O velho hábito de usar o CPF na hora da compra está se transformando em uma poderosa ferramenta estratégica para redes de supermercados em todo o Brasil. Os cartões fidelidade, antes vistos apenas como uma forma de garantir descontos, hoje representam uma peça-chave no crescimento e na sustentabilidade do varejo alimentar. Segundo dados do Mercado e Consumo e E-Commerce Brasil (2024), 84% dos brasileiros já participam de algum programa de fidelidade.
A prática é simples, ao acumular pontos, acessar promoções exclusivas ou receber brindes, os clientes tendem a voltar mais vezes à mesma loja. Essa repetição gera uma relação de confiança e vantagem mútua. Além disso, não é só no bolso do consumidor que os efeitos aparecem, as redes que implementam programas de fidelidade bem estruturados conseguem aumentar o ticket médio e tomar decisões mais assertivas com base nos dados de comportamento dos seus próprios clientes.
Para o professor de administração e ciências contábeis da Unisuam, Alexandre Lima, os programas de fidelidade são tradicionalmente usados como ferramentas de marketing, o que influencia a competitividade dentro do setor. “Ao serem corretamente estruturados e alinhados às estratégias corporativas, os programas de fidelidade deixam de ser apenas uma ferramenta tática e passam a representar uma vantagem competitiva sustentável, impactando de forma direta e positiva a performance financeira e o posicionamento de mercado das organizações”, afirma Alexandre.
Entre os varejistas, o sucesso da operação depende da evolução da relação entre redes e clientes, com ofertas que realmente tragam vantagens. “Quando o cliente sente que está sendo valorizado, ele retorna. Mas o que talvez as pessoas não percebam é que também estamos aprendendo com esses hábitos. Com os dados de compra, conseguimos entender melhor o que oferecer, quando oferecer e para quem oferecer”, explica Amílcar Pavan, sócio-fundador e diretor de marketing do Flex Atacarejo.
Segundo levantamento da Shopper Insights (2024), clientes fidelizados chegam a gastar mais do que o dobro em redes de atacarejo se comparados aos não fidelizados, com ticket médio entre R$ 365,52 e R$ 367,23. Esse comportamento também se repete em supermercados de todos os tamanhos, com média de gasto superior entre os participantes de programas de fidelidade.
Para o Enxuto Supermercados, que atua em diferentes cidades do interior paulista, o cartão fidelidade tornou-se parte essencial da estratégia de aproximação com os consumidores. “Mais do que oferecer descontos, nosso foco é criar uma experiência personalizada. Conseguimos montar campanhas com base no que o cliente realmente consome. Isso melhora a jornada dele e, claro, traz resultados para a empresa”, afirma Doane Moda, Head de marketing do Enxuto Supermercados.
Além do retorno financeiro, os cartões fidelidade têm outro impacto muito valioso, o fortalecimento do vínculo entre a empresa e o cliente. A sensação de pertencimento e a percepção de vantagem exclusiva tornam a marca mais presente no dia a dia das famílias, contribuindo para a retenção e para o crescimento das empresas. Dados da Central do Varejo (2024) apontam que os programas de fidelidade estão diretamente ligados a 82,7% do crescimento das empresas do setor, tornando-as 8,6 pontos percentuais mais competitivos.
Portanto, programas de fidelidade deixaram de ser apenas uma ferramenta promocional e passaram a ser vistos como parte essencial da operação e da inteligência comercial das redes, capazes de transformar dados em relacionamento e assim gerar resultados.