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Mais de 1,3 milhão de brasileiros estão inadimplentes devido a bets

De junho de 2023 a igual mês de 2024, consumidores gastaram cerca de R$ 68,2 bi em apostas esportivas on-line, o que equivale a 0,62% do PIB, 0,95% do consumo total e 22% da massa salarial

De Redação SuperHiper
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De junho de 2023 a igual mês de 2024, os brasileiros já gastaram R$ 68 bilhões em cassinos on-line, as populares bets. O valor representa 0,62% do Produto Interno Bruto (PIB) 0,95% do consumo total e 2% da massa salarial. Como consequência, mais de 1,3 milhão de brasileiros ficaram inadimplentes devido a esse tipo de aposta. Isso deve gerar prejuízo de R$ 117 bilhões por ano no comércio. As informações constam de um estudo recente divulgado pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).

Durante seu discurso de abertura da ABRAS´24 food retail future, maior evento do varejo alimentar brasileiro, que aconteceu em Campinas (SP), de 15 a 17 de setembro, o presidente da ABRAS, João Galassi, mostrou preocupação em relação ao tema. Esse posicionamento foi reforçado em entrevista ao Correio Braziliense, quando Galassi reiterou que isso está gerando a ruína de muitas famílias brasileiras.

De acordo com o vice-presidente financeiro da CNC, Leandro Domingos Teixeira Pinto, o fenômeno das bets já começa a trazer consequências expressivas para o comércio. “O crescimento do volume de apostas está diretamente ligado à perda de poder de compra das famílias, o que afeta toda a economia e o desenvolvimento do País.”

Diante disso, a CNC revisou para baixo a projeção de crescimento do setor varejista em 2024, ajustando de 2,2% para 2,1%. A mudança reflete o impacto negativo causado pelo aumento descontrolado das apostas on-line, que têm comprometido a renda das famílias e redirecionado o consumo para jogos de azar, em vez de bens e serviços essenciais.

Segundo o estudo da CNC, considerando o valor de R$ 68 bilhões gastos em apostas entre 2023 e 2024, o setor varejista enfrenta potencial redução de até 11,2% no faturamento, o que representa uma perda de R$ 117 bilhões por ano. Apenas no primeiro semestre deste ano, a estimativa é que os cassinos on-line já retiraram R$ 1,1 bilhão do comércio.

O material revela ainda que 22% da renda disponível das famílias brasileiras foi destinada às apostas no último ano, gerando uma série de consequências econômicas e sociais. Entre elas, segundo o economista-chefe da CNC, Felipe Tavares, o aumento da inadimplência. Mais 1,3 milhão de brasileiros ficaram inadimplentes por causa disso, segundo o estudo. Tavares ressalta que essa situação afeta especialmente as classes mais vulneráveis. “O público jovem e de baixa renda é o mais afetado. As apostas, que inicialmente parecem uma forma de entretenimento, acabam comprometendo uma parte considerável do orçamento, resultando na inadimplência e na redução do consumo de bens essenciais.”

Desde a aprovação da Lei nº 13.756, em 2018, que autorizou as apostas esportivas, o mercado de apostas on-line, incluindo cassinos virtuais, tem crescido exponencialmente no Brasil. Entre junho de 2023 e junho de 2024, os consumidores gastaram R$ 68,2 bilhões em apostas, valor que já representa 0,62% do PIB nacional. O desvio de parte significativa da renda familiar para apostas tem causado preocupações no setor econômico, especialmente devido à sua natureza desregulada.

Os cassinos on-line, em particular, têm mostrado um perfil de apostadores que levanta ainda mais alertas. Modalidades como o chamado “Jogo do Tigrinho”, popular entre mulheres, têm o potencial de gerar impactos sociais mais profundos, visto que parte desse público é beneficiário de programas sociais e chefe de família. “Isso pode agravar ainda mais o ciclo de pobreza e desigualdade, já que muitos estão utilizando recursos essenciais para apostar”, reforçou Tavares, da CNC.

Ações da ABRAS

Em abril, a ABRAS propôs ao Ministério da Fazenda a taxação das bets com o Imposto Seletivo (IS) na regulamentação da reforma tributária para garantir a ampliação da lista de produtos da cesta básica nacional com zero de imposto. No início de setembro, a ABRAS decidiu alertar as empresas do setor que adotem uma política rigorosa na seleção de agências de marketing e de influenciadores para suas campanhas. A recomendação é evitar profissionais que tenham relação com os jogos de apostas online, as bets.

Novos projetos sobre o tema

De acordo com informações da Rádio Câmara, o deputado Reginaldo Lopes (PT-MG) apresentou projetos para proibir publicidade de jogos on-line e impedir que cartões de crédito sejam usados para pagar as bets.

Para Lopes, os jogos on-line estão “viciando jovens, endividando famílias e atingindo até crianças”. O projeto que proíbe a publicidade das bets, segundo ele, estabelece pesadas multas em caso de descumprimento.

O parlamentar lembrou que há um processo, em curso, de cadastramento destes sites de apostas, feito pelo governo federal. Segundo ele, “as bets estão lucrando muito com a boa fé dos apostadores. Então, precisamos passar um pente fino no setor”. E acrescentou. “É um problema de economia popular.”

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