Em um cenário em que, apesar da legislação brasileira prever o direito ao trabalho para presos, inclusive com remuneração de 75% do salário mínimo, mais de 75% das pessoas privadas de liberdade não exercem nenhuma atividade laboral atualmente, e 43,88% não recebem qualquer tipo de remuneração, segundo dados do CNJ. Fomentar o debate sobre a reintegração social dessas pessoas é fundamental para toda a sociedade.
E foi pensando nisso que o Grupo Pereira criou em 2019 o Reeducandos, projeto da empresa supermercadista que visa a transformação social da população carceraria brasileira. Desde a sua criação, ele já conseguiu impactar mais de 700 reeducandos nos estados de Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Distrito Federal, com 177 atualmente ativos em funções diversas. A iniciativa oferece vagas para presos em regime semiaberto, fechado e aberto, em áreas como manutenção de carrinhos, depósito de mercadorias, televendas, cozinha, reposição e centros de distribuição.
No Brasil, dos cerca de 670 mil detentos do sistema prisional, apenas 170 mil ocupam seu tempo com atividades produtivas, segundo o Relatório de Informações Penais (RELIPEN) referente ao segundo semestre de 2024, divulgado pela Secretaria Nacional de Políticas Penais (SENAPPEN).
“No Brasil, só 25% dos detentos têm acesso ao trabalho. Isso significa que a imensa maioria está ociosa, sem chance de se preparar para um novo começo. Nós, do Grupo Pereira, acreditamos que oferecer uma oportunidade real de trabalho é uma forma concreta de mudar essa realidade. O projeto Reeducandos nasceu com essa missão: transformar o tempo de pena em tempo de reconstrução. E temos orgulho de ver isso se concretizando na vida de centenas de pessoas que já passaram por aqui”, conta o diretor de Gente e Gestão do Grupo Pereira, Paulo Nogueira.

Gabrielli Teixeira de Sá, de 31 anos, trabalha no Supermercado Comper de Campo Grande (MS). Foto: Divulgação/Grupo Pereira
Processo seletivo
A seleção dos reeducandos é feita pelas próprias instituições prisionais. A remuneração é de um salário mínimo, sem descontos, podendo receber aumento salarial por desempenho, como ocorre no Distrito Federal. Os participantes têm direito a alimentação, uniforme, transporte. E, como previsto em lei, direito à redução da pena — um dia a menos a cada três trabalhados.
A aceitação entre colaboradores e clientes tem sido positiva. “Acreditamos nas pessoas e em sua capacidade de transformação. Todos são tratados de forma igualitária”, afirma Paulo Nogueira.
O projeto já possibilitou a efetivação de 50 egressos em regime CLT, incluindo três mulheres, uma das quais foi promovida a líder em Mato Grosso do Sul. É o caso de Gabrielli Teixeira de Sá, de 31 anos, que trabalha no Supermercado Comper de Campo Grande. Começou a trabalhar como florista e sempre demonstrou interesse em aprender novas funções. Foi promovida e hoje é gerenciadora da perfumaria e bazar. Antes de ser contratada, Gabrielli fez parte do projeto Reeducandos quando estava no regime semiaberto.
“Mesmo presa, eu sempre quis trabalhar. Ficar com a mente parada, sem fazer nada, não é uma boa coisa. O que mais sinto é gratidão pela oportunidade que me deram e por acreditarem em mim e nos outros colegas que foram efetivados. Eu tinha medo de preconceito, mas fui muito bem recebida. As pessoas nunca perguntaram nada sobre minha vida”, conta Gabrielli.