Custos elevados, questões culturais e aplicações em condições específicas limitam ganhos de lojas 100% automatizadas
Por Renato Müller
A Amazon vem enfrentando dificuldades em sua estratégia de crescimento no setor de supermercados. Depois de interromper a abertura de unidades Amazon Fresh no ano passado, a empresa suspendeu a expansão das lojas autônomas Amazon Go – e passou a fechar alguns desses pontos de venda.
Nesta semana, a empresa fechou sua loja número um, no centro de Seattle, no terceiro PDV autônomo fechado na cidade desde o início do ano. Nos últimos 12 meses, 25% da rede Amazon Go encerrou as operações no mercado americano, incluindo dois pontos em Nova York e 4 em San Francisco.
Segundo o analista Laureano Turienzo, a Amazon Go conta com 514 lojas, mas sua participação de mercado é a mesma de 2017, em uma demonstração clara de que nem sempre a expansão gera crescimento. De certa forma, isso é reconhecido pela Amazon: em abril, em sua carta aos investidores, o CEO Andy Jassy disse estar “trabalhando duro para identificar o formato de supermercados adequado para a Amazon”. Cada vez mais, parece que esse formato não é o de uma loja sem funcionários.
Mas por que o conceito, considerado por muito tempo como “o futuro do varejo”, vem enfrentando dificuldades para se manter em pé? Para o especialista em varejo Igor Paparoto, não existe uma resposta simples. “O formato de lojas autônomas funciona bem para um público mais ligado em tecnologia, em localizações com uma forte vocação de conveniência, especialmente onde seja difícil encontrar pontos comerciais para lojas maiores. Por isso, tem uma aplicação limitada”, afirma.
O que não significa que esse modelo de negócios não seja capaz de superar desafios como identificar a localização perfeita, superar as inseguranças dos consumidores sobre a confiabilidade das lojas autônomas e acertar em um sortimento hiperlocalizado. Mas essas podem ser barreiras para o uso dessa tecnologia em boa parte do varejo. “O mercado de grocery, em geral, ainda não está preparado para analisar a jornada do consumidor como o e-commerce faz. E a grande riqueza das lojas autônomas está justamente na capacidade de coletar dados para identificar comportamentos e então otimizar o mix e a operação”, analisa.
Outro fator importante são os custos. A Amazon não abre seus investimentos em cada loja, mas startups que cresceram na onda das lojas autônomas têm conseguido trazer soluções mais baratas, “tropicalizando” conceitos e flexibilizando o formato. Um bom exemplo é a loja autônoma da rede paranaense Muffato em Curitiba (PR), que utiliza tecnologia da portuguesa Sensei: o PDV é híbrido, atendendo tanto clientes que querem a jornada autônoma quanto clientes tradicionais.
Se por um lado esse modelo mantém os clientes que compram da forma convencional, também não reduz os custos de pessoal de uma forma tão radical quanto uma loja autônoma. “Existe sempre uma distância entre o mundo ideal da tecnologia de alta eficiência e a vida real, de custos, comportamentos e padrões culturais. Acredito que, levando esses pontos em conta, as lojas autônomas terão um espaço importante no varejo”, afirma Paparoto. Nem “futuro do varejo”, nem fracasso total.