Varejo de Alimentos é o foco principal da multinacional que acaba de inaugurar fábrica 100% sustentável com investimentos de R$ 1 bi em Minas Gerais
O pequeno município mineiro de Araxá, famoso por suas águas termais, será conhecido também como a capital nacional da batata frita. É lá que a canadense McCain, maior produtora de batata congelada do mundo, dona de um faturamento de US$ 10 bilhões no ano passado, inaugurou na última semana sua primeira fábrica no Brasil.
A unidade, uma das 55 do grupo, recebeu investimentos de quase R$ 750 milhões e faz parte de um pacote de mais de R$ 1 bilhão nos últimos cinco anos. Com os aportes da matriz, a companhia fez aquisições. Em 2018, comprou 49% da rede de cafeterias Forno de Minas. Um ano depois, adquiriu 70% do capital da Sérya, concorrente no segmento de batata.
A megafábrica da McCain em Minas Gerais terá duas fases de ampliação dentro de um prazo de cinco anos. Quando estiver concluída, a empresa terá 100% de seus produtos fabricados localmente. Hoje, com a unidade já operando, 50% das vendas estão nacionalizadas.
A outra metade é importada das plantas na Argentina, França e Holanda, segundo o diretor-geral da McCain no Brasil, Aluizio Periquito. “Produzir no Brasil nos garante eficiência, agilidade e segurança na operação”, afirmou o executivo a esse veículo de comunicação. “Como um dos maiores produtores mundiais de batata, não faz sentindo depender de importação e expor a empresa a todas as oscilações cambiais e da cadeia global de fornecimento.”
Um dos maiores ganhos de eficiência está na gestão das despesas. A alta da inflação dos alimentos comprimiu as margens da companhia. Cerca de 55% dos custos são batata e óleo de algodão, utilizado na pré-fritura. Por isso, a McCain selecionou 28 grandes produtores rurais no Triângulo Mineiro para fornecer a matéria-prima com contratos anuais e fixos. O que, segundo Periquito, é bom para a empresa e ótimo para os batateiros da região.
Junto com a tropicalização das batatas, a McCain também planeja diversificar seu portifólio de itens no País. A empresa tem 25 linhas de produtos, desde opções para suprir a demanda do delivery até uma opção para airfryer — que fica pronta em 8 minutos.
Além disso, mais de 90% das batatas fritas vendidas em grandes redes de fast food, como McDonald’s, Burger King e Outback, já são fornecidas pela McCain. O segmento representou 50% do faturamento de R$ 1,1 bilhão em 2021.
O foco da empresa, agora, é ampliar sua presença no varejo supermercadista, que responde por 25%. “O consumo vai crescer em todas as frentes, mas o potencial maior está no varejo”, afirmou Periquito.
CRESCIMENTO
A perspectiva do País em engordar seus resultados globais do grupo é imenso. Segundo pesquisa da consultoria The Insight Partners, a taxa de crescimento do consumo de alimentos pré-prontos, como batatas fritas congeladas, é maior no Brasil do que a média mundial.
Até 2028, o segmento deve movimentar US$ 84 bilhões, com um ritmo de expansão de 4,2% ao ano. Diante desses números, a McCain projeta dobrar de tamanho a atual produção de 230 toneladas anuais de batata em quatro ou cinco anos.
A decisão de McCain de investir R$ 1 bilhão no País e ter sua primeira fábrica nacional foi motivada por alguns incentivos locais, como a doação do terreno pela prefeitura onde a planta foi construída.
Existe, no entanto, a expectativa de investimentos públicos e privados na infraestrutura da região. Todas as rodovias estaduais e federais que ligam Uberlândia (a segunda maior cidade do Estado) a Araxá, principalmente a BR-452 e a BR-262, onde estão gigantes como Ambev, Gerdau e Bayer, praticamente não têm asfalto. Os buracos e os acidentes diários fizeram a ligação ganhar o apelido de “corredor da morte”. Quase não há sinal de celular nas rodovias. Mesmo na fábrica, a conexão é precária.
Apesar do sucateamento da infraestrutura local, a McCain quer ser de primeiro mundo do portão para dentro. A unidade de Araxá, com 638 mil m2, é a primeira construída com recursos próprios.
A prioridade, segundo Periquito, é fazer da planta uma referência mundial em sustentabilidade. Por isso, 100% da energia é de fonte renovável e a empresa está se preparando para, em dois anos, certificar a fábrica com emissão neutra de CO2. Ao que tudo indica, mais do que apenas produzir localmente, a McCain pretende produzir batata para colher crescimento.
Fonte: Hugo Clio, Isto É Dinheiro e Diário Comércio