Por Giseli Cabrini
Reduzir o desperdício de alimentos é um dos pilares do combate à fome e à pobreza. O tema fez parte da programação do G20 Talks, que ocorreu dia 14 de novembro e teve como tema a Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza. O evento foi uma espécie de “esquenta” para a Cúpula do G20, realizada nos dias 18 e 19 de novembro, no Rio de Janeiro.
O Grupo dos 20 (G20) é o principal fórum de cooperação econômica internacional. É composto pela Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China, França, Alemanha, Índia, Indonésia, Itália, Japão, República da Coreia, México, Rússia, Arábia Saudita, África do Sul, Turquia, Reino Unido e Estados Unidos, além da União Europeia e União Africana. Seus integrantes representam cerca de 85% da economia mundial, mais de 75% do comércio global e cerca de dois terços da população do planeta.
Durante o encontro, houve o lançamento oficial da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, que passa para a fase da implementação. A iniciativa já possui a adesão de 82 países, 24 organizações internacionais, nove instituições financeiras e 34 organizações filantrópicas e não governamentais.
Os países que aderiram irão elaborar um plano para a erradicação da insegurança alimentar e da redução da pobreza em seus territórios. Para isso, terão um arcabouço de medidas que já foram testadas e que comprovadamente funcionam, como a transferência de renda, a alimentação escolar, a qualificação para o emprego, entre outras.
A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) estima que entre 713 milhões e 757 milhões de pessoas podem ter passado fome em 2023 – uma em cada 11 pessoas no mundo, e uma em cada cinco na África.
Segundo o ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), Wellington Dias, o objetivo inicial é alcançar, até 2030, um montante de 500 milhões de pessoas, com transferência de renda; 150 milhões de crianças, com alimentação escolar; 200 milhões de mulheres e crianças de até seis anos, com saúde e acompanhamento da gestação e primeira infância; além de 100 milhões de pessoas, com emprego e empreendedorismo.
Confira, a seguir, entrevista exclusiva com a country manager da International Fresh Produce Association (IFPA) no Brasil, Valeska Ciré, sobre a importância do combate ao desperdício dentro desse esforço conjunto global voltado à redução da fome e da pobreza. Durante o bate-papo, ela também falou a respeito da importância do papel do Programa de Rastreabilidade e Monitoramento de Alimentos, o RAMA, criado pela Associação Brasileira de Supermercados (ABRAS) para a cadeia de frutas, legumes e verduras (FLV) e a relação dele com esses três temas que tiveram destaque durante a Cpula do G20.
Como a IFPA avalia a importância do lançamento da Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza? Quais as ações que já estão no radar voltadas ao combate ao desperdício em escala mundial?
Isso passa logicamente pelo combate ao desperdício, que está no “top 3” das ações que são mais importantes para toda o segmento de frutas, legumes e verduras (FLV). Quando você pergunta para varejistas, produtores e fornecedores em geral, essa questão é fundamental para gerar mais eficiência para o setor. Se atualmente nós temos uma série de desafios climáticos, cada vez mais forte, gerar menos desperdício é igual a eficiência e a resultado não só para o produtor, mas par o varejo e todo o ecossistema do FLV. Então, a IFPA tem debatido isso trazendo cases, melhores práticas e cruzando informações entre os nossos associados. Importante entender que se trata de um conceito muito amplo: não só reduzir o desperdício do alimento em si, mas que envolve o uso racional e eficiente de água, de solo e de bioinsumos. A Cúpula do 20 se reunindo e colocando isso como um tema importante nada mais é do que um reflexo do que já tem sido discutido pela cadeia de FLV no Brasil. Então, ficamos muito felizes que o tema esteja na pauta e colocado como prioridade.
De que forma esse tema está relacionado ao ESG?
Não há redução de desperdício sem olhar para o ESG. E isso inclui a mão de obra. Se eu tenho talentos mais informados e treinados, consequentemente o tratamento dedicado ao produto, desde o campo até a gôndola, é diferenciado inclusive levando informação até o consumidor final uma vez que o desperdício também ocorre nos lares e sobre isso não há dados. Nós queremos o aumento do consumo não apenas pensando em volumes comercializados, mas que isso não gere desperdício lá na frente.
Quais as ações que a IFPA possui nessa direção?
Estamos com ações muito fortes para 2025 não só no Brasil, mas em todos os países que a IFPA atua. São ações coletivas porque o desafio é global. Então, o Brasil, a África do Sul, os Estados Unidos e o Chile, ou seja, todos juntos trabalhando para a redução do desperdício, de acordo com cada realidade em todo o ecossistema. Especificamente no Brasil, as ações envolvem informação para o produtor, o varejo e para toda a cadeia de abastecimento; mais treinamento e aprimoramento do uso de tecnologias (nosso País é uma potência nisso com suas “agritechs” e “foodtechs”). O que nós temos feito é aproximar o produtor do varejo e vice-versa no sentido de estabelecer uma linha de diálogo a fim de identificar pontos de sinergia e formas de ganho de eficiência. Isso é feito por meio das nossas feiras e nossos cafés da manhã. Também apostamos muito em informação e em dados. Já temos pesquisas em andamento para que o setor possa ter acesso, de forma descomplicada, a ações que possam aprimorar seus negócios e combater o desperdício.
A ABRAS tem o RAMA, que fomenta boas práticas agrícolas na produção de frutas, legumes e verduras. Na sua opinião, como ele contribui para o segmento de FLV e as questões, como segurança alimentar e combate ao desperdício?
O IFPA apoia e é um entusiasta do RAMA. Nós temos acompanhado os números e sabemos que ele só tende a crescer. É muito importante que mais pessoas participem porque participar do RAMA é gerar mais eficiência, mais segurança alimentar e menos perdas.
Com informações da Agência Brasil