Em entrevista exclusiva à SuperHiper, a presidente da Associação Cearense de Supermercados (ACESU), Claudia Novais, nos contou um pouco sobre a sua carreira no setor de varejo alimentar, quais os projetos que ela pretende realizar durante a sua gestão, como ela vê o futuro da entidade e qual é seu sentimento em ser a primeira mulher a comandar uma das associações mais importantes na região nordeste do País.
Ela aproveitou a oportunidade para mandar um recado. “Gostaria de dizer aos amigos parceiros que estamos abertos a novos projetos que venham contribuir para o fortalecimento da ACESU e o engrandecimento do seu negócio. Juntos podemos fazer toda a diferença. Temos muitos desafios nas área de perecíveis, de tecnologia, de equipes, de abastecimento, de distribuição e tributária. Mas estamos aqui para juntos gerar soluções. Conto com todos vocês!”
Boa leitura!
O que a motivou a se candidatar à presidência da associação? Quais foram os principais desafios que você enfrentou ao longo da sua carreira?
Na verdade, eu fui convidada pelo ex-presidente da ACESU, Gerardo Albuquerque. Mas tinha receio de aceitar o convite devido as muitas atividades na empresa da minha família, o supermercado Compre Certo. Creio que a ideia de eu me tornar presidente da associação era devido ao fato de que eu sempre estava ali pertinho, interessada em contribuir e em aprender, pois os desafios para os supermercadistas são muitos. Digo isso porque considero o segmento supermercadista uma verdadeira escola de administração, com todos os subsistemas e interfaces que incluem área de vendas, marketing, Recursos Humanos, logística, finanças, operações de lojas, compras, qualidade, entre outros. Tudo isso ladeado por uma robusta legislação das mais diversas ordens (fiscal, trabalhista, consumidor, LGPD, vigilância sanitária, Ministério da Agricultura, etc.). Por isso, temos que ficar antenados com o mercado, além de conectados com o que ocorre no mundo, além da oscilação econômica. Ou seja, uma gama de fatores que mais do que nunca nos mostra que precisamos estar ligados a uma associação de classe. Só assim nos tornamos mais fortalecidos.
E eis que chegou o momento de eu aceitar o convite que muito me honra. Não foi uma decisão fácil. Foi partilhada com meus predecessores, meus amigos supermercadistas e minha família. Dessa forma, eu aproveito para convidar os lojistas do setor a se unirem cada vez mais à ACESU, essa associação de supermercados que representa a classe em todas as suas inquietações e necessidades.
Como você acredita que sua liderança pode impactar a participação das mulheres no mundo dos negócios?
Sou consciente da importância de representar as mulheres, uma vez ocupando a cadeira da presidência, embora, de fato, eu nunca tenha sofrido preconceitos nas minhas atividades por ser mulher. Ao contrário: sempre fui muito respeitada e acolhida. Porém, sei que o nosso mundo dos negócios ainda congrega bastante machismo. Costumo dizer, com muita tranquilidade, que cada um tem que valer o quanto entrega. Mais que palavras, o mais significativo são as intenções e ações efetivas que se traduzem em resultados. Nesse sentido, todos têm espaço.
Independentemente da orientação sexual e ou gênero, o importante, a meu ver, é a ética e as ações efetivas que se convertem em resultados e permitem olhar no fim de um dia de trabalho intenso e dizer: “valeu a pena porque eu estou contribuindo para melhorar a minha empresa, o meu setor, a vida de tantas famílias que empregamos”. O setor supermercadista é um dos que mais cresce; mas também é um dos que mais emprega. Isso é muito valoroso.
Quais mudanças você gostaria de implementar na associação durante seu mandato? Há alguma inovação específica que você deseja trazer?
De acordo com a última NRF – Retail Big Show – maior feira de varejo do mundo – que ocorre em Nova Iorque, a palavra de ordem para 2025 é crescimento. Assim, a minha expectativa e o meu desejo é de que na gestão, que estou assumindo, haja crescimento da entidade tanto em número de associados como em atividades que fortaleçam o setor, como o Fórum de Prevenção de Perdas e a Escola ACESU. Para isso, estou formando comitês de apoio nas áreas que consideremos basais: Comitê de RH (para fortalecer as ações da Escola ACESU em termos de capacitação dos colaboradores e novas ideias), Comitê de Tecnologia e Comitê de Estudos Estratégicos.
