O pão é uma das categorias mais presentes na vida dos brasileiras. Dados de um estudo de mercado realizado pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) revelam que 76% dos brasileiros consomem pão no café da manhã e 98% compram produtos panificados. Dentre os pães consumidos, 86% são artesanais e 52% do tipo francês.
Segundo levantamento da Associação Brasileira da Indústria da Panificação e Confeitaria (Abip), são consumidas mais de 2 milhões de toneladas só de unidades de pão francês no País, que é responsável por 34,39% da produção de panificados e contribui com R$ 12,47 bilhões no faturamento total do setor de panificação.
Já no caso da versão industrializada, em 94,7% dos lares se compra uma média de 17 vezes no ano, enquanto 31,1% de indivíduos consomem a categoria semanalmente com uma média de quatro compras por semana. Os dados são de um estudo da Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias e Pães & Bolos Industrializados (Abimapi), em parceria com a Kantar Brasil.
De acordo com o material, o consumo de pães industrializados aumentou neste ano. De janeiro a agosto de 2024, o volume de vendas de pão de forma atingiu 505.805 toneladas, representando um aumento de 6,8% em relação ao mesmo período de 2023 (473.713 toneladas). Esse crescimento também impactou o faturamento da categoria, que chegou a R$ 10 bilhões até agosto de 2024, frente aos R$ 9,23 bilhões do ano anterior. O pão de forma segue como o mais consumido, responsável por 36,84% do faturamento total, seguido pelo pão comum (36,51%) e a bisnaga (7,4%). O aumento de consumo do produto reflete a busca do consumidor por conveniência, qualidade e segurança no momento da escolha, especialmente em um cenário de retomada econômica.
O Norte e o Nordeste são campeões de consumo de pão de forma, com 60.238 toneladas vendidas até agosto de 2024 — 38,74% do faturamento. Já na Grande São Paulo, o pão comum domina as vendas, com 75.823 toneladas e 35,7% do faturamento. No interior de São Paulo, foram vendidas 104.212 toneladas, sendo o pão comum responsável por 38,76% do faturamento.
Diante disso, o varejo alimentar e a indústria resolveram se mobilizar para celebrar o Dia Mundial do Pão nesta quarta-feira, 16 de outubro. As ações incluem a divulgação de informações que desmistificam o pão como vilão da dieta, inclusão produtiva de jovens ao universo da panificação e doações para bancos de alimentos.
“Nosso desafio é mostrar que é possível ter uma alimentação saudável, prática e saborosa ao mesmo tempo. Produtos como pães zero e light são escolhas inteligentes para quem quer cuidar da saúde sem perder o prazer de uma boa refeição”, comenta o presidente-executivo da Abimpai, Claudio Zanão, reforçando a importância dessa tendência que só deve crescer nos próximos anos.
De acordo com a nutricionista do Covabra Supermercados, Juliana Porto, o que engorda não é o pão em si, mas sim a quantidade que as pessoas consomem e a formam como recheiam o alimento. “Incluir proteínas junto ao pãozinho aumenta a saciedade nas refeições e evita picos glicêmicos. Isto é, aqueles aumentos rápidos e temporários dos níveis de glicose no sangue após a ingestão de alimentos. A dica é incluir tomate e combinação com proteínas, como patê de atum, frango com ricota ou queijo frescal, que são opções de baixa caloria e oferecem mais saciedade.”
Na padaria do Covabra Supermercados, a variedade de pães é grande: 90% dos produtos são de fabricação própria. Além do famoso pão francês e suas variações, a rede também produz pão de leite, pão caseiro, pão sovado, pão de milho, pão de ovos, pão de mandioquinha, pão de cenoura, pão semi-italiano e pão italiano. “O processo de produção do pão italiano até chegar às prateleiras leva, em média, dez horas. Somente na unidade de Pirassununga (SP), Carlos Gomes, vendemos cerca de 3 toneladas por mês”, conta o gerente de padaria do Covabra Supermercados, Eder Mendonça.
Acompanhando as tendências mundiais, a rede também oferece uma linha de fermentação natural, que promove saúde e sustentabilidade. “Essa linha é focada em oferecer um produto mais saudável, menos industrializado e com o mínimo de manipulação, contendo a inserção de aditivos químicos. Estamos resgatando a essência do pão, que era feito apenas com farinha de trigo, água e frutas. A maioria dos pães hoje utiliza fermento químico, mas estamos criando algo diferente”, explica Mendonça.
Bunge
Referência no País desde a comercialização dos grãos até a produção da farinha em moinhos históricos, a Bunge mantém preservada a história do trigo e do pão no Brasil por meio da sua Fundação e de seu Centro de Memória.
Paralelamente, a companhia desenvolve um projeto social que impacta positivamente o setor e auxilia a inclusão produtiva de jovens da periferia de São Paulo (SP), Recife (PE) e Duque de Caxias (RJ). Desde 2022, o projeto De Grão em Pão, tem por objetivo a qualificação profissional de jovens de 18 a 29 anos, moradores da periferia, em panificação, confeitaria e culinária. Os alunos recebem auxílio para transporte e alimentação, além de todo material necessário para as aulas técnicas. Eles passam também por formação socioemocional, na qual aprendem como preparar um currículo atrativo, como se comportar no ambiente do trabalho e a planejar a carreira. Ao fim do curso, eles recebem proposta de emprego para trabalhar em padarias próximas às suas residências, com carteira assinada.
