Ainda que o mercado brasileiro de chocolate já movimente cerca de US$ 3,38 bilhões por ano e a expectativa seja de alcançar US$ 4,15 bilhões até 2029, o desempenho da categoria no primeiro trimestre de 2025 revela um cenário amargo para as vendas no País. A chave para virar isso e se manter relevante no carrinho exige inovação e, principalmente, um olhar atento ao bolso e à dieta do consumidor.
A crise global do cacau, que elevou os preços da matéria-prima a patamares históricos, já se reflete no bolso e, consequentemente, nas gôndolas. A quebra de safra do insumo em países da África Ocidental, responsáveis por 65% da produção mundial, fez o preço da matéria-prima disparar, levando o quilo do produto a triplicar e atingir, em abril deste ano, o maior valor em cinco décadas. Relatório da Organização Internacional do Cacau revelou que 81% das plantações em Gana – o segundo maior produtor mundial – estão infectadas pelo vírus, cuja sigla inglês é CSSV. Ele causa a doença do broto inchado do cacau.
Com isso, o consumo domiciliar de chocolates caiu 19% em volume no primeiro trimestre de 2025. De janeiro a março, o valor médio por quilo subiu 17%, pressionando o bolso do consumidor. A retração, no entanto, foi mais branda quando analisada em unidades (-10%), o que mostra uma mudança no comportamento de compra: os brasileiros estão migrando para embalagens menores, que provocam menor impacto no orçamento. Com isso, o consumo da versão em barra foi o mais afetado.
Produtos com até 60g cresceram 2%, enquanto tamanhos maiores recuaram 4,8%. O preço médio por unidade subiu apenas 3%, favorecendo essa estratégia de contenção de gastos.
Entre junho de 2024 e janeiro de 2025, os preços médios das barras de chocolate e dos bombons subiram, atingindo picos de R$ 113,84 e R$ 113,93, respectivamente, no início de 2025. Se a partir de fevereiro, o valor dos bombons começou a cair, chegando a R$ 107,94 em maio, as barras de chocolate voltaram a subir em abril, alcançando R$ 108,73 naquele mês.
Já o creme de chocolate foi a única categoria a apresentar alta contínua no período, subindo 14,7% e encerrando maio a R$ 99,41, seu maior valor no intervalo analisado. Embora tenha caído de R$ 86,64 em junho do ano passado para R$ 83,00 em dezembro, o preço reverteu a tendência e cresceu mês a mês entre janeiro e maio de 2025, consolidando o aumento acumulado de 14,7% em 12 meses.
Porém, curiosamente, as variações no mercado não impediram o crescimento de itens mais indulgentes. Chocolates recheados e bombons registraram presença de 67,3% nas compras em maio, com elevação de 2,1 pontos percentuais (p.p.) ante janeiro. Em contrapartida, as barras de chocolate perderam espaço em igual período, com redução de -5,1 p.p.
De modo geral, a tendência é de redução no consumo em todas as faixas socioeconômicas, com destaque para os consumidores acima de 40 anos e sem crianças no domicílio – grupo que tradicionalmente sustenta o consumo regular, mas que agora adota estratégias que priorizam moderação e porções menores.
O chocolate também começa a perder espaço dentro de casa para outras categorias da mercearia doce, como leite condensado, creme de leite, bolos industrializados e leite em pó – opções mais versáteis no preparo de receitas e, muitas vezes, mais acessíveis.
Fora do lar, o cenário também é desafiador. A queda foi de 15% em volume no primeiro trimestre de 2025, com o chocolate sendo substituído por outras indulgências, como sorvetes, bolos prontos, refrigerantes e até bebidas energéticas. As classes D e E, junto aos consumidores millennials, lideram essa retração, enquanto as classes A, B e C ainda sustentam parte da demanda.
Outro ponto de atenção recai sobre a preocupação com a saúde, principalmente em relação ao alto teor de açúcar. O público se mostra cada vez mais atento à composição dos alimentos. Por isso, versões amargas, com menos açúcar e formulações mais saudáveis devem crescer.
Vale registrar que a categoria de chocolate em pó, entre janeiro a maio de 2025, viu sua presença cair de 84,7% para 79%, sugerindo uma possível perda de relevância ou substituição por versões menos processadas. O cacau em pó, por sua vez, avançou de 15,7% para 21,5% em igual período, apesar do incremento de 6,2% no preço ao longo dos 12 meses, fechando maio a R$ 94,34 o quilo.
Portanto, a saída para o segmento de chocolates é buscar alternativas para reconquistar o consumidor – seja por meio de novos formatos, ofertas acessíveis ou estratégias de valor percebido.
Tendências para a categoria em 2025:
- Chocolates funcionais, que combinam sabor e benefícios à saúde com a adição de nozes, sementes e adaptógenos.
- Chocolates sem açúcar, que atendem à busca por menor consumo calórico sem abrir mão do sabor e da saúde cardiovascular.
- Chocolates sem glúten, ideais para dietas restritivas e que reforçam o apelo por produtos mais acessíveis.
- Chocolates orgânicos, impulsionados pela valorização da agricultura sustentável e pelo interesse em ingredientes rastreáveis.
- Chocolates veganos, que atraem uma geração mais consciente; 61% dos jovens desejam opções sem ingredientes de origem animal.
- Chocolates artesanais, que prezam por autenticidade e tradição; 72% dos consumidores preferem marcas com esse tipo de produção.
- Chocolates de origem única e certificados, que valorizam o cacau rastreável e de qualidade superior.
- Chocolates coloridos, que fazem sucesso nas redes sociais pelo apelo visual; 44% dos jovens os consideram mais atrativos e premium.
- Novas combinações de sabores, com ingredientes como menta, amêndoa e avelã, ampliando o repertório além do clássico chocolate ao leite. Por exemplo, versões com frutas cítricas e pistache, que unem acidez e crocância, criando perfis mais sofisticados.
- Marcas de alta qualidade, como Lindt e Ferrero, ganham mais espaço entre os consumidores. De acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Amendoim e Balas (Abicab), 88% dos compradores optam por produtos dessas empresas.
- Embora os sabores clássicos ainda dominem as preferências, o chocolate ao leite é o favorito de 58% dos brasileiros, seguido pelo meio amargo (42%) e pelo branco (32%), segundo pesquisa da Mind Miners.
- Além disso, há espaço para inovação, uma vez que 34% dos consumidores gostam de experimentar novos sabores e texturas. Fatores como cremosidade (39%), crocância (33%) e recheio (32%) influenciam diretamente na escolha do produto.
As informações são da Mordor Intellingence, Neogrid e Worldpanel by Numerator.