Home SeçõesGente Queijos: gourmetização, saudabilidade e indulgência são ingredientes para “descomoditizar” categoria

Queijos: gourmetização, saudabilidade e indulgência são ingredientes para “descomoditizar” categoria

Confira, a seguir, entrevista exclusiva dos executivos da UltraCheese à SuperHiper sobre oportunidades e desafios envolvendo a cesta de lácteos

De Redação SuperHiper
0 Comentário

Por Giseli Cabrini

No Brasil, o consumo de queijos é dominado por “commodities”, que representam mais de 90% do mercado. Ou seja, existe um protagonismo dos tipos mais básicos, como: muçarela, prato, queijos frescos, requeijão e ricota. No entanto, mudanças nos hábitos alimentares e de consumo geram oportunidades para variedades mais sofisticadas, com apelo “gourmet” (são os queijos especiais e exclusivos que apostam no conceito artesanal de produção, feitos à mão, um a um, como se fossem obras de arte), a exemplo do que acontece em mercados com tradição no assunto, como a Europa. Outras opções, com potencial para diversificar as vendas e ampliar o tíquete médio, encontram força na saudabilidade, isto é, nas opções light, zero lactose e até orgânicas.

A análise tem como base entrevista exclusiva do CEO da UltraCheese, Edson Martins, e do diretor comercial da empresa, Gustavo Duarte, à SuperHiper sobre oportunidades e desafios da cesta de lácteos.

Criada a partir do sonho de ser a melhor e mais completa queijaria do País, a UltraCheese é uma companhia que reúne grandes marcas do segmento de lácteos, como: Lac Lélo, Búfalo Dourado, Cruzília, Itacolomy e Regatas. Ela opera três unidades de produção localizadas em São João do Oeste (SC), Cruzília (MG) e Trindade (GO), todas com habilitação para exportação aos países da lista geral. São mais de 300 SKUs aproveitando a expertise de cada marca em diferentes categorias, segmentadas por linhas de produção específicas, canais e regiões de atuação. Com foco primordial em oferecer queijos (incluindo os especiais), cremes de queijo e manteigas aos consumidores finais, também se dedica em atender aos canais food service, B2B e outros clientes institucionais.

Segundo os executivos da UltraCheese, as constantes mudanças nos hábitos alimentares e no comportamento do consumidor têm favorecido o surgimento de novos usos e aplicações dos produtos, como também impulsionado a procura por novos tipos de queijos. Em resumo, o calendário tradicional de refeições foi substituído pela flexibilidade, os hábitos e as preferências alimentares estão mais diversificados e adequados à rotina e ao perfil de cada consumidor e, assim, há um equilíbrio maior entre saudabilidade e indulgência no cardápio semanal. Crescem tanto as tendências de gourmetização quanto de saudabilidade (por exemplo, os queijos funcionais) entre os brasileiros. Atrelado à “onda gourmet”, outro atributo ganha força: a indulgência no sentido de valorizar o momento da experiência sensorial como um todo a fim de desfrutar, ao máximo, cada mordida.

Além disso, outro apelo a ser explorado é da valorização de produtos nacionais e locais, assim como outros países que exploram o conceito de indicação geográfica (IG) e que ressaltem a nossa “brasilidade”. Esse é o caso dos espumantes franceses chamados de champanhe.

Confira, a seguir, a entrevista na íntegra.

Atualmente qual é a importância do canal varejo alimentar para as vendas da UltraCheese?
Edson Martins: o varejo é o principal canal de atuação, representando cerca de 77% do volume de vendas da UltraCheese. As estratégias de expansão da área de atuação, extensão de portfólio e aumento da participação de mercado concentram a maior parte dos esforços e investimentos no canal.

Dentro do varejo alimentar, os formatos atacarejo, proximidade e conveniência têm se destacado frente a supermercados tradicionais e hipermercados. Qual é a presença da UltraCheese nesses formatos?
Edson Martins: com a mudança dos hábitos de compra, observamos que os consumidores vêm frequentando mais de seis canais do varejo alimentar durante o ano para realizar suas compras, baseados em critérios, como reposição, proximidade e urgência. Sem dúvida, existem oportunidades significativas tanto nos atacarejos quanto nas lojas de conveniência, que tradicionalmente concentram sua oferta de mix em produtos para o dia a dia (alto consumo e giro rápido), e, cada vez mais, abrem espaço também para introdução queijos especiais e exclusivos, entre outras opções de lácteos refrigerados. A UltraCheese ainda possui sua maior concentração nos canais de autosserviço (super e hiper). Porém, especialmente em 2024, houve crescimento expressivo no atacarejo e nas lojas de vizinhança.

Segundo dados da Abiq, o consumo, no ano passado, cresceu 8% até outubro, demonstrando que o item, em suas variadas formas, o queijo é um alimento apreciado pelos brasileiros. Além disso, atualmente, ele está presente em 90% dos lares. Contudo, o consumo nacional per capita (6 quilos por habitante/ ano) ainda é baixo, quando comparado a outros países. O que explica isso?
Edson Martins: o queijo no Brasil, embora amplamente aceito e presente em 90% dos lares, ainda possui um consumo per capita relativamente baixo se comparado a países onde essa proteína é mais tradicional e presente nas ocasiões de consumo. Diversos fatores podem ser elencados ao comparar o Brasil com outros países. Por exemplo, o custo elevado de produção e a recessão econômica ainda são fatores que impedem o aumento do volume de vendas das grandes commodities e, principalmente, a maior penetração das categorias de queijos especiais nas classes CDE. É evidente que podemos crescer muito mais em consumo. Porém, é importante salientar que, em comparação aos anos anteriores, constatamos uma evolução significativa na percepção dos consumidores sobre a categoria e o aumento gradativo e constante do consumo.

