Em um cenário de constantes mudanças tecnológicas, a confiança se consolida como fator determinante para o relacionamento entre empresas e consumidores. Foi nesse contexto que a Associação Brasileira de Automação-GS1 Brasil realizou na última quinta-feira, 7, o Brasil em Código 2025, com o tema “Inovando com Transparência”.
Diante de um grande público, a associação reuniu especialistas de diferentes setores com o intuito de refletir sobre o papel da tecnologia na construção de conexões mais claras e responsáveis entre marcas, produtos e pessoas. A proposta parte de uma constatação de que não há inovação relevante sem transparência, e não há competitividade sem confiança.
Ao longo do dia, lideranças empresariais, executivos de tecnologia, profissionais de comunicação e representantes do setor produtivo trocaram experiências sobre como a inovação pode sustentar práticas mais abertas, rastreáveis e alinhadas às novas exigências do consumidor.
A programação incluiu painéis sobre temas como rastreabilidade, governança, ESG, inteligência artificial e cultura organizacional. O economista da XP Investimentos, Alexandre Maluf; o gerente de automação hospitalar do Hospital Israelita Albert Einstein, Nilson Malta; o professor e consultor, Ricardo Vandré; o CIO do Hospital Sírio-Libanês, Alex Julian; o CEO da Persevera Asset Management, Guilherme Abbud; o CEO da Paripassu, Giampaolo Buso; a atriz Denise Fraga; a jornalista e cofundadora da revista HSM Management, Adriana Salles Gomes; a vice-presidente do Instituto Brasileiro de Direito e Ética Empresarial (IBDEE), Olga Pontes e o especialista em inovação e tecnologia da BetaLab, Marcel Nobre, foram os palestrantes dessa edição do evento.
“A cada ano este evento se fortalece num ponto de encontro entre empresas, profissionais, especialistas e organizações que estão contando o futuro. E este ano não poderia ser diferente. Depois do sucesso da última edição do ano passado, que reuniu aqui mesmo, neste local, mais de 2.100 pessoas que participaram, e nos convidou a refletir com a pergunta, que foi o tema da época, o que move o seu agora? Seguimos em busca do que realmente torna as relações mais verdadeiras e duradouras. E é esse o objetivo que escolhemos para o tema deste ano. Inovando em transparência. Vivemos num mundo cada vez mais conectado e orientado por dados. Neste cenário, a inovação deixou de ser um diferencial competitivo para se tornar uma exigência. Este movimento está diretamente ligado à agenda ISG. E hoje atravessa todas as dimensões da gestão. A governança, a ética, a transparência, a sustentabilidade dos negócios. Os consumidores querem saber a origem dos produtos. Entender o processo por trás da marca do produto. Conhecer as escolhas feitas pelas empresas e os compromissos que elas assumem. Neste contexto, a tecnologia tem um marcado importante. Facilitar o acesso às informações. Também fortalecer a confiança. Promover conexões autênticas entre marcas, pessoas e parceiros. Na GS1, trabalhamos de forma contínua para transformar esta visão em realidade. Este ano, inclusive, celebramos um marco histórico. Ultrapassamos a marca das 60 mil empresas associadas. Empresas que são desde pequenos empreendedores até grandes corporações. Atuando em mais de 40 segmentos da economia. Que nos posiciona como a quinta maior GS1 do mundo”, declarou o presidente da Associação Brasileira de Automação GS1-Brasil, João Carlos de Oliveira.
Conformidade para todos
A padronização e a conformidade sempre foram marcas da GS1, mas a associação acaba de corroborar seu protagonismo em relação a isso. Isso porque ela está participando ativamente do programa “Conformidade para Todos”, que integra a Estratégia Nacional de Infraestrutura e Qualidade (ENIQ).
Iniciativa do governo brasileiro, liderada pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), a ENIQ tem por objetivo fortalecer a infraestrutura de qualidade no País, bem como garantir a segurança, a conformidade e a competitividade de bens, serviços e processos. Ela abrange órgãos públicos e privados, políticas, leis e práticas que promovem a qualidade e a proteção do meio ambiente.
