Pequenos mercados instalados dentro de condomínios são a nova aposta de redes varejistas para garantir comodidade e praticidade à clientela e para gerar novos negócios
A expansão de condomínios residenciais no País tem feito crescer, a reboque, um novo modelo de lojas varejistas: pequenos mercados, de várias bandeiras, instalados dentro desses locais – o chamado segmento de superproximidade. De grandes, médias a pequenas redes de supermercados investem neste nicho, seja em parceria, seja por meio de franquia ou com recursos próprios.
A praticidade é o que conta numa loja de superproximidade: o condômino tem a possibilidade de, ao voltar pra casa, passar no minimercado, fazer compras de itens básicos – já que, neste modelo, o número de artigos à venda é menor, por limitação do espaço físico – e ir direto para casa, ou ainda, dar um pulo rápido na loja, em caso de esquecimento ou falta de algum item. Como se fosse o mercadinho ou a venda da esquina. Só que dentro do condomínio e, geralmente, abrigado na bandeira de um varejista de porte maior.
Algumas redes, inclusive, dão crédito à honestidade dos condôminos e dispensam o atendente na loja. O cliente, previamente cadastrado, faz as compras do que precisa e paga online na hora, sem necessidade de passar os produtos e pagar no caixa. Há, ainda, a oportunidade de fazer as compras online no site do supermercado e retirá-las na miniloja instalada dentro do condomínio.
E, mais recentemente, uma das redes varejistas, a Enxuto, com atuação no interior paulista, está testando um robô que circula pelo condomínio e entrega as compras na casa do consumidor, eliminando a necessidade de ele ter de passar na loja do condomínio para retirá-las, conforme SuperHiper já noticiou em seu site.
O novo método de vendas, de lojas de superproximidade, já era um projeto no radar das redes varejistas. Mas a pandemia acelerou o processo, diz o diretor presidente do grupo Enxuto, Bruno Bragancini. Após uma loja piloto, montada dentro de um contêiner reciclado e adaptado em um condomínio residencial em Campinas (SP), a rede Enxuto consolidou o projeto de expansão das lojas “Enxuto Aqui” nos primeiros meses de 2020, quando começou a pandemia. “No início, causou um estranhamento”, conta. “Os moradores ficaram receosos de haver pessoas de fora do condomínio transitando por ali”, continua. “Mas, com a pandemia, a comodidade de ter um mercado dentro do condomínio falou mais alto e hoje esse modelo é super bem recebido.”
Atualmente, há 20 lojas “Enxuto Aqui”, todas em condomínios residenciais na região de Campinas. O plano, para os próximos cinco anos, conta Letícia, é expandir a rede para 70 lojas, na mesma região. “Por questão de logística, preferimos fazer assim, já que nosso centro de distribuição é em Campinas”, comenta.
Basicamente, como descreve a executiva, cada loja “Enxuto Aqui” é feita com dois contêineres de 40 pés cada um. “São 30 metros quadrados de área de vendas e 30 metros quadrados destinados à estocagem e recebimento do delivery, no caso de o consumidor fazer o pedido delivery”, explica. Todas as lojas são instaladas na entrada do condomínio. Em relação ao número de itens disponíveis, há cerca de mil na loja física. “Mas no nosso site, temos pelo menos 10 mil itens que podem ser pedidos e entregues, no dia seguinte, na ‘Enxuto Aqui’”, comenta.
A experiência do Carrefour
O gigante Grupo Carrefour também tem investido no modelo, conta o diretor de Proximidade do Carrefour, João Gravata. Na “hierarquia” de lojas dentro da empresa, há o que o executivo chama de lojas abastecedoras, repositoras, de conveniência e de extrema conveniência, além das vendas online. As pequenas lojas em condomínios se encaixam na categoria “extrema conveniência”.
O interessante é que, em alguns casos, a rede varejista optou por não haver atendentes nas lojas físicas, chamadas por Gravata de “lojas autônomas Carrefour Express”. “Para fazer compras, porém, é imprescindível que o cliente tenha instalado em seu celular o aplicativo Meu Carrefour e utilize a tecnologia Scan & Go para acessar as lojas, consultar os preços dos produtos e inserir os itens em seu carrinho virtual com a leitura do QR Code”, descreve o executivo. “Após o pagamento, realizado com o cartão de crédito cadastrado no app Meu Carrefour, o cliente consegue sair da loja escaneando um QR Code na porta”, diz. Gravata comenta, ainda, que o controle de fraudes é feito por meio de câmeras instaladas na loja. “Porém, é importante ressaltar que as compras só podem ser feitas por clientes cadastrados.”
A pandemia da covid-19 também acelerou o processo dessas lojas autônomas, que estão instaladas dentro ou na entrada de condomínios. “Elas estão em concordância com as estratégias do Grupo Carrefour, de aceleração digital tanto no Brasil quanto no mundo”, diz Gravata. “Este projeto estava pronto antes do início da pandemia e acabou sendo acelerado por causa da nova realidade imposta pela crise sanitária, em que os consumidores mostraram um novo comportamento de compra e passaram a sair com menos frequência para ir ao supermercado”, continua. “Esta questão evidenciou a importância de o Carrefour estar mais perto do cliente.”
