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FFLV+O: oportunidades e desafios

Mudanças na dieta e nos hábitos de consumo, bem como longevidade, maximizam potencial dessas categorias. No entanto, desperdício e eficiência operacional são gargalos. E, para driblar isso, tecnologia e inovação viram aliadas

De Redação SuperHiper
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Por Giseli Cabrini

Mudanças na dieta e nos hábitos de consumo, no sentido de reduzir a compra de ultraprocessados e ampliar a presença de frutas, legumes, verduras e ovos no cardápio e nos carrinhos, compõem um terreno fértil para os perecíveis e, por consequência, para o varejo alimentar. Contudo, nem tudo são flores — literalmente — para o segmento que passou a ser conhecido por FFLV+O. A sigla, que já representava os itens frescos, passou a incorporar ovos e flores. Entre seus espinhos estão reduzir o desperdício e aprimorar a eficiência operacional.

Porém, para driblar isso, a cadeia de abastecimento, e em especial o varejo alimentar, já têm duas aliadas de peso: a tecnologia e a inovação, que incluem até mesmo o uso de inteligência artificial (IA). Nessa direção, destacam-se as embalagens tanto voltadas a facilitar e evitar perdas durante o manuseio quanto a minimizar impactos ambientais — isto é, opções biodegradáveis e até “compostáveis”. Outra questão recai sobre versões que ampliem o shelf life dos produtos.

Existem novidades também em relação a sistemas de nebulização e de desinfecção, e até na forma de vender os perecíveis. Sim, já há vending machines voltadas à comercialização de itens frescos, como bananas — uma novidade que já está em operação em redes como Pão de Açúcar e Sam’s Club.

Para explorar mais o assunto, SuperHiper entrevistou a Country Manager da International Fresh Produce Association (IFPA) no Brasil, Valeska Oliveira Ciré.

De que forma mudanças na dieta e nos hábitos de consumo, no sentido de reduzir a ingestão e a compra de ultraprocessados, representam uma oportunidade para a seção de FFLV+O?
O que a gente tem visto é uma febre em busca por soluções que agilizem a perda de peso. O grande benefício para os alimentos frescos é enxergá-los como aliados necessários para a manutenção do peso em níveis adequados em longo prazo. Além dos perecíveis, isso gera oportunidades para suplementos. Em paralelo, há os chamados “hypes” [gíria moderna amplamente usada para descrever algo que está em “alta” no momento, uma nova tendência], a exemplo do que aconteceu mais recentemente com o morango do amor.

Como o varejo alimentar pode se beneficiar disso?
A cesta de FFLV+O é composta por categorias de destino que estimulam a ida do cliente ao ponto de venda. Até o formato atacarejo já despertou para isso e tem ampliado sua área destinada a esses itens. Portanto, o varejo alimentar pode potencializar isso por meio de uma exposição diferenciada nas gôndolas, de expansão de ocasiões de consumo e de público [linhas de perecíveis específicas para crianças], de oferta de mais conveniência [fresh cut FFLVs — alimentos frescos minimamente processados, cortados, embalados e prontos para consumo], e da adoção de tecnologia e inovação. Outra questão muito importante é mostrar que, embora essas categorias sejam vistas como commodities, elas têm marcas. E, assim, gerar uma identificação disso com o consumidor. Ou seja, não apenas vender produtos, mas bem-estar. Importante também ressaltar a importância da rastreabilidade. Os consumidores querem, cada vez mais, saber a origem daquilo que estão consumindo. Nesse sentido, destaco o Programa de Rastreabilidade e Monitoramento de Alimentos da ABRAS, o RAMA.

E a questão da tecnologia e da inovação?
O uso da inteligência artificial já faz parte do segmento e não é algo de outro planeta. A IA é perfeitamente aplicável em todas as etapas dessa cadeia. Por exemplo: desenvolvimento de novas variedades, estudo de solo, criação de embalagem e aprimoramento de processos como logística, leitura de dados e rastreabilidade, bem como de controles e auditoria. Porém, mesmo com tecnologia e inovação, a quebra ainda é grande. Nesse sentido, é preciso olhar para o todo e identificar o que eu perco de fato e as razões disso. A tecnologia ajuda, mas o que salva a margem é um processo bem executado todos os dias.

