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Gigante de alimentos vê com cautela migração para marcas mais baratas

De Administrador SH
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Indústria líder de arroz e açúcar planeja novas aquisições e lançamentos no segmento de café  

Em 2021, a Camil entrou em massas, café e fincou bandeira no Equador. Gostou do tempero e quer mais: seus planos são avançar em novos segmentos e reforçar a atuação internacional nos curto e médio prazos. A estratégia é deixar de lado a imagem de uma produtora de arroz e feijão para uma multinacional de alimentos.

“Como multinacional brasileira, visamos alcançar posição de destaque em todos os segmentos em que atuamos e ser uma plataforma de alimentos na América Latina”, diz Flávio Vargas, diretor financeiro e de relações com investidores, em entrevista exclusiva ao Broadcast Agro.

Líder nacional em arroz e açúcar e vice-líder no mercado de feijão, a empresa tem ainda participação no segmento de pescados enlatados. “Independentemente dos cenários desafiadores dos países nos quais atuamos, nos preparamos com portfólio defensivo para potencializar o crescimento constante”, afirma Vargas.

Novos mercados

Hoje, a Camil tem operações em cinco países: Brasil, Uruguai, Chile, Peru e Equador. A frente internacional da companhia representa cerca de 30% do faturamento. Para expansão dos negócios, a Camil tem no radar mercados como Colômbia, Argentina e Venezuela.

De acordo com Vargas, a empresa vende cerca de 50% do arroz produzido no Uruguai, no Chile e no Peru. No Equador, onde entrou recentemente com a compra da empresa de arroz Dajahu, a empresa detém cerca de 10% do mercado do cereal no geral e 20% em produto especial “envelhecido”.

Para o analista de alimentos e bebidas do Itaú BBA, Gustavo Troyano, a compra da Camil no Equador é a continuidade de um processo que começou há anos. “Não só o contexto atual de demanda por alimentos, mas também o potencial que a Camil tem para otimizar as operações adquiridas, são os principais fatores que justificam esses investimentos”, afirma Troyano.

No exterior, a empresa quer crescer por meio de fusões e aquisições. “O pontapé inicial se dá pelo arroz, por ser o DNA da empresa”, afirma Vargas. “Entramos com conforto em arroz para depois buscar a diversificação.” No último ano, além da equatoriana Dajahu, a Camil comprou o Pastifício Santa Amália, de massas, e o café Seleto, da JDE. A estratégia da companhia é um misto entre crescimento orgânico e a compra de ativos que são integrados à plataforma produtiva.

Sobre a expansão para novas categorias e geografias, o analista do BBA diz haver potencial de geração de valor “muito grande” para ser destravado. “Com empresas de produtos de alto giro e mercearia seca, a Camil vai agregando produtos ao seu portfólio e ganhando escala. Isso deveria resultar em um ganho de rentabilidade depois que as aquisições forem completamente integradas à plataforma da companhia”, diz Troyano.

A Camil vende produtos para mais de 60 países atualmente. A exportação é feita não só no Brasil, mas também no Uruguai. Na venda externa, o foco é arroz, com comercialização pontual de açúcar, sem ambição de exportar massas e café no momento.

Novas aquisições no Brasil não estão descartadas. O interesse da empresa está na ampliação de derivados de trigo, temperos e molhos. Mas, no curto prazo, o foco está no lançamento de produtos de café e na integração de negócios recentemente adquiridos, como a Santa Amália, que permitirá à empresa ampliar a venda além de massas para a região.

Planos para 2022

O fôlego para oportunidades de aquisição está lastreado na capacidade financeira da empresa. A Camil encerrou o segundo trimestre fiscal, em agosto, com caixa de R$ 1,366 bilhão, incluindo aplicações financeiras e alavancagem (relação entre dívida líquida e Ebitda) de 1,6 vez. O indicador ainda não inclui a despesa com as compras recentes feitas pela empresa da Dajahu, Santa Amália e Seleto.

Com lucro líquido de R$ 105,6 milhões (queda anual de 23,2%) e receita de R$ 2,2 bilhões (alta anual de 24,4%) no segundo trimestre, a Camil teve um 2021 bom, após resultados excepcionais em 2020, em virtude da pandemia. “Para o ano que vem, estamos com otimismo cauteloso”, diz Vargas. “Esperamos que não haja mudança grande do ponto de vista dos preços dos produtos e da base de receita.” O desafio para o desempenho continua sendo o contexto macroeconômico, com redução do poder de compra do consumidor, desemprego elevado e elevação de custos gerais.

O maior risco é a migração do consumidor para marcas mais baratas. Vargas diz que o aumento dos custos gerais é mais difícil de ser repassado ao valor do produto final do que o aumento das commodities. “Temos conseguido fazer repasse das commodities”, afirma. “A inflação da matéria-prima é repassada para o preço, mas em custo – mão de obra, frete, energia.”

Fonte: Por Isadora Duarte, Estadão

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