A estratégia tem como base o Cadastro Nacional de Produtos (CNP), sistema estruturado a partir dos padrões globais da GS1, entidade responsável pela identificação única de itens em todo o mundo. É nesse ambiente padronizado e confiável que as empresas registram dados oficiais dos seus produtos, como o código de barras GTIN/EAN (Global Trade Item Number), além de atributos, como dimensões, peso e informações fiscais.
Em constante evolução, o sistema passou a ter um novo campo para autodeclaração de norma técnica aplicável ao item cadastrado. Na avaliação da GS1, a inclusão da conformidade técnica ao lado dos atributos já padronizados ao GTIN reforça o compromisso da associação com a construção de um mercado mais ético, eficiente e confiável para todos.
A ideia é que, no futuro, o programa “Conformidade para Todos” tenha abrangência ampla, alcançando a indústria e o comércio, bem como os órgãos reguladores. E, claro, os consumidores que, por sua vez, passarão a ter acesso a dados que garantem a conformidade e a qualidade das mercadorias.
Nesse primeiro momento, o “Conformidade para Todos”, que é voluntário, envolve o setor de compras públicas e a cadeia de materiais de construção. Mesmo assim, a adesão tem se mostrado positiva. Já são 17.208 produtos com, pelo menos, uma norma cadastrada e com mais de 18.500 normas autodeclaradas. Porém, o potencial é imenso. Atualmente, o CNP reúne mais de 85 milhões de produtos cadastrados.
Os próximos que devem aderir são os segmentos de pneumáticos, cosméticos e agrotóxicos. Mas o varejo alimentar também tem grande potencial relacionado a esse projeto, segundo o gerente de relações institucionais e governamentais da GS1 Brasil, Pedro Henrque Di Martino.
“É importante esclarecer que o ‘Conformidade para Todos’ não é só para contas públicas. É uma nova forma de conscientização sobre a importância dos dados. É uma tarefa da indústria, mas que deve ter o apoio do varejo e dos consumidores. No caso do varejo alimentar, em geral, os itens comercializados são mais bem regulados. Portanto, já seguem uma conformidade maior. Inclusive, isso é imposto pela Nota Fiscal Eletrônica (NF e). O nosso trabalho é fazer com que essas informações cheguem ao consumidor.” E acrescentou: “O varejista se beneficia como? Na minha loja, por meio do programa, não vai haver produto que não esteja em conformidade. Ou seja, ter selo ‘varejo conforme’. E, assim, garantir que as mercadorias comercializadas estão em conformidade com as regras, entre elas do Inmetro, da NBR, da Anvisa e do Mapa, porque já fiz essa validação com o meu fornecedor ou com o meu distribuidor.”
Ainda segundo Di Martino, no caso dos supermercados, o “Conformidade para Todos” deve colaborar mais com a área de perecíveis, em virtude das novas regras envolvendo o uso de agrotóxicos. Contudo, não há prazo de quando isso acontecerá.
No caso dos consumidores, de acordo com o executivo, o acesso ao programa deverá ocorrer por meio de um outro padrão da GS1 já presente em muitos produtos comercializados pelo varejo: o código 2D ou QR Code.
Na avaliação de Di Martino, o processo de transição do código de barras tradicional (1D) para o QR Code, já em andamento, tem ganhado cada vez mais força e deve se acentuar até 2028. O principal ganho de se adotar o QR Code como padrão único está na sua capacidade de armazenar informações mais amplas e detalhadas em um espaço compacto nas embalagens, entre elas a conformidade.
De acordo com ele, essa transição não trará mudanças em como a precificação é feita no ponto de venda. “O consumidor vai perceber isso de outra forma. Com mais acesso a informações, inclusive em relação à validade e ao best before, conceito que a GS1 também apoia.” A ABRAS é uma das defensoras e propagadoras da adoção do conceito best before no Brasil, principalmente para alimentos não perecíveis, como forma de reduzir o desperdício e potencialmente baratear esses itens, desde que ainda estejam seguros para consumo. E, assim, flexibilizar o conceito de “data de validade” para “consumir preferencialmente antes de”.