Por Giseli Cabrini
De fato, nos últimos anos, o atacarejo e as lojas de proximidade têm ganhado protagonismo no varejo alimentar frente a formatos mais parrudos, como o hipermercado. Isso ocorre por vários fatores: mudanças nos hábitos de consumo dos brasileiros, um cenário econômico mais estável (a inflação existe, mas não nos patamares anteriores à criação do Plano Real em 1994) e alterações na composição e no perfil das famílias (redução na quantidade de crianças, aumento no número de pessoas solteiras e crescimento de casais sem filhos).
Aliada a essas variáveis, há uma maior dificuldade de encontrar pontos comerciais de grande porte e mais entraves relacionados à carga e descarga em grandes centros do País.
Porém, isso não significa o fim dos hipermercados. Eles ainda têm um papel estratégico para o setor. Esse é o caso do Grupo Carrefour Brasil (GCB).
Leia também:
- Carrefour Brasil tem salto no lucro ajustado do 4º tri com efeito tributário
- Carrefour conquista nota máxima em ranking global de transparência ambiental
Ainda que, segundo dados do último balanço divulgado pela companhia, mostrem que as bandeiras Atacadão (+ 19 novas lojas) e Sam’s Club (+ 7 unidades abertas) tenham dominado as inaugurações em 2024, incluindo conversões e novas lojas, os hipermercados perderam menos espaço no negócio varejo do grupo em relação aos supermercados.
No comparativo entre 2023 e 2024, os hipermercados saíram de 143 para 112 unidades. Em igual período, os supermercados passaram de 207 para 80 lojas. No contraponto entre o quarto trimestre de 2023 e igual período do ano passado, 17 hipermercados foram fechados e 14 convertidos. No caso dos supermercados, 119 deixaram de operar e 8 foram alvo de conversões.
E aqui cabe lembrar que essa movimentação faz parte do plano de otimização do portfólio de ativos e de simplificação da estrutura do formato varejo pela companhia. No caso de supermercados, o impacto foi maior uma vez que o Carrefour Brasil finalizou a parceria no Estado de Minas Gerais de operação de 15 unidades. Também anunciou a venda ou fechamento de todos os 64 supermercados restantes da rede Bompreço e Nacional até o fim do primeiro semestre de 2025 (34 acordos de venda já assinados, dos quais cinco efetivamente fechados ou vendidos até dezembro de 2024).
Contudo, para o Carrefour Brasil o hipermercado é um formato que ainda tem fôlego. Distribuídos em 31 cidades, eles estão presentes em todas as regiões do País.
Segundo o diretor-executivo de Operações nos formatos Super, Hiper e Express, Marco Alcolezi, o formato obteve uma recuperação significativa nas vendas em 2024 e, já no início de 2025, destacou-se no mercado alimentar, aumentando seu market share e apresentando um crescimento expressivo em comparação ao ano anterior.
Na análise do executivo, o hipermercado ainda é uma opção atraente para o shopper que busca resolver toda sua cesta de compra num só lugar, especialmente para quem vive em grandes cidades, o que envolve grandes deslocamentos no trânsito. Não é à toa que, das 112 lojas desse formato, a rede mantém 20 hipermercados funcionando 24 horas, em centros urbanos do País, de São Paulo a Manaus (AM).

Diretor-executivo de Operações nos formatos Super, Hiper e Express do Grupo Carrefour Brasil, Marco Alcolezi. Foto: Divulgação
Outros trunfos recaem sobre o amplo sortimento e uma experiência de compra que explora o conceito de omnicanalidade e reforça a operação de e-commerce.
Confira, a seguir, entrevista exclusiva feita por SuperHiper com Alcolezi sobre o tema.
Atualmente, o Grupo Carrefour Brasil possui quantos hipermercados no total? Em quais praças do País?