Quando o assunto é consumo de queijo, quais são as tendências? Quais categorias se destacam mais? Quais as oportunidades de crescimento e inovação?
Edson Martins: crescem tanto as tendências de gourmetização quanto de saudabilidade. O público valoriza produtos mais leves, saudáveis e nutritivos, surgem mais opções light e zero lactose. Por outro lado, as pessoas também valorizam o momento da experiência sensorial como um todo. Soma-se a isso comportamentos sociais ligados a exigência por maior praticidade, simplicidade, rapidez e comodidade, tanto quanto sentimentos de elevação de status, exclusividade, diferenciação, novidade e sofisticação. Em paralelo, há uma maior preocupação com a natureza e a origem dos produtos e as responsabilidades sociais das marcas. Os consumidores buscam conhecer, por exemplo, a procedência da matéria-prima e como se dão os processos produtivos, prezando por produtos mais naturais e orgânicos. Pensando em tudo isso, a UltraCheese tem apostado em queijos autorais e autênticos, sem equivalentes no mercado mundial, que exaltam a brasilidade e a nossa tradição queijeira. São criações únicas, que combinam o milenar conhecimento europeu na fabricação de queijos com os sabores da nossa terra. Ao inovar com novos produtos, embalagens, formatos e combinações, podemos capitalizar esse potencial de crescimento do consumo.

Em relação ao perfil de comprador, quem são os “heavy buyers” (consumidores assíduos) de queijo no Brasil e quais as principais áreas para vendas?
Edson Martins: o consumo nacional ainda é predominantemente concentrado em grandes commodities e commodities intermediárias. Queijos muçarela, prato, queijos frescos e requeijão são itens que estão na maioria das listas de produtos essenciais ao dia a dia dos brasileiros. Regionalmente destaca-se o consumo de queijos minas padrão, meia cura, coalho e ralado. O perfil dos “heavy buyers”, portanto, é formado predominantemente pela inserção dos queijos commodities em suas refeições cotidianas. Valorizam o sabor e estão em sua maioria atentos as promoções e não se importam em trocar sua marca preferida, por outra considerada de qualidade equivalente. Contudo, há uma tendência positiva de crescimento do consumo de queijos especiais, principalmente brie, gorgonzola, parmesão, emmental e gouda, entre outros. É cada vez maior o interesse na experimentação, descoberta de novos sabores e possibilidades gastronômicas diversificadas.

Gustavo Duarte: a região Sudeste, que representa 60% do Produto Interno Bruto (PIB) do País e boa concentração de público com alto poder aquisitivo, oferece grande potencial para desenvolvimento da categoria de queijos especiais. O desafio para a indústria e os varejistas é aumentar a visibilidade, o conhecimento e o apelo desses queijos especiais, educando e incentivando a experimentação. Promover degustações, aperfeiçoar a exposição nos pontos de venda, orientar e despertar o desejo de consumo, divulgando conteúdos sobre histórias de origem e fabricação, características e harmonizações, com ajuda de especialistas, chefs de cozinha, influenciadores, workshops, eventos e outras ações, ajudam a estimular a demanda e criar uma nova percepção de consumo.

Pensando na relação entre fabricantes de queijo e varejo alimentar quais são as oportunidades?
Gustavo Duarte: temos obtido muitos avanços e sucesso com os varejistas, que desempenham um papel fundamental no desenvolvimento de categorias de produtos especiais. Eles nos fornecem oportunidades para uma execução eficaz nas lojas, selecionando o portfólio adequado e incentivando a experimentação dos consumidores. Essa parceria é essencial para aumentar o consumo e, consequentemente, elevar o valor do tíquete médio. A experiência mostra que, uma vez que os consumidores experimentam produtos diferenciados, seus paladares evoluem e raramente regressam às opções mais comuns.

A questão climática também é um ponto sensível para a indústria do queijo. Por quê?
Edson Martins: as mudanças climáticas tiveram impacto direto nas propriedades fornecedoras de leite por meio do aumento dos custos de insumos dedicados a nutrição animal e disponibilidade de recursos hídricos. Indiretamente houve também impacto sobre outros importantes componentes do custo de produção, como medicamentos, energia elétrica, combustível, fertilizantes, entre outros. O resultado foi a retirada de muitos produtores da atividade, menor disponibilidade de leite e elevação do preço desta matéria-prima.

Gustavo Duarte: em 2024, tivemos alta de custo histórica do leite, atrelado a situações climáticas e câmbio. Estar preparado e tomar decisões rápidas é questão de sobrevivência para esse setor que é tão sensível e com uma cadeia supercomplexa.

O que esperar da produção de queijos no Brasil neste ano? E em relação ao comportamento dos preços?
Gustavo Duarte: para a produção de queijos no Brasil neste ano, espera-se que o mercado mantenha taxas sólidas de crescimento tanto em volume quanto em valor. Quanto ao comportamento dos preços, eles devem permanecer elevados devido à alta do dólar, inflação, queda na produtividade do leite, ao aumento dos custos e ao consequente aumento dos preços do leite, que impactam todos os derivados lácteos.

Leia Também

Publicação oficial da  Associação Brasileira de Supermercados (ABRAS)

SuperHiper é a publicação oficial do setor supermercadista, produzida pela Associação Brasileira de Supermercados (ABRAS) há 48 anos. É uma importante ferramenta utilizada pela entidade para compartilhar informações e conhecimento com todas as empresas do autosserviço nacional, prática totalmente alinhada à sua missão de representar e desenvolver os supermercados brasileiros.

Leia a última edição

Abras

Super atualizada. Hiper Conectada