Por Redação SuperHiper
Além da inflação, o bolso de grande parte das famílias do País tem lidado com outro vilão: as apostas on-line, as populares “bets”. Isso porque, para uma parcela considerável dos brasileiros, elas representam erroneamente uma forma de investimento ou uma alternativa para recompor a renda. E isso já se reflete no consumo. Mesmo assim, os números apresentados pela Associação Brasileira de Atacadistas e Distribuidores (Abad) mostram resiliência, nos cinco primeiro meses do ano. E, diante disso, as projeções para o encerramento de 2025 são otimistas: crescimento nominal em torno de 7%.
Segundo os dados do Termômetro ABAD/ NielsenIQ, de janeiro a maio, o segmento registrou um avanço de 6,2% em comparação a igual período de 2024. Esse desempenho é resultado de quase um semestre com dinâmica positiva: janeiro registrou alta de 8%; fevereiro, de 6,7%, março, de 8,4%; e, em maio, o aumento no faturamento foi de 3,6%. Em relação a abril, o crescimento foi de 9,1%, após uma queda de 5,1% naquele mês frente a março.
Embora tenha havido uma desaceleração – em maio particularmente a leitura é de que ocorreu um baixo avanço em valor e queda em unidades – as projeções para o encerramento do ano são positivas, isto é, de reaquecimento de forma mais vigorosa. Especialmente porque, tradicionalmente, no segundo semestre o consumo tende a aumentar puxado pelas festas de fim de ano e pela chegada do verão.
Para o presidente da Abad e atual presidente da União Nacional de Entidades do Comércio e Serviços (Unecs), Leonardo Miguel Severini, os números divulgados reforçam a resiliência do setor e se tornam ainda mais relevantes quando analisados à luz do cenário macroeconômico atual, que continua marcado por desafios importantes, entre eles a inflação e as “bets”.
“Tanto pelo lado da Abad quanto da Unecs vemos a questão das apostas on-line como algo muito grave para o varejo ampliado e para os consumidores. Muitas pessoas que respondem pelos orçamentos familiares têm a percepção de que as “bets” são um complemento de renda. Temos muito claro que a decisão de querer apostar envolve o livre arbítrio de cada um. Defendemos uma economia de livre mercado, mas entendemos que o Brasil carece de uma legislação que aprimore questões relativas à propaganda e à tributação das apostas on-line.”
A análise de Severini foi corroborada pelo diretor de varejo da NielsenIQ, Domenico Tremarolli Filho. “Especialmente as classes com renda mais baixa acabam sentido mais os impactos do cenário econômico e isso se reflete diretamente na confiança dessas famílias. A tendência é que, diante desse cenário, o consumidor deixe de lado grandes compras para abastecimento e passe a priorizar volumes menores para reposição.”
E acrescentou. “Temos dados que mostram que 15% das famílias brasileiras utilizam ‘bets’ na expectativa que elas se revertam em uma segunda fonte de renda, sendo que isso dificilmente acontece, de fato. Sem contar que o consumo dos lares que declaram fazer parte dos apostadores retrai muito mais do que aqueles que não lançam mão disso. As consequências são menor frequência de compra e menos disponibilidade de renda para a compra de itens essenciais, como arroz e feijão. Além disso, os níveis de endividamento e inadimplência de lares com apostadores tende a ser maior. E isso reduz o consumo dessas famílias.”
Pequeno varejo
Ainda sobre o Termômetro ABAD/ NielsenIQ, Tremarolli destacou que o range de R$ 25 milhões a R$ 45 milhões foi o que mais contribuiu para o crescimento do setor, com 39,1%. O que demonstra a força do pequeno varejo.
Dessa forma, Tremarolli aproveitou o gancho para apresentar um estudo inédito da NielsenIQ sobre o pequeno varejo brasileiro, realizado com base em entrevistas feitas com 400 estabelecimentos em todo o País. O objetivo foi mapear o funcionamento do chamado “varejo de vizinhança” e compreender os fatores que influenciam suas decisões de compra, estrutura física, operação e relação com os canais digitais.
Segundo os dados, os canais tradicional e autosserviço independente representam 33% dos pontos de venda do varejo nacional, com destaque para sua participação de 30% no faturamento das cestas NielsenIQ. O canal tradicional, por exemplo, é o maior em número de pontos de venda (416 mil) e responde por 11% do faturamento. Por sua vez, o autosserviço independente representa 19% e ocupa a segunda posição, atrás apenas do cash & carry (atacarejo).
A pesquisa revela ainda forte concentração regional desse tipo de comércio no Nordeste, Sul e Sudeste, com participação que chega a representar mais de um terço do faturamento de bens de consumo rápido (FMCG) em algumas áreas.
Outro destaque do estudo é o perfil operacional desses estabelecimentos. As lojas independentes têm, em média, 300 metros quadrados, 2,5 check-outs e 7 funcionários – número que vem diminuindo nos últimos anos. Já as lojas do canal tradicional são ainda mais enxutas: média de 45 metros quadrados e apenas dois colaboradores. Muitas operam com estrutura mínima, como presença reduzida de refrigeradores e poucas opções de autosserviço.
A gestão desses pontos de venda também está mudando. Cresce a presença de gerentes contratados no lugar de proprietários, ao mesmo tempo em que se observa um perfil mais jovem, mais feminino e com maior escolaridade entre os responsáveis. Ainda assim, muitos dos processos seguem sendo manuais: 45% dos gestores utilizam sistemas próprios para controle de estoque, enquanto 22% recorrem ao Excel e 12%, a anotações em caderno.
Por conta de uma área de estoque reduzida, bem como de um número pequeno de colaboradores, esses estabelecimentos tendem a priorizar três fatores na hora de se abastecer: preço (isso é decisivo na escolha do canal que ele irá se abastecer), relacionamento e urgência.
Outra questão que impacta o abastecimento dos pequenos varejos é o giro dos itens. Higiene/beleza e limpeza tendem a ter um giro mais lento, portanto, nesses casos há uma preferência pelos atacadistas e distribuidores. Já as categorias que giram muito rápido (salgadinhos, carnes frescas, bebidas e cigarros), a tendência é buscar reposição em hipermercados, supermercados, atacadistas ou direto com o fabricante.
As informações foram divulgadas durante a coletiva de imprensa na segunda-feira (16) pela Abad que realiza, nesta semana, sua 44ª Convenção Nacional e Anual do Canal Indireto, em Atibaia (SP), cujo tema é: “Transformação inteligente – equilibrando inovação e propósito com foco no crescimento”.