Temos 112 hipermercados distribuídos em 31 cidades, presentes em todas as regiões do País. Desse total, temos 20 hipermercados funcionando 24 horas, pois eles atendem a uma demanda dos clientes nas lojas presentes em grandes centros urbanos, que vai de São Paulo a Manaus (AM).
Como a empresa avalia o desempenho do formato? Quais são os pontos fortes e os principais desafios?
O formato obteve uma recuperação significativa nas vendas em 2024 e, já no início de 2025, destacou-se no mercado alimentar, aumentando seu market share, bem como apresentando um crescimento expressivo em comparação ao ano anterior. Ganhar mercado, nesse contexto, não se resume apenas à recuperação de vendas, mas também à conquista de resultados ainda mais robustos. Esse sucesso foi possível devido à adaptação estratégica que aprimorou a margem aplicada e preço de venda, aliada a um controle de custos rigoroso, permitindo-nos entregar um Ebitda (sigla em inglês para o indicador financeiro que mede o lucro de uma empresa antes de considerar juros, impostos, depreciação e amortização) superior ao do ano passado.
No caso específico da loja do Carrefour do Norte Shopping, no Rio, quais são os diferenciais da unidade em relação à sortimento, tecnologia, cross selling/gerenciamento por categoria (GC) e omnicanalidade? Há mais novidades por aí? Isso tem sido replicado para outras lojas no formato hipermercado?
Trata-se de uma loja com um sortimento de 40 a 45 mil SKUs, quase quatro vezes mais do que os atacarejos oferecem. Um dos diferenciais é o amplo e completo sortimento no setor de eletrodomésticos, reforçado pelo nosso e-commerce. Além disso, temos uma linha completa de alimentos saudáveis, incluindo opções para dietas restritivas, como diabetes e intolerância à lactose.
No atendimento, oferecemos uma experiência completa com todos os perecíveis, como cafeteria, padaria, fatiados, peixaria fresca e açougue. Na parte digital, o cliente pode comprar pelo site ou aplicativo e receber em casa no mesmo dia, tanto produtos alimentares quanto não. Também oferecemos a conveniência de comprar pelos nossos parceiros, como iFood, Rappi e Uber, garantindo uma experiência de compra completa e personalizada. Em termos de inovação no atendimento, a loja tem 12 terminais de self-checkout, que atendem quase 40 mil clientes por mês. Isso proporciona rapidez e fluidez no caixa, eliminando filas e otimizando a experiência de compra.
O Rio de Janeiro tem alguma particularidade que torna o formato hipermercado mais atrativo? Existem localidades mais favoráveis para o formato? Por quê?
Assim como outras grandes capitais, como São Paulo, o Rio de Janeiro demanda praticidade e economia de tempo para os clientes em modelos de hipermercado. Nesse formato, eles encontram tudo o que precisam em um só lugar, como eletrodomésticos, têxteis, alimentos saudáveis e perecíveis. Na unidade localizada no Norte Shopping, o cliente também tem acesso a serviços complementares, como lavanderia, chaveiro, lotérica, pet center e cabeleireiro, oferecendo ainda mais conveniência. O hiper é uma solução ideal para uma cidade com trânsito intenso e longas distâncias, permitindo que o cliente resolva suas necessidades de compras e serviços em um único local. Além disso, em algumas lojas, oferecemos postos de gasolina e drogarias, ampliando ainda mais a comodidade e praticidade para o cliente.
No fim do ano, algumas lojas de hipermercado passaram a operar no sistema 24 horas. Quais foram os resultados? Isso durou quanto tempo? A estratégia será repetida?
A decisão de manter as lojas 24 horas não está relacionada ao fim do ano, mas sim à necessidade de atender clientes que, devido à rotina intensa, longas distâncias e à vida urbana, precisam de flexibilidade para suas compras. Com o funcionamento nesse sistema, oferecemos a eles um atendimento completo e a conveniência de acessar todos os serviços e produtos do hiper a qualquer hora, inclusive durante a madrugada.