Por Renato Müller
Virou quase um mantra dizer que os consumidores têm buscado opções para esticar seus orçamentos diante de um cenário de inflação persistente, juros elevados e incertezas constantes. Essa conjunção de fatores tem modelado o comportamento dos clientes no Brasil, nos Estados Unidos, na Europa… e até mesmo na Austrália.
Dados do Australian Bureau of Statistics (órgão equivalente ao IBGE na Austrália) mostram que, em junho, as vendas do varejo cresceram 1,2% na comparação mensal e 4,9% sobre o mesmo mês de 2024. Em volume, a expansão foi de 0,3% nos três meses encerrados em junho (também na comparação anual). Nos supermercados, o crescimento foi de 0,9%, bem abaixo de segmetnos como itens para o lar (+2,3%), vestuário / calçados / acessórios (+1,5%) e lojas de departamentos (+1,9%).
Para Brian Walker, fundador do Retail Doctor Group, os números do varejo australiano indicam uma forte importância de eventos promocionais estratégicos para direcionar o comportamento de compra dos consumidores. “Os australianos têm demonstrado uma resposta clara a propostas de valor diretas, que indiquem ganhos imediatos”, afirma.
Para o consultor, o crescimento em categorias como itens para o lar e eletroeletrônicos mostra que os consumidores estão dispostos a comprar itens que não sejam de primeira necessidade, desde que estejam diante de boas oportunidades. “Em vez de compras de impulso, os consumidores estão buscando ativamente por boas ofertas”, explica.
Já a recuperação do varejo alimentar, especialmente quando comparada à queda de 0,4% nas vendas do foodservice no mês de junho, indica que os consumidores estão sendo mais seletivos em relação ao destino de suas refeições. Como tem ocorrido em outros mercados, a redução nas vendas de restaurantes aponta para uma busca dos consumidores por mais controle financeiro e nutricional do que ingerem.
“O varejo deve entender que os consumidores continuam se engajando com as marcas e estão dispostos a gastar, mas têm aumentado seu foco em valor e em compras durante períodos promocionais. Isso apresenta oportunidades para empresas que desenvolvam estratégias atraentes e consigam manter suas margens de operação”, conclui Walker.