Por Paulo Garcia, CEO da InfoPrice
Você, profissional do varejo ou da indústria, já parou para pensar no real impacto que pequenas ineficiências diárias causam na sua rentabilidade? Sabe onde estão os maiores “ralos” de dinheiro na sua operação?
A busca por respostas a essas perguntas nos leva a um indicador fundamental: o Índice de Eficiência Operacional. Mais do que uma métrica, ele é um guia estratégico para a sustentabilidade e o crescimento do negócio.
A discussão sobre perdas no varejo não é nova, mas a abordagem, felizmente, evoluiu. Hoje, falamos em “gestão da eficiência”, uma mudança de mentalidade que a Associação Brasileira de Supermercados (ABRAS) tem liderado. Trata-se de uma visão que busca não apenas prevenir perdas, mas otimizar cada recurso para maximizar os resultados.
Os dados mais recentes da 25ª Pesquisa de Eficiência Operacional da ABRAS, divulgados em 2025, mostram que o setor supermercadista brasileiro atingiu um índice de eficiência de 98,11%. O índice de ineficiência, ou perdas, ficou em 1,89%.
Pode parecer pouco, mas esse percentual representa um volume financeiro gigantesco que deixa de ir para o caixa das empresas. Basicamente, para cada R$ 100.000.000,00 faturados, cerca de R$ 1.890.000,00 são perdidos.
Curiosamente, esse resultado é visto como um avanço. O motivo? Houve um aumento significativo da participação de produtos perecíveis nas lojas, categorias que, por sua natureza, possuem um índice de perdas mais elevado.
Manter a estabilidade no indicador, mesmo com uma operação mais complexa, demonstra que o setor está, de fato, mais competente na gestão de suas perdas.
O mapa das perdas: onde focar os esforços?
Para otimizar a eficiência, o primeiro passo é entender a origem das perdas. A pesquisa da ABRAS as divide em três grandes alavancas, nos dando um roteiro claro de atuação.
1. Quebra Operacional (68%): De longe, a maior vilã. Engloba todos os produtos que se tornam impróprios para a venda, seja por avarias, contaminação ou, principalmente, prazo de validade expirado. O aumento na representatividade desta alavanca (de 59% para 68%) pode indicar algo positivo: mais varejistas estão medindo e reportando suas quebras, um passo essencial para a melhoria contínua.
As principais causas da quebra operacional são:
- Prazo de validade: 37%
- Produtos impróprios para consumo: 28%
- Produtos avariados: 24%
2. Desvio Operacional (21%): Aqui se enquadram as perdas não identificadas, como furtos (externos e internos) e erros de fornecedores. A boa notícia é a queda de 28% para 21% na participação desta categoria, o que sugere um avanço nas estratégias de segurança e controle de recebimento. O furto externo ainda é o maior desafio, representando 71% desses desvios.
3. Perdas Administrativas (11%): Embora seja a menor fatia, não pode ser negligenciada. Refere-se a falhas em processos internos, como erros de inventário (45%) e outros erros administrativos (36%), como erros de cadastro de produtos e problemas na precificação. São perdas silenciosas que corroem a lucratividade.
Estratégias para otimizar a eficiência operacional
Com o diagnóstico em mãos, é hora de agir. Otimizar o índice de eficiência operacional exige uma abordagem multifacetada, que vai da gestão de riscos à tecnologia.
Gestão de riscos e prevenção
O combate ao furto externo, principal causa dos desvios operacionais, vai além da segurança patrimonial. É preciso investir em tecnologia, como sistemas de monitoramento inteligentes, mas, fundamentalmente, em treinamento.
As equipes de loja devem estar preparadas para atuar de forma protocolada e adequada, evitando que uma ação de prevenção se transforme em uma crise de imagem para a marca.
Gestão de estoque e validade
O vencimento de produtos é a principal causa de quebra. Isso acende um alerta para a necessidade de uma gestão de estoque e validade impecável.
Categorias como Frutas, Legumes e Verduras (FLV), açougue e padaria são as mais críticas e exigem atenção redobrada. A implementação de sistemas como o PEPS (Primeiro que Entra, Primeiro que Sai) é crucial, assim como a criação de processos para identificar produtos próximos ao vencimento e acelerar sua venda por meio de ações promocionais.
Acuracidade nos processos
Erros de inventário e problemas no recebimento de mercadorias são fontes constantes de prejuízo. A chave para combatê-los é a acuracidade. Processos de recebimento bem definidos, com conferências rigorosas, evitam que divergências com fornecedores se tornem perdas. Da mesma forma, a realização de inventários periódicos, apoiados por tecnologia, garante a confiabilidade dos dados de estoque, que é a base para qualquer decisão estratégica.
O papel da precificação inteligente na eficiência operacional
Neste ponto, a tecnologia se revela uma protagonista na jornada pela eficiência. Ferramentas de precificação inteligente, como as que desenvolvemos na InfoPrice, são a peça que faltava no quebra-cabeça da rentabilidade do varejo.
Imagine um sistema que analisa em tempo real o histórico de vendas, a elasticidade-preço de cada produto, o comportamento do consumidor e o estoque disponível. Com base nesses dados, a inteligência artificial pode sugerir o desconto ideal, no momento exato, para garantir que um item próximo do vencimento seja vendido, e não descartado.
Essa é a essência da precificação inteligente. Ela transforma um problema iminente – a perda de um produto – em uma oportunidade de negócio, gerando receita e atraindo fluxo de clientes para a loja.
Com ferramentas preditivas, como a previsão de demanda, é possível identificar a redução de preço mínima necessária para vender o produto, protegendo ao máximo as margens de lucro.
Além disso, ao analisar constantemente os dados de vendas, essas plataformas ajudam a identificar produtos com baixo giro, permitindo ações proativas antes que eles se tornem um problema de validade.
Isso otimiza o capital de giro e libera espaço nas gôndolas para produtos mais rentáveis. A tecnologia, portanto, não apenas automatiza processos, mas traz uma nova camada de inteligência para a gestão do negócio.
O futuro é eficiente
A jornada para aprimorar o índice de eficiência operacional é contínua e exige um olhar constante para o futuro. Os dados da ABRAS mostram que o varejo brasileiro está no caminho certo, mas há um vasto campo para avançar.
A mudança de paradigma de “prevenção de perdas” para “eficiência operacional” é mais do que uma simples troca de termos; é uma nova filosofia de gestão.
Nessa nova visão, cada processo, da gestão de pessoas à tecnologia adotada, é uma engrenagem que trabalha para a máxima rentabilidade.
Investir em processos robustos, treinar equipes e adotar tecnologias como a precificação inteligente não são mais diferenciais competitivos, mas sim necessidades para quem deseja prosperar em um mercado cada vez mais dinâmico.
Para nós, da indústria e do varejo, o desafio é claro: usar os dados e a tecnologia disponíveis para tomar decisões mais inteligentes, transformar desperdício em oportunidade e construir um setor cada vez mais forte, rentável e sustentável.