Além disso, pretendemos lançar a ACESU itinerante, que realiza visitas periódicas às principais regionais do nosso estado, com o objetivo de nos aproximar mais dos supermercadistas dessas localidades, sensibilizá-los e, logicamente, congregar novos associados. Vamos pouco a pouco e sempre trabalhando em time. Afinal, se para quem está na capital já é bastante desafiador, imagine para os lojistas do interior.
Qual é a importância do networking para os integrantes da associação? Como você pretende facilitar isso?
Networking é a palavra de ordem na classe supermercadista. Observe que todo assunto relacionado ao setor sempre está permeado por vários atores sociais: fornecedores, colaboradores, clientes, pessoal terceirizado, etc. Todos têm sua parcela de contribuição e a forma como pretendo facilitar isso é dizer que a ACESU está de portas abertas para acolher, ouvir e realizar parceiras. São inúmeras as causas que uma associação de classe como a ACESU abraça e todo dia aparece uma novidade. Então, precisamos, mesmo, de vários olhos e braços, além de muita disposição. E essa casa tem um histórico de muita disponibilidade em acolher, mediar e resolver. Nunca atuamos sozinhos. Além de mim, os associados têm o apoio da diretoria que, assim como eu, são todos voluntários interessados e comprometidos para que o setor evolua. E só crescemos quando estabelecemos relacionamentos. Adotamos uma sistemática de reuniões de diretoria e de novos projetos. Em todas elas estamos exercitando o networking constantemente.
Que tipo de programa de capacitação ou desenvolvimento profissional você gostaria de promover para os associados?
Na gestão anterior, quando eu era a diretora de RH e com o apoio do anterior presidente Nidovando Pinheiro, criamos a ESCOLA ACESU. De lá para cá, as oportunidades de treinamento só têm crescido. Agora convidamos a Islândia Rodrigues para assumir a diretoria de RH. Além disso, criamos o comitê de RH para pensar e fortalecer a escola, que não se resume apenas aos cursos. A partir de agora, também iremos oferecer cursos “in company”, consultorias e pesquisas, planejamento estratégico, etc. Estamos trabalhando para potencializar as parcerias com o Sistema Nacional de Emprego (Sine), Instituto do Desenvolvimento do Trabalho (IDT), Sesc, Senac, Secretaria de Proteção Social e outras que venham a somar. Isso porque temos consciência que o aprendizado no nosso segmento é contínuo.
Como você vê o futuro da associação e o papel dela na comunidade empresarial?
Vejo o futuro da ACESU com o mesmo vigor que o crescimento do setor tem. Isto é, entendo que o futuro da associação tem em si o objetivo de continuar fortalecendo o varejo alimentar, munindo-o tanto de informações quanto de estratégias e soluções.
Já no que diz respeito à comunidade empresarial, também enxergo a ACESU como um radar do comércio semelhante a uma bússola, que dá o Norte para a comunidade empresarial. Para isso, temos que investir em capacitação e tecnologia. Esses dois pilares são fundamentais. Além disso, é necessário tecer muitas parcerias com os órgãos municipais, estaduais e federais. Precisamos estar atentos a meios e formas de fortalecer o comércio de supermercados, que sempre foi tão vulnerável e, ao mesmo tempo, tão expressivo quanto à geração de empregos e à arrecadação. Sabemos da nossa força, mas também é importante estarmos conscientes das nossas vulnerabilidades. É principalmente por isso que estou atenta a ter uma gestão plural.
De que maneira você planeja abordar questões de diversidade e inclusão dentro da associação?
Os temas de diversidade e inclusão são pautas já antigas dentro da associação. Tanto eu quantos os diretores somos conscientes da necessidade de maior inclusão. Por exemplo, fico feliz quando vejo empresas supermercadistas divulgando vagas para profissionais 50+, que sempre são tão excluídos. Para potencializar essa inclusão, a ACESU vem tecendo parceria com uma startup, a Senium Longevidade, entre outras. Temos consciência que as empresas inclusivas produzem e vendem mais, bem como são mais bem acolhidas pela comunidade.
Quais conselhos você daria para mulheres que aspiram a posições de liderança no setor empresarial?
Se conselho fosse bom, a gente não dava, não é verdade? A gente vendia! Mas, enfim, dirigindo minha palavra às mulheres, fazendo um flashback sobre a minha própria carreira, vejo que aquilo que me propus a fazer foi, sobretudo, aprender, contribuir e desenvolver algo melhor do que o que já estava posto, claro que, sempre, respeitando os que nos antecederam, pois com certeza enfrentaram outras grandes batalhas. Por fim, sugiro que encarem os desafios e não desistam. É preciso não jogar a toalha nos primeiros embates e seguir porque a gente não pode parar. Tem muitas pessoas que dependem de nós.