Transação da empresa que faturou R$ 180 mi no ano passado com 140 produtos de alto valor agregado, precisa do aval do CADE
Depois de colocar o pé no mercado de alimentação saudável com a compra da Fit Food no ano passado, a M. Dias Branco resolveu entrar de corpo inteiro. A companhia cearense acaba de comprar a Jasmine, marca que lidera categorias como granola, pão sem glúten e cookies integrais no país, segundo dados da Nielsen.
Fundada na década de 90 como negócio familiar no Paraná, a Jasmine passou a ser controlada, em 2014, pela multinacional Nutrition et Santé (empresa de alimentos do grupo japonês Otsuka). A marca deve fechar o ano com receita acima de R$ 200 milhões. O valor da transação não foi revelado pelas companhias, mas o periódico apurou que foi da ordem de R$ 350 milhões.
“Estamos adquirindo uma empresa que já tem liderança em três categorias, conectada com o consumidor do futuro. É uma empresa que pratica ‘saudabilidade’ desde sua fundação e é referência no segmento”, disse Gustavo Theodozio, VP de investimentos da M. Dias Branco. “Essa aquisição está muito conectada com nosso plano estratégico.”
Quase todo o portfólio da Jasmine é vegano, com exceção de 5% da linha, que leva mel na composição. Isso permite que a marca seja comercializada com selos importantes do segmento, como o Orgânico Brasil e Vegan. É uma das poucas fabricantes no país que pode efetivamente usar a palavra “orgânico” na embalagem, já que mais de 90% da composição de seus produtos tem essa origem.
Quando fundou a Jasmine, o casal Rosa e Cristophe Allain foi motivado pela dificuldade de encontrar produtos integrais em supermercados para consumo da família. Começaram a adquirir produtos de base, como arroz integral e açúcar mascavo, em maior escala e logo se tornou um pequeno negócio. De embalagens fracionadas a amigos, vizinhos e pequenas mercearias, a Jasmine foi a primeira marca nacional a colocar granola e cookie integral nas prateleiras de supermercados.
O M&A fortalece a presença da M. Dias Branco em seu principal alvo de crescimento, que são as regiões Sul e Sudeste. É dessa área que vem 50% das vendas da Jasmine, onde a compradora detém apenas 20% de market share. No Norte e Nordeste, o grupo tem em média 60% do mercado nas categorias principais, chegando a 90% em alguns estados.
Outra vantagem da aquisição, ressalta o VP, é a melhor margem bruta média. Na Jasmine é de 45%, contra 34% da compradora.
A distribuição da Jasmine, que hoje é terceirizada e chega a 26 mil pontos de venda, deve mais que dobrar – as farinhas, biscoitos e macarrão da M Dias Branco, dona de marcas como Adria, Puro Sabor, Piraquê, Isabela e Fortaleza, chegam a 101 mil pontos, por meio de logística interna.
Para isso, claro, o volume de produção também vai ter que aumentar. Theodozio conta que isso já estava no radar da marca. Com uma série de investimentos feitos ao longo dos anos pela controladora francesa em parque fabril, a Jasmine opera atualmente com capacidade ociosa de 70%.
A M Dias Branco incorpora mais de 140 itens ao portfólio, muitos deles inéditos em suas fábricas – e justamente aqueles em que a Jasmine lidera. É uma aquisição com mais que o dobro de tamanho da Latinex, a dona da Fit Food e da Smart absorvida no ano passado. O faturamento anual da Latinex é de R$ 60 milhões.
Latinex e Jasmine passam a se complementar em uma nova unidade de negócios, de healthy foods. Para administrar a vertical, a M Dias Branco vai manter os executivos de C-level da Jasmine após a conclusão do M&A (na compra da Latinex, levou os sócios para a equipe).
O segmento de alimentos saudáveis tem uma taxa média de crescimento anual estimada em 5,3% até 2025, no mundo todo, segundo dados das consultorias Statista e Mintel. Acima da indústria alimentícia em geral, portanto, projetada a 3,6%, e do mercado de indulgência/supérfluos, com 4,5%. Em mercados emergentes, consultorias projetam diferenças de taxas ainda maiores em ‘healthy food’.
A transação entre M. Dias Branco e a Nutrition et Santé foi assessorada pela Estáter e Pinheiro Neto, do lado do comprador, e pela Seneca Evercore, do lado do vendedor. O negócio agora depende de aprovação regulatória.
Fonte: Manuela Tecchio, Pipeline