Nessas lojas menores, que têm entre 15 e 60 metros quadrados, construídas por módulos pré-fabricados, que podem ser transportados e reutilizados, também não cabe, obviamente, a mesma quantidade de itens de uma loja convencional. Por isso, segundo Gravata, é essencial selecionar bem os itens que devem ser colocados nos pontos do Carrefour Express. “É um modelo em que o consumidor busca compras menores, principalmente de produtos voltados à reposição diária e prontos para consumo, como laticínios, cereais, frios, produtos de higiene e bebidas geladas, além de refeições prontas.” São, no total, cerca de 300 a 800 itens disponíveis, acrescenta o executivo. Atualmente, há três lojas autônomas do Grupo Carrefour em operação: uma em construção modular de 15 metros quadrados, inaugurada em outubro em um condomínio residencial em São Paulo; outra em um coworking no bairro do Brooklin, também em São Paulo, e a terceira num condomínio residencial em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo.
O modelo do Mateus
O Grupo Mateus, por sua vez, com forte atuação no Nordeste e Norte do País, optou pelo modelo de franquia para expandir a rede de lojas compactas e de superproximidade. O nome da franquia é Armazzem, cuja primeira loja foi inaugurada em julho do ano passado, em frente ao Centro de Distribuição do Grupo Mateus, em São Luís, capital do Maranhão.
Na ocasião da inauguração, o sócio do Grupo Mateus no Armazzem, Alex Martins, frisou que a proposta é estar mais perto dos consumidores e tornar o acesso a produtos e serviços cômodo, prático e rápido. “O nosso diferencial está na inteligência de mercado e capacidade logística do Grupo Mateus que permite, se necessário, abastecer a loja duas vezes no mesmo dia”, destacou.
Como se trata de franquia de minimercados de proximidade, o Grupo Mateus disponibiliza cinco formatos diferentes, com soluções que podem se adequar ao espaço disponível e ao perfil dos consumidores onde a loja será instalada. O Armazzem pode funcionar como lojas autônomas – como as do Carrefour, sem atendentes –, dentro de condomínios e espaços corporativos, até lojas de 150 metros quadrados em pontos comerciais. “O número mínimo de residências em condomínios deve ser de 200”, diz Martins, independentemente do perfil socioeconômico dos habitantes. “Neste caso, o que muda é o mix de produtos e a forma de comunicação”, complementa.
Para Martins, a experiência positiva deste tipo de varejo é a proximidade com o consumidor. “Podemos ouvi-lo de forma mais direta e dar a ele o sentimento de pertencimento, o que contribui para repensarmos nosso papel em todos os canais de venda”, diz. “E, como a loja trabalha com estoque reduzido, temos de ser muito precisos no abastecimento, num processo que já está contribuindo para a gestão de estoque do grupo como um todo.” Ele diz que o papel de uma loja de vizinhança é de “reposição com praticidade”.
Aliás, justamente porque o mix de produtos é menor na Armazzem, “o desafio é ser assertivo neste mix”, conta o executivo, informando que uma loja de condomínio conta com até 140 SKUs e 140 categorias de produtos. Já nas lojas de rua, o Armazzem trabalha com um mix de até 1.200 SKUs. “Trabalhamos o conceito de minimercado, para o qual levamos sortimento e competitividade”, diz. “Isto tem de ficar muito claro para o consumidor. O ticket deste formato é baixo e por isso precisamos de um bom fluxo e uma boa frequência de compras.” Martins garante que este modelo de minimercado, construído em módulos e franqueado, tem dado bom retorno tanto ao Grupo Mateus quanto ao franqueado. “Desde o início esperávamos ser bem recebidos pelos investidores e consumidores, mas acabamos nos surpreendendo, foi bem mais do que esperávamos”, conclui ele, sem citar números.
Por dentro dos mercados de condomínios
As pequenas lojas, instaladas dentro de condomínios, constitui um segmento do varejo em expansão, que tem atraído investimentos por parte de importantes bandeiras. A aceleração deste modelo de negócios é recente, mas seu potencial já motivou, inclusive, o surgimento de empresas que nasceram exclusivamente “dentro dos condomínios”. Confira um resumo do modelo de lojas de superproximidade das redes Carrefour, Enxuto e Mateus.
Carrefour Express
– Lojas têm entre 15 e 60 metros quadrados, construídas por módulos pré-fabricados, que podem ser transportados e reutilizados.
– Mix varia entre 300 e 800 itens.
– São produtos voltados à reposição diária e prontos para consumo, como laticínios, cereais, frios, produtos de higiene e bebidas geladas, além de refeições prontas.
Enxuto Aqui
– Atualmente, possui 20 lojas neste modelo. A meta é chegar a 70 unidades nos próximos cinco anos.
– As lojas são feitas com dois contêineres, totalizando 30 metros quadrados de área de vendas e 30 metros quadrados destinados à estocagem e recebimento do delivery.
– Oferece mil itens nestas estruturas.
Grupo Mateus (Armazzem)
– Estreou em julho de 2021, no modelo de franquia.
– As lojas de condomínio contam com até 140 SKUs e 140 categorias de produtos.
– O número mínimo de residências em condomínios deve ser de 200, independentemente do perfil socioeconômico dos habitantes.
Matéria publicada na edição de fevereiro da Revista SuperHiper. Veja edição completa:
https://www.abras.com.br/edicoes-anteriores/Main.php?MagNo=277#page/1
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