Por Renato Müller
Campanhas eleitorais sem promessas chamativas não são campanhas de verdade. Esse preceito vem sendo levado em prática em Nova York: na maior cidade varejista do mundo, um dos pré-candidatos democrata despertou a ira do pequeno comércio ao propor supermercados bancados pela prefeitura com preços subsidiados.
A ideia de Zohran Mamdani é criar supermercados municipais “para combater a inflação” na cidade. Ao menos uma loja seria aberta em cada um dos 5 bairros da Big Apple com produtos subvencionados pela prefeitura, para que cheguem aos clientes com preço mais baixo que o praticado pelo varejo em geral.
“O foco está em manter preços baixos, não em gerar lucro”, explicou em diversas ocasiões o candidato. O plano envolve usar prédios da própria prefeitura, adaptados para funcionar como supermercados. “Dessa forma, ao não pagar aluguel ou impostos, o custo operacional será menor e poderemos transferir esse ganho para o preço final dos produtos”, argumenta Mamdani.
A proposta gerou críticas da Associação de Pequenas Lojas da América (UBA, na sigla em inglês), que reúne supermercados independentes. A entidade considera o projeto irrealizável e uma concorrência desleal. “Um supermercado desse tipo seria bancado pelo contribuinte e colocaria em perigo a continuidade de muitos pequenos estabelecimentos na região”, afirmou Fernando Mateo, supermercadista e porta-voz da UBA.
O empresário John Catsimatidis, proprietário da rede de supermercados Gristedes, com 17 lojas na região de Nova York, tem uma opinião bem mais rude a respeito do tema. “O alto custo é parte do que significa viver em Nova York. Aceitem que dói menos”, declarou ao site de notícias amNewYork.
Uma pesquisa recente do instituto Data for Progress mostra que 66% dos novaiorquinos apoiam a ideia de supermercados municipais de baixo preço e 90% estão preocupados com o aumento do preço dos alimentos na cidade. Mamdani considera o plano como uma forma de solucionar os problemas de custo de vida e insegurança alimentar de Nova York.
A ideia de supermercados públicos não é exatamente nova: há vários anos, a prefeitura de Chicago analisou uma proposta semelhante como forma de combater os desertos alimentares (espaços residenciais sem supermercados nas proximidades), mas abandonou a ideia por considerá-la inviável. O Departamento de Defesa dos Estados Unidos, por sua vez, opera mercados públicos em várias cidades no interior americano e municípios como St. Paul, Madison e Atlanta já contam (ou têm planos de operar) supermercados municipais.