Você tocou numa questão-chave: a eficiência operacional. Como aprimorar isso quando o assunto é a cadeia de FFLV+O?
Quando a gente fala de eficiência operacional, o primeiro ponto para melhorar é o conhecimento da operação de ambos os lados: o fornecedor e o varejista. Isto é, estar por dentro das variedades, das sazonalidades e das inovações. Quem atua nessa área tem uma empresa a céu aberto, e isso vale também para o supermercadista. Um ponto muito sensível está no alto turnover do varejo. Ter isso em conta isso é essencial para um aspecto muito importante para esse segmento: o treinamento. Quem lida com perecíveis precisa ter conhecimento tanto para exercer suas atividades quanto para replicar isso para o consumidor. Resumindo: não dá para tratar uma maçã da mesma forma que você faz com um ovo. A IA pode ser uma aliada importante nesse sentido, a fim de minimizar essa mão de obra que está faltando.

Confira, a seguir, um resumo dos principais insights sobre FFLV+O:

Tendências

A longevidade está no centro das decisões de consumo. Segundo a pesquisa da Euromonitor International, 34,9% dos consumidores globais pretendem aumentar seus gastos com saúde e bem-estar nos próximos cinco anos. No Brasil, o índice é de 33,4%.

O hábito de consumir frutas e vegetais frescos está diretamente ligado à meta de chegar bem à terceira idade. De acordo com o levantamento, 65,8% dos brasileiros afirmaram querer comer mais alimentos frescos — número que supera as médias globais e das outras regiões analisadas.

A preocupação com o custo de vida apareceu em todos os mercados. No Brasil, 77,9% dos consumidores demonstram preocupação com o aumento dos preços de itens do dia a dia. Porém, se um produto tem um benefício bem comunicado, como o enriquecimento com um nutriente específico, o consumidor brasileiro está disposto a pagar mais.

A transparência nas alegações sustentáveis também influencia a escolha no ponto de venda. Os consumidores brasileiros lideram em confiança nas etiquetas de produtos recicláveis (69,1%), naturais (63,6%) e orgânicos (58,2%), conforme dados da pesquisa da Euromonitor.

Com a influência crescente da Geração Z, aumenta a atenção sobre embalagens recicláveis, aditivos e conservantes.

Tecnologia

Ao tratar da adoção da IA no setor, 92% dos colaboradores em empresas do agronegócio planejam ampliar o uso da tecnologia nos próximos anos. Esse movimento pode gerar ganhos de produtividade e eficiência, como já vem sendo observado no Brasil.

Entre os exemplos globais da aplicação da IA no setor está o uso de embalagens adaptadas para produtos FFLV, cujo manuseio, em todas as etapas de envasamento, considera a sensibilidade dos alimentos.

Inovação

Soluções reutilizáveis para transporte e armazenagem, com foco em eficiência operacional e economia circular. Existem ainda ganhos adicionais, como redução de resíduos, uso de insumos descartáveis e agilidade na contenção de embalagens e paletes.

Ampliação de shelf life: embalagens sustentáveis produzidas a partir de fibras vegetais do bagaço de cana-de-açúcar. Elas são biodegradáveis, “compostáveis” e mantêm o frescor dos alimentos. Há também conservadoras em EPS que evitam o amassamento, preservam a cadeia de frio e contribuem para prolongar a validade desses itens. Importante destacar que a economia circular está contemplada por meio de matéria-prima reciclada a partir do EPS pós-consumo.

Sistemas de nebulização de alta performance utilizam tecnologia piezoelétrica para garantir umidade constante, reduzir custos operacionais e ampliar a segurança nos processos, com soluções voltadas a hortifrúti, floriculturas, estufas e câmaras frias. A linha de desinfecção ainda distribui sanitizantes de forma uniforme em ambientes como frigoríficos e padarias, com equipamentos programáveis e suporte técnico especializado.

Vending machines para itens frescos, como bananas: a tecnologia oferece uma alternativa eficiente especialmente para lojas de proximidade e horários com menor disponibilidade de mão de obra. Com capacidade para armazenar até 80 kg de fruta, a solução evita rupturas nas gôndolas e ainda tem o suporte de promotores e degustadores para reposição e aproveitamento de excedentes, contribuindo para uma operação mais sustentável. O equipamento já está em operação em redes como Pão de Açúcar e Sam’s Club, com impacto direto na redução de quebras e no aumento das vendas.

Fonte: The Brazil Conference & Expo

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