pois a Rússia é um importante produtor.
No mundo da beleza, a saída tem sido improvisar. Ganham destaque no look modelitos que economizam no esmalte ou aproveitam ao máximo cada frasco do produto. Funcionária da Comlurb e designer de unha nas horas vagas, Luana Barros explica as estratégias para agradar a clientela sem comprometer sua renda:
— A técnica esfumada pinta só metade da unha e fica lindo, mas gasta menos esmalte. Aí fica mais barato. A “teia de aranha” também economiza e as clientes ficam satisfeitas.
Vendas de cosméticos crescem
Mesmo com os preços em alta, a demanda por cosméticos não dá sinais de diminuir. Para Jean Paul Rebetez, sócio da consultoria de varejo Gouvêa, o momento que o Brasil vive em relação à pandemia é favorável para a área de cosméticos, beleza e saúde, pois há um movimento de retorno à vida social.
— O consumidor está mais na rua, fora de casa. Com isso, vem toda essa indústria junto que de uma certa maneira tem a ver com o autocuidado, sociabilidade e imagem das pessoas — diz o analista.
Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec), no primeiro bimestre de 2022, a categoria de maquiagem apresentou crescimento de 10,3% de vendas, em comparação ao mesmo período de 2021. A associação avalia que um dos reflexos que impulsionam o desempenho positivo é a retomada do contato social e a flexibilização do uso de máscaras.
Alex Almeida, dono de lojas de produtos de beleza no Mercadão de Madureira, polo de comércio popular na Zona Norte do Rio, diz que a procura por maquiagem cresceu 30% desde o início deste ano, com destaque para produtos para os olhos.
— Na pandemia, ficou em alta a extensão dos cílios, já que as máscaras cobriam parte do rosto. E a moda ficou — conta.
Para driblar a alta de custos, Almeida substituiu alguns fornecedores e tenta manter os preços para os clientes. Ainda assim, uma paleta de sombras de uma marca nacional que em 2019 custava R$ 4,50 no atacado e R$ 6 no varejo hoje fica por R$ 10 e R$ 12, respectivamente – ou seja, o dobro do preço.
Efeitos do aumento
Para muitos, o preço mais alto significou perda de clientes. Raquel Vital, que trabalha em um salão em Guaratiba e é especializada em alongamentos, sentiu o baque após ter subido seus preços.
— Infelizmente, não tenho outra opção. Não adianta baixar o valor, porque a gente vai usar a mesma quantidade de produto. Para que os alongamentos fiquem realistas, preciso usar produtos importados, que são caros — conta.
A manicure Sandra Maria Bento sentiu na ponta do lápis o aumento dos preços:
— Por muitos anos, o esmalte custava R$ 1,50, e eu amolava alicate a R$ 2,50. Agora, o esmalte custa R$ 5,00 e para amolar é R$ 10,00.
Faça você mesma
Ana Paula Ribeiro, que trabalha em uma loja de cosméticos no Centro do Rio, observa outro fenômeno da beleza que foi herdado da pandemia: o aumento da procura por produtos de beleza usados para fazer procedimentos em casa.
— Algumas mulheres aprenderam a fazer sozinhas alguns procedimentos que tinham costume de fazer no salão de beleza. Temos vendido muitos itens de progressiva, botox capilar, drenagem linfática e unhas — relata.
Uma dessas mulheres é Nathália Leal, de 25 anos. A jornalista tinha o hábito de fazer alongamento em gel nas unhas a cada 15 dias com uma manicure, que interrompeu o atendimento na pandemia.
Com mais tempo livre, ela decidiu que aprenderia, com tutoriais na internet, a fazer as unhas sozinha, e comprou um kit de alongamento completo:
— Mesmo com os salões abertos, continuei fazendo sozinha, porque sai mais barato. Não quero gastar entre R$ 80 e R$ 100 reais a cada 15 dias com a manutenção das unhas. Tomei gosto e, hoje, além de fazer as unhas de algumas amigas, também aprendi a cortar meu cabelo e fazer as minhas sobrancelhas.
Fonte: Camilla Alcântara, O Globo