“Ao mesmo tempo em que sobram vagas para atuar nessas empresas, faltam oportunidades para jovens, que estão em busca, principalmente, do primeiro emprego. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que a faixa etária que atuamos no projeto é uma das mais desempregadas no País. O De Grão em Pão visa conectar essas duas pontas”, explica a diretora-executiva da Fundação Bunge, Cláudia Buzzette Calais.
Grupo Bimbo
Dono de marcas de pães Pullman, Plusvita, Nutrella e Artesano, o Grupo Bimbo vai doar 690 mil fatias de pães para o Sesc Mesa Brasil. Trata-se da maior rede de bancos de alimentos da América Latina, que combate a fome e o desperdício, a partir de doações de parceiros. Ela contribui para a garantia da segurança alimentar e nutricional de crianças, jovens, adultos e idosos, em vulnerabilidade social, em todo o Brasil.
Trabalhando em conjunto há 25 anos, a parceria com o Sesc Mesa Brasil já rendeu toneladas de pães e outros produtos de panificação doados. Só de 2022 a 2024, foram quase 50 toneladas que alimentaram cerca de 298 mil pessoas pelo Brasil.
Parte das doações são provenientes de ações como a Bimbo Global Race, corrida com causa promovida pela companhia anualmente. A edição de 2024 arrecadou mais de 3 milhões de fatias ao redor do mundo. No Brasil, somou 300 mil fatias para a instituição, que serão devidamente categorizadas e despachadas, conforme o roteiro de entregas do projeto, para que cada família beneficiada possa receber os alimentos.
“Como líderes mundiais de panificação, é nosso dever atuar como agentes transformadores das comunidades em que estamos inseridos e da sociedade como um todo. Não há nada mais especial do que olhar para o nosso próximo, especialmente em uma data tão relevante para nós como o Dia do Pão. Queremos cada vez mais engajar nossos colaboradores e nossos consumidores”, ressalta a gerente executiva de Comunicação, Cultura, Gestão de Mudanças e Relações Institucionais da Bimbo Brasil, Claudia Matos.
Exportações
Segundo informações da Abimapi, o Brasil comemora o avanço das exportações de pães: de janeiro a agosto de 2024, este produto cresceu 36% em valor e 12% em volume, somando US$ 24 milhões e 7,6 mil toneladas.
Dados do Comexstat, plataforma estatística do governo federal brasileiro, revelam que os Estados Unidos, o Uruguai, o Paraguai, o Peru e a Argentina foram os principais destinos das exportações brasileiras até o momento em 2024. Cada um superando a marca de US$ 2,5 milhões. Além disso, pães especiais congelados, como o pão de alho, continuam a ganhar popularidade pelo mundo, com estimativas de exportações que devem alcançar US$ 10 milhões só este ano.
Torradas e pães de forma também se destacaram. O Brasil exportou US$ 2,8 milhões em torradas, atingindo 46 destinos até agosto. Os Estados Unidos, o Uruguai e o Paraguai se destacam como os maiores compradores. Já os pães de forma, que entraram no mercado de exportação há pouco mais de cinco anos, já chegam a 70 países.
Curiosidades
Em 2018, arqueólogos encontraram evidências datadas de 14.000 anos atrás, em escavações no nordeste da Jordânia, que até mesmo as sociedades pré-agrícolas já produziam uma espécie de pão rudimentar, feito a partir de cereais selvagens.
Porém, a fermentação do pão, tal como conhecemos hoje, foi descoberta acidentalmente pelos egípcios há cerca de 4.000 anos, quando uma massa foi deixada ao relento e entrou em contato com leveduras naturais. O resultado foi um pão mais leve e saboroso, que rapidamente se tornou um alimento básico. No Antigo Egito, o alimento era um símbolo de poder, além de ser utilizado como moeda de troca. Estava associado à vida após a morte. Os faraós ofereciam pães nos túmulos acreditando que ele seria útil na vida eterna.
Durante a Idade Média, o “pão de mesa” era literalmente usado como prato. As fatias grossas serviam como base para carnes e molhos, sendo consumidas ou descartadas ao fim da refeição.
Há registros do cultivo de trigo no Brasil desde pelo menos o século 16, sobretudo na capitania de São Vicente, que corresponde hoje a parte do território do Estado de São Paulo. Na época, porém, a produção de pães, massas e bolos era feita a partir das farinhas de mandioca e de milho, predominantes no País durante séculos.
No fim do século 19, os filhos dos grandes proprietários de terra passam a estudar em Paris e voltam da capital francesa encantados com as baguetes. Como as cozinheiras da época não sabiam muito bem o modo de preparo daquele tipo de pão, foram adaptando a receita, nascendo assim o nosso pãozinho francês.
Fontes: Abimapi e Centro de Memória Bunge