Empresa argentina foi selecionada pela companhia para desenvolver projetos de embalagens que reduzem em 50% as emissões de gás carbônico
Com a meta de ter 100% das embalagens retornáveis ou feitas majoritariamente de conteúdo reciclado e diminuir a poluição plástica, a Ambev firmou parceria com a startup growPack para o desenvolvimento de embalagens fabricadas com compostos orgânicos da própria natureza.
Um projeto-piloto será lançado em outubro com embalagens fabricadas com biomaterial em pontos de venda de São Paulo. A ideia é validar a embalagem com os consumidores para produção em escala já em 2022.
Com uma economia bio-baseada, ou seja, ciclo de vida completamente sustentável, a embalagem é produzida com rejeitos agrícolas, basicamente palha de milho, de forma 100% mecânica (sem químicos e efluentes). O descarte acontece de maneira completamente compostável ou reciclado junto na cadeia do papel.
“Estamos testando novas soluções, considerando matérias-primas sustentáveis para a produção de embalagens e ampliação da cultura do retornável até atingir nossa meta zero de emissões plásticas até 2025”, conta Rodrigo Figueiredo, vice-presidente de Suprimentos e Sustentabilidade da Ambev.
Programa Aceleradora 100+
A produção das embalagens com o biomaterial consome 80% menos água, reduze em 50% as emissões de gás carbônico (CO2) e economiza 25% de energia elétrica em comparação com o papel cartão. Em 2020, a Ambev atingiu 45% de conteúdo reciclado nas embalagens de PET, 47% nas embalagens de vidro e 74% nas latas de alumínio no Brasil.
Detentora de uma tecnologia regenerativa, a growPack participou da segunda edição do programa Aceleradora 100+ em 2020. Nas duas primeiras fases, a Ambev investiu mais de R$ 12 milhões em projetos que trouxeram soluções inovadoras como o desenvolvimento de novas embalagens, caminhões elétricos, agricultura sustentável dentre outros.
“A Aceleradora 100+ foi além de trazer ideias inovadoras para solucionar os desafios de sustentabilidade propostos, ele nasceu com o objetivo de quebrar estigmas do ecossistema de startups, unindo pessoas comuns e estimulando o empreendedorismo”, diz Figueiredo.
Mas, mais do que dinheiro, a cervejeira entrou também como ‘cliente-anjo’ da startup, se comprometendo a comprar um dos seus produtos em grande quantidade e trazendo tração comercial ao negócio.
Fundada em 2018 na Argentina, a empresa ficou em segundo lugar no último programa de aceleração da Ambev, concluído em março deste ano.
“Conseguimos achar esses empreendedores de alto impacto, com um produto que tem todas as características de resistência necessárias. E o protótipo se viabilizou também economicamente”, diz Rodrigo Figueiredo, vice-presidente de sustentabilidade e suprimentos da Ambev para América Latina.
O produto criado em parceria com a Ambev foi o “bio ring”, uma espécie de suporte para encaixe de seis latas de cerveja para substituir o pack de plástico ou de papelão.
Entre outras metas, a Ambev prometeu que até 2025 pelo menos 50% de suas embalagens serão feitas de material reciclado, além de eliminar ou neutralizar a poluição plástica de 100% delas.
Processo
Neste primeiro momento, o que a GrowPack faz é usar a palha do milho que iria para o lixo — ou, pior, seria queimada — e, a partir de um processo que dispensa produtos químicos, criar uma pasta que é compostável e totalmente moldável.
Os dois ingredientes principais extraídos da palha são a celulose e a lignina, esta última um componente com propriedade de resistência, uma espécie de cimento natural. Como o biomaterial é moldável, ele se presta a variadas aplicações, como embalagem para delivery de refeições, por exemplo.
“Nosso modelo é de ‘farm to market’”, diz o argentino Exequiel Bunge, de 28 anos, CEO da GrowPack. Isso quer dizer que, a partir da tecnologia, a empresa está desenvolvendo a cadeia de fornecimento no agro e o mercado consumidor.
Toda a palha de milho necessária para a fase de piloto e atendimento inicial à Ambev virá de uma sementeira de milho do interior paulista. No futuro, conforme a produção ganhe escala, o material dispensado pelos agricultores ligados à própria Ambev deverá ser aproveitado, ou mesmo o bagaço da cevada que sobra nas fábricas da cervejeira. “Com a mesma tecnologia, podemos usar muitos tipos de biomassa”, diz Bunge.
A rodada seed é de US$ 1,2 milhão e tem como líderes a Ambev e um empresário argentino do agronegócio. O dinheiro será usado na implantação da primeira fábrica da GrowPack, num condomínio industrial em Vinhedo, a cerca de 100 quilômetros da capital paulista, para onde Bunge se mudou recentemente.
Nos próximos meses chega o maquinário importado que permitirá à startup moldar os produtos localmente — na fase de testes, a pasta era enviada ao exterior para moldagem.
Os bio rings serão testados em alguns pontos de venda em São Paulo ainda em 2021 e, a partir de 2022, a ideia é começar a usá-lo para valer em pelo menos uma das marcas de cerveja. “Em termos de custo, a solução é até mais barata do que a embalagem de papelão de celulose, por causa da disparada do preço das commodities”, diz Figueiredo.
A produção das embalagens da GrowPack consome 80% menos água do que uma embalagem de papel cartão, reduz em 50% as emissões de gás carbônico (CO2) e economiza 25% de energia elétrica, segundo as duas empresas. “São essas ações que vão ajudar a gente a atingir nossos compromissos de sustentabilidade”, diz Figueiredo.
A fábrica terá capacidade de produzir até 2 milhões de unidades por mês, o que a startup espera atingir em meados do próximo ano. A partir daí, o plano é partir para uma nova rodada de captação para ampliar a capacidade de produção, diz Bunge.
Fonte: Mercado & Consumo, Reset por Vanessa Adachi