O movimento melhorou o cenário da doença, mas pesquisas apontam que ainda há muito desconhecimento. É essencial conhecer fatores de risco, diagnóstico precoce e opções de tratamento
A campanha “Outubro Rosa” é celebrada anualmente com o objetivo de compartilhar informações e promover a conscientização sobre o câncer de mama. É um movimento internacional criado no início da década de 1990 pela Fundação Susan G. Komen for the Cure. No Brasil, a Lei nº 13.733/2018 instituiu o mês de conscientização sobre o câncer de mama – outubro rosa, período em que são desenvolvidas atividades, tais como:
- Iluminação de prédios públicos com luzes de cor rosa;
- Promoção de palestras, eventos e atividades educativas;
- Veiculação de campanhas de mídia e disponibilização à população de informações em banners, folders e em outros materiais ilustrativos e exemplificativos sobre a prevenção ao câncer, que contemplem a generalidade do tema.
Segundo dados divulgados pelo Instituto Nacional de Câncer (INCA), no Brasil, excluídos os cânceres relacionados a tumores de pele não melanoma, o câncer de mama é o mais incidente em mulheres de todas as regiões, com taxas mais altas nas regiões Sul e Sudeste. Já em relação aos óbitos, constitui na primeira causa de morte por câncer na população feminina em todas as regiões do Brasil, exceto na região Norte, onde o câncer do colo do útero ocupa essa posição.
Para o ano de 2022 foram estimados 66.280 casos novos de câncer de mama, o que representa uma taxa ajustada de incidência de 43,74 casos por 100 mil mulheres. A taxa de mortalidade, ajustada pela população mundial, foi 11,84 óbitos/100.000 mulheres, em 2020, com as maiores taxas nas regiões Sudeste e Sul, com 12,64 e 12,79 óbitos por 100 mil mulheres, respectivamente.
Um artigo científico brasileiro publicado na revista Public Health in Practice, em setembro, aponta que as campanhas do Outubro Rosa aumentam as ações preventivas de combate ao câncer de mama: o volume de busca por mamografia aumenta em 39% no período da campanha e nos meses imediatamente seguintes, segundo a publicação.
O fundador do Instituto Vencer o Câncer, oncologista Fernando Maluf, revela os principais sinais e sintomas suspeitos de câncer de mama: caroço (nódulo), geralmente endurecido, fixo e indolor; pele da mama avermelhada ou parecida com casca de laranja; alterações no mamilo e saída espontânea de líquido de um dos mamilos. Também podem aparecer pequenos nódulos no pescoço ou na região das axilas.
Dúvidas sobre o tema
Ainda pairam muitas dúvidas acerca da doença, especialmente sobre os fatores de risco e informações essenciais para que se possa fazer a prevenção e o diagnóstico precoce.
Esse desconhecimento foi comprovado em pesquisa realizada em parceria pelo Movimento Todos Juntos Contra o Câncer e a HSR Health. Em um levantamento com 500 pessoas, de 18 a 65 anos de todas as classes sociais, constatou-se que as mulheres querem saber mais sobre fatores de risco e prevenção do câncer de mama e desconhecem os hábitos que contribuem para aumentar o risco do desenvolvimento do tumor: 81% das participantes da pesquisa consideram que a prevenção precisa ser mais divulgada.
Uma das conclusões aponta que 9 em cada 10 brasileiras relacionam a doença ao histórico familiar, quando a questão da hereditariedade nesse tipo de tumor, segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), corresponde de 5% a 10% dos casos. Apesar de atingir uma pequena parcela da população, a hereditariedade é um fator importante para o câncer de mama e, quando está presente, aumenta muito o risco de desenvolvimento do tumor. A pesquisa também demonstrou que de cada 10 mulheres, 5 consideram o cigarro como fator de risco para o câncer de mama. Entretanto, o fumo é considerado fator com limitada evidência para esse tipo de tumor; o Inca aponta como principais fatores de risco que devem ter atenção especial o excesso de gordura corporal, o consumo de bebidas alcoólicas e o sedentarismo.
As dúvidas e a falta de informação aparecem nos resultados da pesquisa Câncer de mama hoje: “Como o Brasil enxerga a paciente e sua doença?”, realizada pelo IBOPE Inteligência com mais de 2 mil brasileiros, em uma iniciativa da Pfizer com o Coletivo Pink, da qual o Instituto Vencer o Câncer (IVOC) faz parte. O levantamento foi feito através de uma plataforma on-line, nas regiões metropolitanas do Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Curitiba e na cidade de São Paulo.
Na pesquisa, 71% dos entrevistados acreditam que a herança genética seria a principal causa do câncer de mama. Já os hábitos de vida, que têm maior risco para a doença, foram considerados por 24% dos participantes. A relação do desenvolvimento do tumor e a ingestão de bebidas alcoólicas foi identificada somente por 10% das mulheres e 8% dos homens.
A questão do excesso de peso também gerou dúvidas: 39% não souberam dizer se esse pode ser um fator de risco para esse tumor e 24% acreditam que essa relação não é verdadeira. Somente a necessidade da prática de atividade física como forma de prevenção foi reconhecida pela maioria (58%) dos participantes. Outras questões importantes que aumentam as chances de desenvolver o tumor não eram de conhecimento da maioria, como não ter filhos e ter a primeira menstruação muito jovem. A maior parte (54%) tem dúvidas ou não acredita no papel de proteção que a amamentação exerce contra o desenvolvimento do câncer de mama.
Diagnóstico precoce em risco por falta de informação
A falta de conhecimento não se restringe às questões de prevenção, e se estende também a dados fundamentais para garantir um diagnóstico precoce. A pesquisa “Câncer de mama hoje: como o Brasil enxerga a paciente e sua doença?” apontou que as brasileiras não têm noção da importância da mamografia para garantir um diagnóstico precoce: quase 80% acreditam que o autoexame das mamas é a principal forma de descobrir um tumor no início. E 35% das entrevistadas com mais de 55 anos acham que se o exame de mamografia não detectar alterações, a paciente pode seguir com a prevenção apenas com autoexame.
O oncologista Fernando Maluf, um dos fundadores do IVOC, lembra que descobrir o tumor na fase inicial aumenta significativamente as chances de cura. O médico recomenda fazer o autoexame mensalmente, pois ajuda a conhecer melhor o próprio corpo e a notar alterações. “Se perceber algo diferente nas mamas, busque sempre ajuda médica”, alerta. Mas Maluf avista que a única maneira de realmente identificar o câncer de mama nos estágios iniciais é fazendo periodicamente a mamografia.
Em caso de sintomas, sempre procure um médico. Para mais informações, acesse: cancer.org.br