Por Renato Müller
A disrupção do varejo global tem nome e sobrenome: Inteligência Artificial. Mas é somente a partir das pessoas que essa transformação tem alguma chance de acontecer. No primeiro dia da NRF Big Show 2025, em Nova York, a tônica do grande varejo americano foi de um olhar pragmático sobre o uso de tecnologia.
O primeiro alerta foi dado logo na abertura do evento, quando John Furner, presidente do Walmart nos Estados Unidos, disse que adotar IA é fundamental, mas não será nada fácil. “É complexo, é intimidante, mas é absolutamente necessário”, declarou.
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O tom ajudou a equilibrar a empolgação da vice-presidente da NVIDIA, Azita Martin, para quem a IA exige uma nova infraestrutura (impulsionada, evidentemente, por seus microprocessadores). “A IA é real e está aqui para ficar, causando transformações em toda a indústria. Portanto, a melhor hora de começar é agora”, afirmou.
A conexão entre pessoas e tecnologia dominou os debates acalorados em meio a uma Nova York com temperaturas próximas de zero grau. “Somos um negócio de pessoas, impulsionado por tecnologia. Empoderar as equipes é o que faz a diferença para os consumidores e, por isso, nos mantém no negócio”, afirmou Todd Garner, Chief Product Officer do Sam’s Club, a divisão de clubes de atacado do Walmart.
Para Alberto Serrentino, fundador da Varese Retail, estamos entrando em um novo ciclo de mudanças profundas no varejo global. “Essas mudanças estão sendo afetadas e impulsionadas pelo uso de Inteligência Artificial. Por isso, empoderar as equipes precisa estar na agenda estratégica de todo varejista. Para que os projetos decolem e tragam transformações efetivas, toda a cultura do negócio precisa apoiar as mudanças”, analisou.
E é nesse ponto que muitas ótimas ideias não saem do papel. “Nada acontece em um quadro-negro ou em um PowerPoint. No fim das contas, são as pessoas que fazem o varejo acontecer. Se elas não estiverem envolvidas na mudança, as empresas só vão desperdiçar recursos”, disse Brian Cornell, CEO da Target.
Para Azita Martin, da NVIDIA, os investimentos em IA só geram resultado se houver apoio dos níveis executivos, foco nos principais problemas do negócio e indicadores claros para registrar o progresso. “Quanto antes esse framework for colocado em prática, melhor para fazer a mudança acontecer”, afirmou.
A Inteligência Artificial, e a IA Generativa em particular, representa ameaças, mas também muitas oportunidades. E não é a primeira vez que um cenário como esse se apresenta no varejo. “Quinze anos atrás, tratávamos do e-commerce como uma disrupção que gerava muitas ameaças, mas também grandes oportunidades. O mesmo acontece com a IA Generativa hoje. Ela vai impactar todo o negócio do varejo, mas vai gerar oportunidades que ainda nem imaginamos. Por isso, é preciso avaliar os riscos, mas continuar avançando na adoção de tecnologia”, ponderou.