Atacarejo desconhecido da maioria, enxergou em Caio Lira o executivo ideal para alavancar a marca em território carioca
Ainda desconhecido de grande parte dos consumidores, o Dom Atacadista conseguiu atrair um vice-presidente da Ambev com uma missão ambiciosa: quintuplicar o faturamento do mais novo competidor do “atacarejo” no Rio em quatro anos. Para dar certo, a rede terá que ganhar espaço entre gigantes como Atacadão e Assaí e driblar a morosidade do PIB. Mas a companhia tem a seu favor uma conjuntura econômica de inflação, que favorece o “atacarejo” na comparação com o supermercado tradicional, e a sociedade com um dos maiores grupos do setor no país.
— O “cash and carry” (jargão do setor para “atacarejo”) nasceu focado nas classes C e D, mas hoje não é difícil ver os públicos A e B frequentando o Assaí na Barra da Tijuca, por exemplo. Desde 2010, a conjuntura econômica favorece o “cash and carry”, porque as famílias brasileiras passaram a buscar novas formas de compra e encontraram nele uma proposta de valor adequada à sua renda — diz Caio Lira, que assumiu semana passada como diretor-geral do Dom.
‘Mercado estava aberto’
O Dom foi fundado em 2019 por Erasmo Gonçalves, ex-sócio do grupo Torre, um dos donos da rede Supermarket. Gonçalves enxergou uma lacuna no mercado de “cash and carry” do Rio, que praticamente só era explorado por Assaí e Atacadão (do grupo Carrefour). Gonçalves trouxe para sociedade outro egresso do Supermarket, Paulo Bonifácio.
— A oportunidade que o Erasmo viu é que não tinha nenhum “player” regional legitimamente do Rio operando o “cash and carry”. E o mercado também estava aberto, com oportunidades de crescimento mesmo em áreas com o perfil desse canal — afirma Lira.
A primeira loja do Dom foi aberta pouco antes da pandemia em Realengo, Zona Oeste do Rio.(Curiosamente, o Atacadão abriu uma unidade na mesma rua, a 500 metros de distância, praticamente ao mesmo tempo). A companhia ganhou fôlego durante a quarentena, com o salto de vendas de itens de supermercado. Hoje, a rede já tem dez lojas, das quais seis na região metropolitana e quatro em outras regiões do estado (Teresópolis, Araruama, Macaé e Angra dos Reis).
Grupo mineiro tem metade da rede
Em março deste ano, a rede Mart Minas — 12º maior grupo de supermercados do país, segundo ranking da associação do setor, a Abras — comprou metade do Dom Atacadista. No ano passado, o grupo faturou R$ 5,3 bilhões e tinha 50 lojas. (O Dom Atacadista não aparece no ranking da Abras, mas a companhia anunciou à época da combinação de negócios que suas receitas já estavam R$ 1,2 bilhão.)
Potiguar formado em administração pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Caio Lira ficou 22 anos na Ambev, passando por posições em todas as regiões do país e chegando ao cargo de vice-presidente de “off trade” — que, por alguma razão, é o termo usado pela gigante de bebidas para tratar de canais de varejo, que não são englobados por bares e restaurantes.
O convite para assumir o Dom chegou no momento em que Lira estava decidido a sair da Ambev para empreender. Feita por empreendedores com os quais Lira tinha relacionamento em suas funções na cervejaria, a proposta contemplava um “modelo de sociedade” que o convenceu:
— A empresa é nova, não está no “top of mind” do consumidor. Precisa fazer esse trabalho de construção de marca, o que me atraiu.
Depois de entrar no Dom, o plano do grupo Mart Minas — e, logo, a missão de Lira — é elevar a receita combinada dos grupos para a casa dos R$ 16 bilhões até 2025 — um crescimento anual nominal de 25% ao ano. Segundo o executivo, a ambição é que as receitas do Dom respondam por R$ 6 bilhões daquele total, chegando a 30 lojas. O foco da rede de “atacarejo”, por enquanto, está exclusivamente concentrado no Estado do Rio.
— O plano de expansão é robusto. Temos mais três lojas para abrir este ano, bairros importantes como Campo Grande. No ano que vem, queremos chegar à Barra da Tijuca.
Uma das metas de Lira é digitalizar as operações do Dom:
— Hoje, não temos e-commerce nem delivery, por exemplo. O plano é a gente estudar como fazer isso em algumas oportunidades. Não devemos implementar em todas as unidades, mas vamos olhar onde faz sentido.
Fonte: Rennan Setti, Capital, O Globo