Por Elisa Tjarnstrom, Diretora Executiva COBEA
O bem-estar animal é uma temática que tem ganhado cada vez mais relevância no setor de alimentos, impulsionado pelas expectativas dos consumidores por práticas mais responsáveis na criação de animais destinados à produção de alimentos. Entidades como a Organização das Nações Unidas (ONU) e o Fórum Econômico Mundial, reconhecem o tema como um fator essencial para a construção de sistemas alimentares mais sustentáveis. O conceito abrange o estado físico e mental dos animais, considerando fatores como ambiente, manejo, prevenção e tratamento de doenças e a qualidade de vida e abate adequado. O objetivo é garantir que os animais de fazenda, como frangos, suínos, bovinos e galinhas poedeiras, sejam criados em condições que promovam conforto e saúde, reduzam o estresse e permitam a expressão de comportamentos naturais.
Estudos indicam que proporcionar bem-estar aos animais melhora a saúde e longevidade dos animais, promove melhor qualidade e segurança alimentar e reduz o uso de antibióticos (um dos grandes desafios da saúde pública). A pandemia despertou a atenção dos consumidores sobre temas como sustentabilidade, a saudabilidade, e segurança alimentar. Hoje, portanto, as pessoas estão mais atentas com a procedência dos seus alimentos. Para o varejo, isso representa uma oportunidade estratégica de se posicionar como agente de transformação.
Um estudo da IBM, de 2021, revelou que entre 61% e 70% das pessoas estariam dispostas a pagar mais por produtos sustentáveis. Uma pesquisa da Ipsos encomendada pela ONG Proteção Animal Mundial realizada em 2016 no Brasil, mostrou que 82% dos consumidores comprariam produtos com selo de bem-estar animal e que 91% dos entrevistados acreditam que esses produtos são de melhor qualidade.
No entanto, muitos fatores podem atuar como barreiras no momento da compra, como falta de informação, custo, baixa disponibilidade de produtos certificados, e dissociação entre o produto e o animal. Isso mostra a importância do papel dos varejistas em colaborar com a cadeia produtiva para superar essas barreiras.
Embora o tema ainda seja relativamente novo no mercado brasileiro, vem ganhando força, principalmente devido à crescente compreensão dos riscos críticos apresentados pelo bem-estar inadequado e das oportunidades estratégicas de negócios relacionadas. Iniciativas como a Colaboração Brasileira de Bem-Estar Animal (COBEA), mostram que empresas de alimentos em toda a cadeia de valor podem unir esforços e colaborar para impulsionar o progresso.
Durante a criação da COBEA, ficou claro que muitas empresas do setor, incluindo varejistas, enfrentam dificuldades para lidar com o tema de forma isolada. Portanto, para os varejistas que estão estruturando suas estratégias de sustentabilidade, o bem-estar animal é um tema que precisa estar no radar. Trata-se de um diferencial competitivo e de um compromisso com a saúde, a ética e o futuro do sistema alimentar.