A criação de valor conjunto entre indústria e varejo — conceito conhecido como Joint Value Creation (JVC) — tem ganhado protagonismo no setor supermercadista brasileiro. Nos últimos dois anos, o tema esteve no centro das discussões do Smart Market ABRAS 2025, refletindo a necessidade de fortalecer alianças estratégicas e buscar o “ganha-ganha” em um cenário econômico desafiador.
Segundo pesquisa recente com varejistas, realizada em janeiro, os principais resultados estratégicos esperados para os próximos 12 meses são o engajamento de funcionários e a retenção de clientes. Esses objetivos aparecem tanto para grandes quanto para médios e pequenos varejistas. Em seguida, destacam-se a busca por melhorias operacionais, aumento de produtividade e melhores resultados financeiros.
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O levantamento também revela que as intenções de formar joint ventures e alianças estratégicas mais que dobraram entre setembro de 2024 e janeiro de 2025, demonstrando que o setor aposta cada vez mais em parcerias para enfrentar desafios comuns. Entre os cinco principais desafios e oportunidades dessas alianças estão:
- Alinhamento de parceria, governança e cultura
- Logística e execução no ponto de venda
- Atendimento humano e loja perfeita
- Integração e visibilidade de dados
- Personalização de produtos e experiência do consumidor
A sócia da EY e líder de consumo, produtos e varejo para a América Latina, Cristiane Amaral, destaca que a maturidade das parcerias varia: “Nem todos os parceiros estão no mesmo estágio. Existem relações mais transacionais e outras já estratégicas e transformacionais.” Ela reforça que o sucesso depende do alinhamento de objetivos, governança estruturada e disciplina no acompanhamento dos planos conjuntos.
O vice-presidente comercial e logística do Assaí Atacadista, Wlamir dos Anjos, ressalta que a execução é fundamental: “Não adianta ter um ótimo planejamento se não houver execução na ponta. O papel da indústria é colaborar para que o plano se concretize, com governança, painéis de acompanhamento trimestrais e revisão de KPIs.” Ele aponta que o JVC exige transparência e compartilhamento de dados em nível elevado, além de disciplina para ajustes constantes diante das mudanças do cenário macroeconômico.
A vice-presidente de vendas da Mondelez Brasil, Juliana Bonamin, enfatiza a importância de clareza nos objetivos e abertura para correção de rotas: “Tem que ter intimidade para compartilhar ambições, planos claros e acompanhamento constante. Quando a parceria atinge maturidade, há abertura para recomendações mútuas e busca conjunta por soluções.” Ela cita como boas práticas a eficiência logística ponta a ponta e a regionalização das estratégias, adaptando-se às diferentes realidades do país.
O general manager foods Brazil da Unilever, Rodrigo Visentini, reforça o papel do compartilhamento de dados e do planejamento conjunto para criar valor real: “O valor está em aumentar o consumo da categoria e a cesta do varejista, não apenas em ganhar mercado. Planejar campanhas com antecedência, integrando dados, permite evitar rupturas e potencializar resultados para todos.”
O consenso entre os líderes é que a criação de valor conjunto depende de confiança, integração de dados, governança sólida e, sobretudo, execução disciplinada. O movimento de aproximação entre indústria e varejo se consolida como resposta aos desafios de um mercado cada vez mais competitivo e imprevisível, com foco no consumidor e na sustentabilidade dos negócios.