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Venda de cervejas premium surpreende mercado

De Administrador SH
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A pandemia trouxe mudanças no market share e acirrou a concorrência entre as cervejas mais caras

Os segmentos de cervejas premium e de preços intermediários têm obtido melhor desempenho do que os rótulos mais baratos. Os resultados do segundo trimestre da Ambev e do primeiro semestre da Heineken reforçaram essa visão. Na Ambev, com marcas como Stella Artois, Corona e Beck’s, a divisão premium teve crescimento de 35% no segundo trimestre ante mesmo período do ano anterior. A marca Heineken, que tem o Brasil como um de seus maiores mercados, viu sua categoria saltar cerca de 25% nos primeiros seis meses do ano.

Com a inflação de alimentos subindo e a renda disponível mais reduzida nas classes mais baixas, os produtos mais populares tendem a encontrar mais dificuldades. Na divisão da carteira desse consumidor, mais dinheiro acaba sendo direcionado a alimentos e outros itens essenciais. Nas classes mais altas, porém, há ainda uma poupança gerada pelo fechamento dos serviços durante a pandemia, impulsionando o consumo do que pode funcionar como uma espécie de indulgência após um momento de restrições. É o caso da cerveja de maior valor agregado.

O grupo Heineken afirmou que a venda de seu portfólio de marcas econômicas, que inclui Kaiser, Schin e Glacial, teve retração de 25% no primeiro semestre ante mesmo período de 2020. O resultado da categoria mais barata e as dificuldades de distribuição encontradas durante a pandemia pesaram sobre o desempenho da subsidiária brasileira, que tem concentrado esforços nas categorias de preços mais elevados e com margens de retorno mais atrativas. Além das premium, o portfólio intermediário, com marcas como Devassa e Amstel, cresceu 27% e 29% ante o ano anterior.

“No Brasil, o volume de cerveja diminuiu marginalmente à medida que continuamos a reequilibrar o portfólio e enfrentar restrições de capacidade”, informou a Heineken em seu relatório de resultados. Globalmente, o volume de cerveja do grupo cresceu 9,6%, com a receita saltando 14%, para € 9,97 bilhões.

No entanto, a administração da empresa afirma haver motivos para cautela, justamente em relação à produção. “Vemos um aumento nos custos das commodities, que, nos níveis atuais, começará a nos afetar no segundo semestre deste ano e terá um efeito material em 2022. No geral, esperamos que os resultados financeiros do ano inteiro permaneçam abaixo de 2019”, afirmou Dolf van den Brink, presidente da Heineken, na teleconferência com analistas. A pressão de custos também foi um alerta do comando da Ambev em sua apresentação ao mercado.

Na visão do analista do Bradesco BBI, Leandro Fontanesi, os resultados da Heineken fornecem uma leitura geral positiva para a Ambev, cuja recomendação do banco para a ação é de compra, com preço-alvo de R$ 21. Ele destaca que a Heineken disse que será “assertiva na precificação” nos próximos trimestres, o que pode significar aumentos de preços para lidar com a pressão de custos e pode abrir espaço para a Ambev também fazer reajustes. A equipe do banco prevê aumentos de 10% para as cervejas da Ambev vendidas no Brasil.

“Em segundo lugar, a Heineken mencionou que ainda enfrenta restrições de capacidade no Brasil e não deu nenhuma clareza sobre quando essas questões serão res olvidas, o que, portanto, parece apoiar nossa estimativa de crescimento de 6% em 2021 para o volume de cerveja da Ambev no Brasil.”

Ao contrário da concorrente, a Ambev não registrou queda no volume total de cervejas no Brasil e, sim, um crescimento de 12,7%, para 20,22 milhões de hectolitros. Foi o maior volume de cerveja de um segundo trimestre na história da companhia. Maior até do que o vendido na Copa do Mundo de 2014, no Brasil.

O avanço do portfólio premium foi classificado por Jean Jereissati, presidente da empresa, como “bom”. “O que vimos durante a pandemia foi justamente a resiliência do core [marcas principais]. O crescimento do premium é algo mais estrutural e de longo prazo. Estamos investindo muito nas marcas antes de qualquer aumento de participação, para de fato ter um negócio sustentável no longo prazo.” Entre as marcas principais da Ambev estão Skol e Brahma.

Jereissati diz que, no entanto, a companhia está empolgada, porque está crescendo rapidamente de “maneira muito sustentável” na categoria premium. “Posicionamento de marca crescendo de maneira sustentável e o aumento de volume vem na sequência”, disse.

Mas parte do mercado acredita que a Ambev deve começar a encontrar uma concorrência mais acirrada. É o que prevê a equipe do Bank of America (BofA). Em relatório publicado dias antes da divulgação de resultados da Ambev, os analistas escreveram que, pelo segundo trimestre consecutivo, a Amstel continuou aumentando a penetração em bares e restaurantes, atingindo 550 pontos de venda dos 5 mil que foram pesquisados, 10% de penetração, enquanto a marca Heineken teve uma taxa de penetração de 43%. De acordo com a equipe, a Amstel é uma ameaça principalmente para a Budweiser, por ter um preço mais baixo.

Ainda de acordo com o BofA, a Heineken é a melhor marca da categoria no canal de bares e restaurantes, estando presente em mais de 40% dos pontos de venda e tem melhorado sua disponibilidade, que encontrou dificuldades no momento mais crítico da pandemia. “Assim, vemos potencial para vendas cruzadas entre as duas marcas.”

A administração da Ambev, porém, segue confiante. O recado de Jereissati na teleconferência com analistas de mercado na semana passada foi de que o crescimento da companhia é estrutural e o grupo não deve perder mercado, mesmo com a volta mais consistente de bares e restaurantes.


Fonte: Por Raquel Brandão, Valor

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