Professor da London Business School condena a centralização das decisões que impedem a criatividade
As mudanças são inevitáveis em todos os setores da sociedade, desde as mídias, o Youtube, o Netflix, aos encontros via app, comunicação via zoom.. mas o que esperar dos nossos varejistas? Essa questão foi disparada Gary Hamel, professor at London Business School, que debateu sobre o tema “Construindo organizações para o futuro e a humanidade” na Convenção ABRAS 2022.
Gary já inicia sua palestra provocando a atenta plateia: “Estamos mudando tão rápido como o mundo ao redor de nós? – “Não”, ele responde. “Os tempos são diferentes!”
Hamel conta que em 1998, o Walmart era 200 vezes maior que Amazon. A montadora Tesla focou no carro “verde”, elétrico e saiu na frente no seu segmento. A realidade é que a nova geração já cresce num mundo diferente. “Você tem que entender o consumidor mais jovem, porque ele vai ser diferente dos seus pais.”
O que é necessário para fazer uma mudança profunda nas organizações?
- Quem são os nossos clientes e quais são as nossas estratégias? Sabemos que é necessária uma crise para que uma empresa se desafie e pense mais sério sobre o futuro.
- Todos, sem exceção, fornecedores, indústrias e supermercadistas precisam se adequar as novas demandas dos clientes, alertas o palestrante. “E muitas vezes digo… quando a gente se mobiliza pode ser tarde demais”, avalia.
Como construir uma organização que seja realmente otimista, que não se refugia numa ilha e mude antes de precisa mudar?
Há 15 anos, na Amazon, um funcionário quis fazer recomendações ao cliente de acordo com seu histórico de busca no site. O chefe disse não confunda o cliente dando informações adicionais para ele. Ainda assim, o criativo colaborador decidiu testar a ideia. Resultado: 30% da receita da Amazon vem dessas recomendações.
“Na minha experiencia, a inovação só pode vir de baixo para cima. Os mais próximos do problema estão em uma posição muito melhor para resolvê-lo. Todos devem ser capazes de experimentar, aprender e interagir. Posição, obediência e tradição não deveriam ter poder. Então se você quiser construir uma vantagem evolucionária, você precisa ter uma vantagem de inovação”, explicou o palestrante.
Inovação é o combustível para renovação
Mas para inovar e criar, é preciso ter tempo, ser bem remunerado. Hamel entrega: “o que importa hoje o ritmo da inovação. Esse é o determinante fundamental da competitividade. A boa notícia é que os humanos são muito criativos.”
Pesquisas dão conta que apesar de 79% dos executivos dizerem que inovação é a principal prioridade deles, 94% reconhecem que suas organizações não são boas em inovação que podem mudam o jogo dos negócios.
Faça o teste: você pode perguntar na sua empresa:
- Você foi treinado para ser inovador?
- Você investiu para desenvolver o seu capital criativo?
- Você tem acesso fácil a fundos e tempos para fazer experimentos?
- Você tem 50% do seu tempo para trabalhar em uma nova ideia?
Seu gerente é responsável por isso. Na minha experiencia, profissionais de linha de frente respondem não, não e não.
Ai preciso voltar-me ao CEO e dizer: você me disse que estava levando a sério a inovação, mas você não treinou, não facilita e você não dá responsabilidade para o seu colaborador.
Precisamos construir a vantagem inspiracional.
Você não pode ter negócios inovadores se os colaboradores não chegam animados para trabalhar, acreditando que podem causar impacto, sabendo que podem compartilhar as ideias, mas sabemos que todo humano tem alguma paixão.
Segundo o docente, está provado que as pessoas não têm paixão pelo trabalho. Apenas 20% dos colaboradores estão totalmente engajados com o seu trabalho.
Então, os outros 80% vão trabalhar e não levam iniciativas e toda a sua mentalidade. Dados indicam que um em cinco colaboradores acreditam que suas ideias são importantes na empresa. Um em oito pensam que podem influenciar em decisões. Um em dez pode fazer experimentos no trabalho.
- A prioridade de um líder é que você construa essa habilidade na sua organização.
- Quem empreende, tem mais garra
- Nossa meta é deixar todo mundo se tornar um CEO
- O ser humano é um fim e não um meio
- Se você quer construir uma organização que se encaixe no futuro, tem que começar.
- Como você libera a criatividade diária na sua empresa?
O palestrante finaliza: “o setor supermercadista emprega mais de dois milhões de pessoas. Que riqueza de genialidade e talento que o mercado possui. Mas o que precisa para liberar isso, é investir e confiar para que elas possam tomar decisões. Centralizar é um grande erro. Cada equipe precisa saber como sua ideia é utilizada. As organizações precisam ser mais laterais que verticais.