Por Renato Müller
Assim que a Justiça americana praticamente enterrou a fusão entre Kroger e Albertsons, os dois ex-futuro parceiros passaram a se digladiar. A Albertsons anunciou que entrou com um processo contra a Kroger, sob a alegação de que esta não exerceu “os melhores esforços” nem tomou “todas as ações necessárias” para fazer com que houvesse aprovação regulatória da fusão.
A transação, estimada em US$ 24,6 bilhões e anunciada no fim de 2022, criaria uma gigante com mais de 4.000 pontos de venda capaz de brigar de igual para igual com Walmart e Amazon no varejo americano. Entretanto, preocupações dos órgãos antitruste em relação à excessiva concentração de mercado em várias regiões do país bloquearam a transação.
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A oferta de venda de quase 700 lojas para a rede de atacarejo C&S não foi considerada suficiente para solucionar as incertezas – e a fusão acabou caindo por terra. Agora, a Albertsons está buscando “bilhões de dólares em danos da Kroger” para compensar a empresa e seus acionistas. A proposta de fusão conta com uma cláusula de rescisão de US$ 600 milhões, mas a varejista quer ainda mais dinheiro por ter investido muito tempo e centenas de milhões de dólares na aprovação da transação.
A Kroger, por sua vez, afirma que as alegações da Albertsons não têm mérito, que a agora rival não tem direito à taxa de rescisão e que está tentando fugir de suas responsabilidades nesse caso. Segundo a Kroger, seu board avisou por escrito, várias vezes, a Albertsons sobre múltiplas violações do acordo entre as partes.
E agora?
Desde o início, a fusão estava longe de ser uma certeza, uma vez que existe uma sobreposição geográfica considerável entre as empresas, o preço nos supermercados é um tema quente nos debates políticos e econômicos e houve uma imensa reação contrária dos sindicatos, preocupados com a perda de poder de barganha nas negociações salariais.
Nos últimos dois anos, Albertsons e Kroger fizeram vários acenos aos reguladores, como as promessas de cortar US$ 1 bilhão em preços e aumentando o número de lojas a serem vendidas para outros players caso a transação fosse aprovada.
Sem a fusão, a situação é muito mais difícil para a Albertsons. Na conferência de apresentação de resultados do terceiro trimestre, o CEO da Kroger, Rodney McMullen, afirmou que a empresa “não precisa da fusão com a Albertsons, ou de nenhuma outra fusão, para ter sucesso”. Já a Albertsons vinha perdendo terreno para a concorrência por não conseguir se manter competitiva em preços e não ter a escala de rivais como Walmart e Amazon. Sem a fusão, a expectativa é que a Albertsons feche lojas e saia de mercados menos rentáveis.
